Meio Bit » Arquivo » Internet » Bolha da Web 2.0? Quem é que está com o alfinete?

Bolha da Web 2.0? Quem é que está com o alfinete?

O dia que o Tim O'Reilly definiu o termo "Web 2.0", isso lá pra meados de 2004, a internet começava a descobrir seu verdadeiro potencial. Surge a internet como plataforma: "Vamos aproveitar a inteligência coletiva!"... Sugeriram certos conceitos interessantes naqueles seminários, como o "beta eterno", abertura de

16 anos atrás

O dia que o Tim O'Reilly definiu o termo "Web 2.0", isso lá pra meados de 2004, a internet começava a descobrir seu verdadeiro potencial. Surge a internet como plataforma: "Vamos aproveitar a inteligência coletiva!"...

Sugeriram certos conceitos interessantes naqueles seminários, como o "beta eterno", abertura de API dos sites (que a partir de então não são mais sites, são "serviços"), e também o uso mais abrangente do XMLHTTP (da Microsoft, aliás), que todo mundo conhece hoje como Ajax.

Já tínhamos serviços Web 2.0 desde lá por meados de 2000, 2001. A Wikipedia surgiu nesta época. Em 2004 já não era um fenômeno novo. O que a conferência fez, reunindo vários estudiosos, foi estudar e endossar os sites sobreviventes da bolha da internet e se perguntarem "Porque que estes sites não pereceram, tal qual os demais"? Alguma coisa eles têm, que os fez fazer sucesso.

Pronto. Foi a senha para a explosão dos sites Web 2.0. "Agora alguém descobriu o caminho do pote de ouro", pensou aquele investidor web que estava falido pelos efeitos do estouro da bolha.
A partir daquela conferência (o que não faz muito tempo, aliás), sites inspirados nos preceitos ditados na mesma começaram a aparecer. Alguns deles, você olha e vê que realmente deram certo: Flickr, por exemplo. O MySpace. O Orkut (aqui no Brasil, apenas). Mais recentemente, até o lacônico Twitter ou o Digg. Hoje em dia, sites incorporados no nosso uso habitual da internet, muito aceitos, e, estes sim, valendo bastante: É só ver a quantia que o Google pagou pelo Youtube.

De repente o pessoal redescobriu a internet como plataforma de negócios. Se depois da bolha existia um receio inicial de investimentos na web, depois de um tempo após aquela fatídica conferência, vendo o sucesso de certas cartadas virtuais, o dinheiro voltou. E, tal qual como Serra Pelada (O garimpo), quando apareceu o ouro, todo mundo resolveu tentar a sorte.

Muitas startups começaram a pipocar pela rede afora. Muitas delas cópias pouco modificadas das idéias originais: Alguém lembra do surgimento do Orkut? Como os brasileiros gostaram daquilo? O hype que foi?

Pois agora pergunto pra vocês se alguém aqui lembra (ou usa) o Gazzag (hoje Octopop), o UOLkut (?), o Beltrano do Terra o 1Grau (morto)? NetQi (morto), Clubao (morto), Kibop (morto), Muvuca (morto)?

Quem for procurar vai notar que a maioria destes sites não existem mais, ou mudaram de finalidade. Os que persistem tem poucos usuários, e não geram mais hype.

Não há inovação. Só a vontade de entrar na onda. Os acionistas enxergam o lucro: "Ah, se tá todo mundo indo pro Orkut, vamos lançar nosso Orkut também". Fato que todos esquecem que as pessoas não trocam de rede social como trocam de roupa, e que a maioria não tem disposição para freqüentar muitas ao mesmo tempo.

E isso segue como regra para vários serviços: de mapas, agregador de notícias, mensagens instantâneas... Alguns deles realmente agregam funcionalidades que os originais não têm, é fato; mas a maioria esmagadora só copia a idéia. E nisso a bolha vai crescendo...

Bola de neve

O que isso causa? Divisão. O agregadores de notícias, por exemplo, como o Digg e o del.icio.us (que vai mudar de nome, como a Patrícia noticiou. Sábia decisão): Existem um MONTE deles. Quem não notou, em certos blogs, abaixo dos posts, uma barra com trocentos ícones convidando você a clicar e a compartilhar esta notícia? Isso complica, não? Os dados se fragmentam.

