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Marinheiros americanos instalam Starlink ilegalmente em navio

Starlink é muito legal, mas não é muito esperto agir como os suboficiais de um navio de guerra, que instalaram uma antena para acessar streaming...

03/09/2024 às 19:57

Starlink está sendo uma bênção para o povo embarcado, seja em plataforma de petróleo, seja em navios mercantes, e mesmo em navios de cruzeiro, onde os hóspedes estão tendo acesso internet muito mais rápido e de melhor qualidade do que antes, mas em alguns casos o povo abusa.

USS Manchester (Crédito: US Navy)

Antes do lançamento da versão móvel da Starlink, vários usuários já instalaram o equipamento em barcos, com grande sucesso, apesar na versão terrestre não ser indicada para uma instalação em movimento constante. Esse sucesso acabou gerando problemas, que remontam há muito no passado.

Durante a Segunda Guerra Mundial, em 1943, um congressista americano chamado Andrew J. May foi visitar as tropas americanas no Pacífico. Conheceu muita gente, foi bem-recebido, voltou para casa com uma ótima impressão.

Aí, em Washington, durante uma entrevista, esse imbecil resolveu se gabar, e comentou que os japoneses eram burros, eles estavam lançando suas cargas de profundidade muito no raso, e os submarinos americanos conseguiam mergulhar mais fundo do que os japas imaginavam.

Isso, claro, saiu nos jornais. Antes que a tinta secasse, já estava sendo telegrafado para Tóquio. Estima-se que devido a May, os EUA tenham perdido pelo menos 10 submarinos e 800 tripulantes. Ele nunca foi punido.

Para o resto dos mortais, silêncio era fundamental, isso era reforçado em campanhas constantes, tanto em cartazes...

Cartazes de Guerra (Crédito: Domínio Público)

Quanto nos extremamente populares desenhos animados do Recruta Snafu, passados em filmes de treinamento para os soldados:

Com marinheiros embarcados, a segurança era mais fácil. Ninguém tinha acesso a rádios, e a correspondência era física e censurada, cada carta era examinada por especialistas, que rasuravam as partes problemáticas mais rápido que um Jovem™ chocado assistindo Friends.

Durante a Guerra Fria a coisa relaxou bastante, mas áreas estratégicas, como submarinos, eram bem controladas. O único acesso à comunicação que os submarinistas tinham eram os chamados “Famíliogramas”, mensagens de inicialmente 15, e mais tarde até 50 palavras, trocadas entre os tripulantes e seus familiares.

Quando, e SE o submarino estivesse em uma situação em que pudesse transmitir sem problemas, as mensagens eram recolhidas, examinadas e censuradas, e enviadas para a base. Mensagens para o submarino eram igualmente recebidas, examinadas e entregues aos tripulantes.

Até hoje essa prática é mantida, a Marinha Real do Reino Unido, em um ato de generosidade, estendeu o tamanho da mensagem para 60 palavras.

Nos navios é mais tranquilo, a maioria consegue usar celulares quando estão próximos a portos, e alguns navios fornecem conectividade limitada para telefones e até internet, em tempo de paz, claro.

Infelizmente o povo quer sempre mais, e foi o que aconteceu com o USS Manchester, um Navio de Combate Litorâneo da Marinha dos EUA, em missão no Pacífico Ocidental.

Mal-acostumados, os suboficiais a bordo não queriam ficar como a peãozada, sem internet, então, sob o comando da suboficial Grisel Marrero, eles conspiraram.

Suboficial Grisel Marrero, a dona do WIFI (Crédito: US Navy)

Fizeram uma vaquinha, e compraram um terminal Starlink, particular, pessoa física.

Na cara dura, instalaram a antena no mastro do navio, batizaram a rede de STNKY e Marrero passou a controlar quem tinha acesso ao Wi-Fi, basicamente ela e os outros suboficiais, que compraram a antena em março de 2023.

O roteador ficava no refeitório dos suboficiais, e a rede era mantida em segredo, mas num navio nada é segredo muito tempo, os boatos começaram a correr.

Enquanto isso Marrero comprou e instalou repetidores, para a rede funcionar no navio inteiro, o que violava mais ainda todas as regras de controle de emissões eletromagnéticas, tornando o navio um alvo fácil para o inimigo.

Alguns marinheiros desconfiaram, e começaram a pressionar Marrero, que desconversava. A história chegou até a Capitão Colleen Moore, comandante do Manchester.

Collen Moore, Capitão do USS Manchester (Crédito: US Navy)

Questionada, Marrero negou a existência da rede. O Primeiro-Oficial fez buscas duas vezes, mas não achou o access point, que a essa altura já havia sido renomeado para parecer uma impressora WIFI.

A casa só foi cair quando o USS Manchester recebeu uma antena StarShield, a versão militar da Starlink, e os técnicos instalando repararam “ué, já tem uma antena aqui”, fotografaram e enviaram para a Capitão.

Marrero tentou, durante as investigações, dar a entender que a Capitão havia autorizado o Starlink, mas não colou. Ela pegou uma corte marcial, foi condenada e rebaixada dois postos, para nível E7, os outros envolvidos foram punidos, mas pegaram penas menores.

É seguro dizer que Marrero deu sorte, nunca mais vai subir de posto, mas não perdeu a pensão, apenas destruiu e estagnou sua carreira. Também deram muita sorte dos EUA não estarem em guerra, coisas ruins poderiam ter acontecido.

Fonte: Navy Times

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