Carlos Cardoso 6 anos atrás
Animados com o sucesso, depois que polpificaram o HSV-2 Swift, os rebeldes Houthi do Yemen colocaram as asinhas de fora, se por asinhas você entender os mísseis C-802 chineses fornecidos por alguém que de forma alguma é o Irã.
O alvo dessa vez foi o USS Mason, um destróier classe Aleigh Burke, comissionado em 2003. Com 9.200 toneladas, era um alvo suculento para os dois mísseis, e por isso mesmo seus 380 tripulantes estavam alertas, durante sua patrulha no estreito Bab-el-Mandeb, entre o Golfo de Aden e o Mar Vermelho.
Por volta de 7 da noite um operador de radar alertou, em voz alta para ser ouvido dentro do CIC — Centro de Informações de Combate:
“VAMPIRO! VAMPIRO! Detecto dois, confirmando, dois vampiros, direção 25 graus, velocidade Mach 0,9; altitude e RCS indicam míssil antinavio provavelmente um C-802”
O comandante Chris Gilbertson, capitão do Mason com certeza se lembrou do que aconteceu com o Swift alguns dias antes, e imaginou que DOIS C802 estragariam o dia de sua tripulação. Bem, “not today” e o USS Mason tinha mais que quatro metralhadoras .50 para se defender.
Segundo o procedimento ele comandou Postos de Combate, e o sistema de radar Aegis, que normalmente fica em prontidão ou baixa potência, foi acionado ao máximo: 6 megawatts de energia criando uma bolha rastreando tudo em um raio de centenas de quilômetros.
Em uma guerra de verdade ele ativaria as defesas no automático, o computador identificaria e neutralizaria tudo que fosse remotamente hostil, mas o Mason estava em uma das águas mais navegadas do mundo. Afundar um cargueiro da Libéria ficaria feio nos jornais, e ninguém quer repetir a cagada (não tem como amenizar com H essa) quando o USS Vincennes derrubou por engano um Airbus da Iran Air.
As defesas deveriam ser precisas e pensadas. Felizmente o Mason levava em seu arsenal o ápice da tecnologia criada justamente para lidar com esse tipo de ameaça: os Mísseis Anti-Navio da Guerra Fria.
A primeira arma usada foi o RIM-66 SM-2, o Standard Missile Modelo 2 como a Marinha gosta:
O lançador duplo do USS Mason disparou os dois mísseis, que depois de um ou dois segundos de ascenção vertical giraram 90 graus e seguiram em direção ao alvo, guiados pela posição e direção indicados pelo computador do navio. Mais ou menos assim:
O SM-2 viaja em direção ao alvo a Mach 3,5; enquanto isso recebe correções de curso e usa o reflexo do radar do sistema Aegis para refinar a trajetória. Foi a primeira vez na História que um SM-2 foi usado contra o alvo que havia sido projetado para interceptar.
Quando o computador indicou que a solução de alvo de um dos dois mísseis não era 100% garantida, o Mason lançou um RM-162 ESSM Evolved SeaSparrow Missile, projetado para interceptar mísseis supersônicos.
Não era o caso do C-802, mas dado o tempo ficando curto, melhor um míssil rápido do que um lento, e voando a Mach 4+ o ESSM é quase tão rápido quanto más notícias.
Caso tudo desse errado, o USS Mason ainda tinha seu CIWS Phalanx, apelidado pelos marinheiros de R2D2. Completamente autônomo, seu sistema de radar identifica o alvo indicado, calcula ângulo de deflexão, dispara uma rajada, compara a trajetória dos projéteis com a calculada, efetua correções, dispara de novo e continua até o alvo ser neutralizado ou ficar sem munição.
Enquanto isso o que quer que vá em direção ao alvo tem que enfrentar uma chuva de 4.500 projéteis de 20 mm. Por minuto.
Mesmo assim o Phalanx é uma arma de último recurso, e o Comandante Gilbertson ainda tinha uma arma na manga: o Nulka.
Fruto de um projeto conjunto EUA/Austrália, o Nulka é um chamariz ativo. Em essência é um foguete que paira na vertical (chupa Musk, chupa Bezos) e quando lançado voa para uma posição algumas centenas de metros distante do navio. Ele então começa a transmitir uma assinatura de radar suculenta, maior e mais nítida que a do próprio alvo real.
Mísseis são programados para em formações escolher os maiores alvos, isso elimina a chance de reflexos de chamarizes passivos (ui!) e na melhor das hipóteses, melhor afundar um porta-aviões do que um saveiro.
Os relatos iniciais eram de que os mísseis haviam caído no mar, agora é evidente que foram “caídos”. Se foram os SM-2 ou o Sea Sparrow, dificilmente saberemos. No momento há duas certezas.
A primeira é que os marinheiros do USS Mason voltarão para casa com um monte de histórias para contar, e isto aqui no uniforme:
É a fita de ação em combate, outorgada a praças e oficiais que viram a situação ficar preta.
A outra certeza, bem, é que não vai ficar por isso mesmo. A declaração oficial do Pentágono foi:
“Vamos descobrir quem fez isso e tomar atitudes de acordo. Qualquer um que coloque navios da Marinha dos EUA em perigo o faz por sua conta e risco”.
Recado tá dado.