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DoJ quer dividir Google em até quatro empresas menores

Após ser considerado monopólio, Departamento de Justiça dos EUA estuda fragmentar o Google, fazendo do Android, Chrome, e Ads novas empresas

14/08/2024 às 10:53

O Google como conhecemos hoje pode deixar de existir num futuro próximo: no dia 5 de agosto de 2024, o juiz federal Amit P. Mehta, da Corte Distrital de Columbia, Washington D.C., decidiu, em alinhamento com o entendimento do Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DoJ), que a gigante de tecnologia e serviços é um monopólio, e agiu como tal para garantir o domínio do Search no mercado de motores de busca.

O Google contesta obviamente a decisão, e embora vá recorrer, o DoJ já se prepara para os próximos passos, que inclui inclusive dar o "tratamento Bell System" à empresa de Sundar Pichai: dividir a gigante em companhias menores, desmembrando as divisões Android, Chrome, ou Ads, ou todas elas, criando assim até quatro companhias menores.

Governos estão apertando cada vez mais as big techs; a bola da vez é o Google, do CEO Sundar Pichai (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Governos estão apertando cada vez mais as big techs; a bola da vez é o Google, do CEO Sundar Pichai (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Google é monopólio e pode ser desmembrado

O processo, aberto contra o Google em 2020, alega que a empresa usou de táticas ilegais para garantir o domínio artificial do Search no mercado, incluindo pagar altas cifras para concorrentes em hardware e software, como Apple, Samsung e Mozilla, para que estas não desenvolvessem motores próprios e privilegiassem o seu, à frente de adversários como Microsoft Bing, Yahoo!, e DuckDuckGo, entre outros.

O objetivo é simples: ao remover do usuário a opção de escolher qual motor de busca ele quer usar na primeira execução (o que é padrão na União Europeia), seja no Android, iPhone, ou um navegador como o Firefox, o Google ganha com a inércia do usuário médio, que não troca o buscador padrão por preguiça, ou não sabe fazê-lo, para garantir o domínio das buscas e estrangular os adversários.

Claro que não há santos nessa história, a Microsoft faz igual com o Windows, em que o navegador Edge e o buscador Bing são o padrão na primeira execução, mas a gigante de Mountain View não tem adversários no mesmo nível: ela abocanha mais de 91% do mercado de buscas (dados de outubro de 2023), contra 3% do motor da empresa de Satya Nadella.

O Google se defende, dizendo que o Search é o líder de mercado porque "é o melhor que existe", o que até é verdade, mas "um monopólio existe porque alguém está fazendo um bom trabalho, e isso não é ruim" é uma falácia. Qualquer companhia em situação de dominância incontesta de um setor é livre para ditar normas e requerimentos para que parceiros e usuários tenham acesso a seus produtos e serviços, o que inclui dar o preço que quiser, que nunca é justo.

É para isso que processos antitruste existem, para garantir a concorrência e o livre mercado, e não permitir que uma única companhia, ou um conluio de várias delas, ditem as regras do mercado, e impeçam concorrentes menores de crescerem. Além do Google, outras gigantes do Vale do Silício, como Apple, Amazon, e Meta, também enfrentam processos similares aos que a Microsoft encarou nos anos 1990.

Voltando ao Google, um dos pontos principais para justificar o monopólio da empresa, é como a companhia administra o Android. Por padrão, as fabricantes parceiras (OEMs) são forçadas a instalarem o navegador Chrome e a definirem o Search como padrão, e a remoção desses apps pelo usuário é impossível, salvo usando métodos alternativos para quebrar a segurança do sistema operacional móvel (root).

Google Play Store no Android (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Google Play Store no Android (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Isso faz do robozinho o alvo preferencial do DoJ. Na segunda fase do processo, o órgão norte-americano deverá apresentar alternativas ao Google para que a empresa se adeque à Lei, sendo a mais radical a venda ou desmembramento de divisões internas, onde o Android seria o primeiro da lista, seguido pela divisão Chrome (navegador, plataforma Chromium, ChromeOS e derivados), e Google Ads, antigo Adwords (anúncios).

Em outras palavras, a gigante pode acabar sendo obrigada judicialmente a vender uma das divisões, ou duas delas (Android e Chrome as mais prováveis), ou mesmo todas as três, com o Google ficando restrito apenas ao motor de busca; o YouTube é uma companhia à parte, sob o guarda-chuva da holding Alphlabet Inc.

O Google poderia vender as divisões para terceiros, ou fechar um acordo para um total desmembramento, onde Android, Chrome, e Ads se tornariam novas empresas menores, e totalmente independentes, assim como aconteceu com o antigo Bell System, administrado pela AT&T até 1982, dividido em várias "Baby Bells".

Outra opção, menos provável e mais conciliadora, seria forçar o Google a ser mais transparente com os dados que coleta através de motor de busca e cruzamento de dados com o Ads, passando a compartilhá-los ou licenciá-los, inclusive com concorrentes como o Microsoft Bing, que segundo o processo do DoJ, captura 16 vezes menos informações que o Search. Este e outros motores, como o DuckDuckGo, são impedidos de acessá-los, conforme contratos do Google com anunciantes e fabricantes de dispositivos móveis.

Por fim, o DoJ também pode forçar o Google a acabar com a regra que proíbem sites de impedirem que seus conteúdos sejam coletados pelo AI Overview, e usados para treinar o Gemini, sua solução de IA generativa, criada para concorrer principalmente com a OpenAI, esta financiada pela Microsoft.

Procurado, o Google não comentou o assunto.

Fonte: Bloomberg, The New York Times

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