Ah, mas a web 2.0 resolve isso para você! Use o SocialPoster, e insira o mesmo link em todos eles! Note a "pequena" lista de sites disponíveis.

Em breve, aparecerão vários SocialPoster, e alguém criará um "SocialPosterSocialPoster" para postar ao mesmo tempo em vários SocialPoster.

Está confuso tentando seguir seus 7.392.792 amigos virtuais pelos trocentos sites que eles freqüentam? Não há problema. Use o profilactic (???) e tenha a disposição a maior rede social de redes sociais do mundo: São 186 sites suportados.

Essa escala, obviamente, entope a internet de informação repetida. Lembrem-se, a banda da internet tem fim, o armazenamento é caro e o fluxo de dados só aumenta. Mas, antes repetir a exaustão dados "úteis" (ou pelo menos com potencial de serem), do que encher a internet de coisas inúteis, não é mesmo? É, seria isso. Mas diga isso pro povo da web 2.0: Afinal, a Web 2.0 veio para abalar as estruturas! A Web 2.0 é uma revolução.

Os revolucionários

Serviços "interessantes", que parecem saídos de um brainstorm de crianças no recreio do jardim da infância aparecem todos os dias na web 2.0. Afinal, veja como é divertido ficar advinhando a idade das pessoas nas fotos do Agester, por exemplo.

Você tem um hamster, e seu hamster se sente sozinho? Fica lá na gaiola desolado e triste, e você também não está afim de sair do seu quarto para encontrar um amigo pra ele?
Sem problemas! Use o hamsterster. O hamsterster é a primeira (e espero, única) rede social para hamsters fruto da inventividade da Web 2.0. Não fez muito sucesso, como era de se esperar, mas continua lá, firme e forte. Provavelmente feito pelo mesmo cara que criou a fonte "wingdings".

Este tipo de idéia absurda é comum hoje, aonde a pressão para ser original (a tal criatividade exigida pelo mercado de trabalho) acaba encontrando o cara que não tem lá uma grande perspicácia na arte de inventar. Redes sociais para animais são comuns (tem o dogster, e também as temos para crianças, góticos, para neo-nazistas (só a referência, sem link), encontros com presidiárias, gordos...

A criatividade do segregado pela sociedade é o limite. Aliás, limite é algo que a Web 2.0 tem por costume não definir, seja para os desenvolvedores, seja para os próprios usuários.

Limite seus usuários, porque eles não sabem o que fazem.

A PIOR coisa que um site da web 2.0 pode fazer é dar controle excessivo nas mãos do usuário. Felizes são os sites que controlam as alterações de quem os usa, e não permitem os excessos. "Mas não, uma das premissas da Web 2.0 é a interatividade", disseram os donos do MySpace. Quando, por meados de 1999, você imaginou que o poder de edição dinâmica na web, culminaria NISSO, ou NISSO?

Alguém aqui imagina o que seria da pobre web, caso o Orkut permitisse personalizações no layout do perfil?

Aliás, o próprio worstofmyspace também é um site com vocação web 2.0. Como se nota isso? É fácil, pelo formato.

Formato?

Você reconhece um site web 2.0 de cara. É só olhar certas características em comum.

Viu um logo com fontes modernas? Sem serifa? Tons pastéis? Cores chapadas ou gradientes suaves? Viu um "beta" bem pequenininho, escondido perto do mesmo? Pronto, acho um site Web 2.0. E você nem precisa se esforçar para criar o logo da sua próxima startup: use o Web 2.0 logo creator, um site da web 2.0 que... cria logos para a web 2.0.

O site geralmente mantém o minimalismo do logo. A tática que inicialmente era para poupar os servidores de um grande overload usando imagens e estilos complexos, foi imitada pelos designers à exaustão: Sempre tons pastéis com cinza clarinho, uma sombrinha aqui e ali, e pronto.

