Carlos Cardoso 8 anos atrás
Enquanto milhões de pessoas sensatas celebravam a decisão da Suprema Corte dos EUA, que invalidou as ações proibindo casamento igualitário em vários Estados, um problema se escondia, e nem é o risco alertado por alguns que se o casamento gay for aprovado seremos invadidos por nazistas montados em dinossauros.
O problema afeta diretamente os casais gays em busca de oficializar sua união, e é maior e mais assustador do que qualquer pastor fundamentalista: é a lerdeza estatal em atualizar sistemas.
Do mesmo jeito que o Bug do Milênio exigiu um esforço coordenado de centenas de milhares de profissionais de TI espalhados pelo mundo, a possibilidade de casais do mesmo sexo causa problemas bem maiores do que decidir quem senta aonde nos jantares chiques: os cartórios (estou adaptando) em boa parte dos EUA não estão preparados.
Em 14 Estados não havia casamento igualitário, com a decisão da Suprema Corte agora há, mas os softwares não estão prontos. Nos formulários ainda dá pra riscar, mas na hora de entrar no sistema, só há as opções noivo/noiva.
Alguns softwares não aceitam que você coloque um cidadão do sexo masculino no campo noiva, em outros as autoridades disseram que mesmo que o software aceite, essa inconsistência tornaria o casamento inválido.
Há gente correndo pra acelerar a atualização dos sistemas, mas dada a idade da maioria desses programas, vai demorar. Há contratos de manutenção vencidos, estagiário que sumiu com o código-fonte, gerente chato que não considera prioridade… a lista de empecilhos em potencial é imensa.
A sociedade americana vem mudando rapidamente, em 1996 quase 70% da população era contra casamento gay, esse número caiu pra 50% no final de 2010. Em termos de mudança social isso é um Fórmula 1, mas estamos falando de mudança burocrática.
A melhor sugestão é que já que a união é reconhecida nacionalmente, é melhor os casais viajarem pra outro Estado e se casarem por lá, porque, convenhamos, mudar a opinião pública, enfrentar homofobia institucionalizada, fundamentalistas religiosos, republicanos preconceituosos e uma Suprema Corte dividida é fácil, comparado com esperar que uma repartição pública atualize softwares e papelada.
Fonte: Slate.
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