Carlos Cardoso 9 anos atrás
O antiamericanismo histérico brasileiro normalmente causa apenas divertimento irônico, como o Sakamoto ostentando seu MacBook, mas uma vez ele foi bem cruel. Antes de o Brasil entrar na Segunda Guerra Mundial tínhamos um intenso comércio com os EUA, que dependiam de nossas matérias-primas, como borracha.
Os alemães não gostavam disso, e na Fase Dourada da Batalha do Atlântico, quando as matilhas de u-boats do gênio Karl Dönitz dominavam os mares, qualquer navio levando suprimentos para os EUA era alvo válido. Obviamente sobrou para nossos navios. Em março de 1941, antes mesmo dos EUA entrarem na Guerra, um navio brasileiro foi metralhado pela Luftwaffe, perto do Egito. 13 feridos e um morto. No mesmo ano outro navio, perto do Cabo Verde foi forçado a parar, na base do canhão. Um submarino alemão abordou, invadiu, interrogou e fotografou documentos.
Depois disso o Eixo deixou de ser sutil. Navios brasileiros eram atacados direto, mesmo antes de declararmos guerra, já tínhamos perdido mais de 600 almas em ataques de u-boats. Até o final da Guerra o Brasil contaria com 35 navios atacados, 33 afundados e um número de mortos superior a mil.
Agora a grande sacanagem: a contra-propaganda do Eixo e seus simpatizantes inventou uma lenda de que os navios brasileiros teriam sido atacados por submarinos… norte-americanos, pra nos forçar a entrar na guerra. Você sabe, a guerra que eles mesmos ainda não estavam participando. Essa versão é um desrespeito não só aos marinheiros que lutaram na Marinha de Guerra, como aos que perderam a vida em navios como o Baependi, afundado pelo U-507 em 15 de agosto de 1942, quando ainda éramos neutros.
A ordem emitida dia 7 de agosto de 1942, pelo Comando de Submarinos da Alemanha era para afundar qualquer navio no Atlântico Sul, exceto os chilenos e… argentinos.
Muitos dos mortos nunca foram indenizados, em parte por causa dessa ridícula lenda urbana de que os ataques eram falsos. Isso fez com que muitos políticos com discurso antiamericano se recusassem a culpar a Alemanha. Como resultado até hoje marinheiros do Shangri-Lá, um pesqueiro afundado em 1943 em Cabo Frio, pelo U-199 ainda esperam compensações.
A presença dos U-Boats é fato histórico, comprovado por interceptações de rádio, fotografias, documentos e diários de bordo guardados na Alemanha. Com a entrada do Brasil na Guerra e a escolha da Base Aérea de Natal como sede dos esquadrões anti-submarino dos Aliados, a festa acabou. Ao final da guerra 18 U-Boats foram mandados para o Inferno. Desses a Alemanha reconhece oficialmente 9 afundamentos.
O mais distante deles foi perto de Santa Catarina, no dia 19 de julho de 1943, cortesia de um PBM Mariner da US Navy. Em sua carreira o U-513 afundou 8 navios, entre eles dia 1º de julho de 1943 o pequeno Tutoya, um cargueiro brasileiro de 1.000 toneladas. Partido ao meio por um torpedo, salvaram-se 30 tripulantes. Outros 7 morreram inclusive o Capitão, Acácio de Araújo Faria e o imediato. Por isso peço desculpas se não me preocupo tanto com o U-513 ter perdido 43 tripulantes, de seu complemento de 50.
Esquecido por décadas, o submarino foi reencontrado em 14 de julho de 2011 depois de dois anos de busca por uma expedição composta da Família Schürmann e da Universidade do Vale do Itajaí.
Novas visitas conseguiram imagens, em 2012, e agora algumas foram liberadas. A idéia é transformar tudo em um documentário, que passará condensado em 5 minutos no Fantástico, no Discovery se tiver caranguejos fotogênicos ou no History, se houver algo para leiloar ou um peixe com aparência alienígena.
Fonte: Sala de Guerra, via Poder Naval.