j. noronha 10 anos atrás
Encerrou-se no último sábado a 14ª edição do Fórum Internacional de Software Livre, o FISL, realizado na PUC, em Porto Alegre, e o Meio Bit esteve lá dando uma conferida, na figura desse que vos fala.
Além das figurinhas fáceis de sempre, como Richard Stallman, fundador do Movimento Software Livre, e Jon "Maddog" Hall, Diretor Executivo da Linux Internacional, o fórum contou com a presença de Tobias Andersson, um dos fundadores do Pirate Bay, e de Mitch Altman, hacker e inventor do TV-B-Gone (aparelho de controle remoto que desliga praticamente qualquer modelo de televisão e é um achado pra levar para restaurantes que insistem em transmitir a novela).
Na chegada me assustei com o tamanho da fila para retirar o crachá, mas felizmente o balcão que atendia a imprensa não tinha fila e em menos de 5 minutos já estava com a credencial em mãos.
Fui direto para o debate sobre compartilhamento de arquivos, Copyfight: muito além do download grátis, centralizado no livro organizado por Adriano Belisário e Bruno Tarin, Copyfight: Pirataria & Cultura Livre (Azougue Editorial, 2012).
Depois da apresentação da mesa e do livro por Belisário, que por sinal se estendeu infinitamente mais do que o necessário, foi a vez de Tobias Anderson, que começou com um "disclaimer" de que não tem mais nenhuma relação com o Pirate Bay há 4 anos, enfatizando que isso era uma precaução legal, o que arrancou risos da plateia, já que até as pedras da rua sabem que ele é uma espécie de relações públicas do famoso site sueco.
Ele contou como o site começou como uma brincadeira, em resposta à criação da Svenska Antipiratbyrån (Agência Sueca Anti-Pirataria) em 2001.
A agência foi criada quando praticamente não existia pirataria na Suécia, então criamos o site para que eles tivessem o que combater. Nosso plano era brincar por uns 2 anos, mas o crescimento do Pirate Bay foi enorme e deu no que deu.
Ao contrário da crença popular, a menor das preocupações é com as famigeradas MPAA E RIAA, associações norte-americanas com tentáculos mundo afora que defendem direitos autorais de filmes e músicas.
O maior problema ainda está por vir, hoje uma impressora 3D custa caro, mas em pouco tempo qualquer um terá uma em casa, e aí é que veremos as indústrias realmente poderosas entrando no jogo, quando as pessoas começarem a imprimir armas e peças de automóveis piratas em casa.
Tobias Anderson era o destaque da mesa, mas quem roubou a cena foi Tadzia de Oliva Maya, ativista da agroecologia e autora do artigo "Sementes e comunidades copylefts", parte do livro Copyfight. Ela lançou luz sobre uma questão muito mais importantes do que download de filmes e músicas: a semente livre.
Nada de conversa para vegetarianos ou hipsters procurando alimentos orgânicos, o problema é muito maior, real e imediato. Empresas como a multinacional Monsanto estão patenteando sementes mundo afora, fazendo alterações genéticas e processando quem por ventura ouse piratear seu produto. Essas sementes são estéreis, obrigando o agricultor à comprá-las ano após ano. Além de estéreis, algumas variantes só germinam se utilizado um fertilizante especial (um doce para quem adivinhar quem produz o mesmo).
Não está longe o dia em que você não poderá plantar um pé de milho, por exemplo, sem pagar royalties, essa é a dimensão que está tomando a manipulação de sementes. - Tadzia de Oliva Maya
Credito da imagem: reprodução.
Bobina de Tesla construída por Grégory Gusberti, estudante de engenharia eletroeletrônica, fez sucesso. De hora em hora o público fez fila para receber uma descarga de 700 mil volts em uma gaiola de Faraday.
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Óculos "psicodélico", que simula o uso de drogas, no Hackerspace, capitaneado por Mitch Altman.
Essa edição do FISL foi predominantemente técnica. Com exceção de algumas palestras sobre utilização de software livre na educação e da apresentação de alguns cases de sucesso, a imensa maioria foi direcionada a iniciados, como a de Jon "MadDog" Hall sobre gerenciamento de sistemas GNU/Linux.
E parece que o número de iniciados só cresce. Indiscutivelmente o maior fórum de software livre do Brasil e um dos maiores do mundo, a edição desse ano contou com 7.214 participantes de 21 países e de todos os estados do país.