Mesmo sendo minimalista, qual o problema do site ser pesado, não é mesmo? Afinal, o processador está aí para ser usado, correto? Sites como a rede social "all in wonder"Wixi estão aí para levar seu pobre Core 2 Quad ao limite: Tudo é arrastável, clicável, "transparenciável"; até aquilo que podia muito bem ficar lá no lugar estático dele, sem incomodar ninguém.

API aberta. Todo desenvolvedor deve poder desenvolver seu site web 2.0 usando as ferramentas do seu site Web 2.0, que provavelmente usou alguma ferramenta de outro site web 2.0, que, por sua vez, provavelmente usou algo da API do Google. Claro que ninguém pensa no efeito de um dos sites no meio da salada fechar. Mashup é a palavra da vez.

É importante também o site possuir widgets. A barra lateral dos blogs é o lar perfeito para a proliferação desta espécie: Eles fazem barulho, eles se mexem, eles incomodam quem não tem nada a ver com isso, mas, estão lá. Nem que seja um bonequinho 3d esquisito e cabeçudo, que se resume a dançar. Ou uma tagcloud com palavras relativas a comida.

Falando em tags... A moda agora são as tags. Não importa aonde elas vão.

Frases de efeito. Buzzwords. Filosofia de web 2.0 é o novo Nietzsche: "Post anything. Customize everything". "Socialize everything", "Everything anything".

Ajax. Requisição HTTP normal é tão semana passada... Se não vemos aquelas bolinhas girando como sinal de loading, o site já perde o crédito. Se seu site não possui as bolinhas de loading girando, crie uma no AjaxLoader, ferramenta da web 2.0 que permite a criação rápida de bolinhas que giram para loading.

Nomes? Essa é a parte mais legal. Oyogi, Utterz, Plurk, Jaiku, Tumblr, Quechup, Xanga...

Alguém resolveu no meio dessa balbúrdia toda, definir que “nomes pequenininhos e silábicos são legais”. Mas se esqueceram que o alfabeto tem um número limitado de letras... Hoje, as combinações de 6 letras estão acabando, e a tendência é que os nomes piorem, pelo menos até a bolha estourar.

Bolha?

"Ah, não tem bolha!" Dirão alguns. "Isso é exagero!", dirão outros. "Fala baixo", dirão os donos das novas startups. Eu não sei se vocês conhecem o deadpool do techCrunch, que reúne as startups que já se foram. Lá pro fim de maio, por exemplo, a startup de vídeos Akimbo fechou. Quanto o Akimbo levou junto com ele? 56 milhões de dólares. Sim, US$ 56,000,000 foram vaporizados junto com o serviço: Recupera-se o que de uma startup falida? Nada. Não tem bens físicos, não tem massa falida, não tem nada.

É um investimento de altíssimo risco. Todos sabem. E mesmo assim, o pessoal continua investindo feito louco. Não foram poucas as notícias aqui no próprio Meio Bit, aonde "fulano compra sicrano por uma quantia astronômica". Boa parte deles são sites que não possuem anúncios. De vez em quando um adsense. Considerando que programador também come, de onde vem o dinheiro?

Investimentos. Muitos. Executivos doidos para terem sua startup. Se todo esse investimento não gerar retorno, o que nos resta?

Há uma linha de pensamento que trabalha com uma espécie de "geladeira da globo" para websites. Os sites seriam comprados por grandes quantias, geralmente por portais, aonde o preço se dá pela idéia, e não pela própria empresa: Isso lemos aqui mesmo no próprio MeioBit. Mas há certos fatores não esclarecidos a se pensar acerca, como o fato do Google pagando bilhões num Youtube, mesmo tendo um serviço idêntico e funcional.

Esse vídeo aqui mostra que eu não estou sozinho nesta linha de pensamento.

A que destino será que esta onda da Web 2.0 nos leva? Estamos voando na bolha sem saber usar o GPS?

Ah, mas Você não tem um site web 2.0? Não tem problema. Crie um no weebly, a ferramenta da web 2.0 para criação de sites web 2.0.

Fontes:

Businessweek, Walleywag, Micropersuasion, Techcrunch, e intensivamente usada, a Internet Wayback Machine, já que startup nascer e morrer é algo mais efêmero do que salário mínimo.

relacionados


Comentários