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Elon Musk vs. iPhone, culpa da parceria Apple/OpenAI [ATUALIZADO]

Elon Musk ameaça banir iPhone de suas empresas, após Apple anunciar integração com o ChatGPT; motivo não é só preocupação com segurança

11/06/2024 às 12:37

ATUALIZAÇÃO: pouco tempo depois deste texto ir ao ar, Elon Musk desistiu do processo movido contra a OpenAI (cuidado, PDF), sem fornecer maiores explicações.

O texto foi atualizado.


Elon Musk não curtiu muito o keynote da Apple desta segunda-feira (10), que revelou uma série de novidades para o iOS 18, a próxima versão do sistema operacional do iPhone. Fora algumas novidades "revolucionárias", como a adição do app Calculadora no iPadOS, seu sistema "co-irmão" para a linha iPad, a Apple anunciou a integração a seus sistemas do ChatGPT, um dos principais produtos da OpenAI, companhia que ele ajudou a fundar e financiou, nos seus primórdios.

Em declaração dada em seu perfil no X, o bilionário dono da Tesla Motors e SpaceX disse que, caso a parceria entre a maçã e a OpenAI não seja revista, ele banirá os produtos da Apple em todas as suas companhias, citando preocupações com a segurança de dados.

Elon Musk diz que ChatGPT no iPhone é uma vulnerabilidade, mas há outros motivos envolvidos (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Elon Musk diz que ChatGPT no iPhone é uma vulnerabilidade, mas há outros motivos envolvidos (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Em se tratando que Musk mais de uma vez expressou seus temores quanto à evolução da Inteligência Artificial (IA), há um fundo de verdade em suas palavras, mas convém lembrar que o executivo tanto está investindo em seus próprios modelos, como ele e a OpenAI estavam até recentemente se enfrentando nos tribunais, no que a segunda o acusou de tentar assumir o controle da empresa.

Elon Musk não curtiu ChatGPT no iPhone

Durante o keynote, a Apple explicou que a parceria com a OpenAI permitirá integrar o ChatGPT à Siri, que está sendo reformulada com base em ferramentas desenvolvidas em casa, em um conjunto que a maçã chamada de Apple Intelligence (quão sutil...).

A gigante não entregou as chaves na mão da OpenAI, ao invés disso, o iOS 18 e Siri gerenciam as consultas, e só quando concluem que o ChatGPT pode ajudar, o sistema oferece ao usuário a opção de recorrer ao chatbot, ou não. Isso foi feito, segundo a Apple, por priorizar a segurança do usuário em primeiro lugar, ao mesmo tempo que sabe muito bem que as ferramentas oferecidas pela parceira têm fome infinita de dados.

A Apple JURA que "nenhum dado do usuário é armazenado na nuvem" (insira o meme "confia" aqui), mas é fato que modelos generativos dependem deles, e como a maçã ainda não desenvolveu o seu modelo próprio, ela vai jogar pelas beiradas, até para não ficar muito atrás da Microsoft, que abraçou a IA e a OpenAI com força, e hoje é a companhia mais valiosa do mundo.

Claro, como tudo que envolve a Apple, as soluções de IA serão disponibilizadas apenas nos produtos mais novos e de ponta, no caso, os iPhones 15 Pro e 15 Pro Max, e a futura linha iPhone 16, além de iPads e Macs equipados com chips M1 e posteriores. O iOS 18 chegará a aparelhos bem antigos, do iPhone XS e XR em diante, mas no ChatGPT for you, compre um modelo mais recente.

ChatGPT será integrado à Siri e outras soluções, e será usado ao lado de ferramentas da casa (Crédito: Divulgação/Apple)

ChatGPT será integrado à Siri e outras soluções, e será usado ao lado de ferramentas da casa (Crédito: Divulgação/Apple)

Onde Elon Musk entra nessa história, então?

Pouco após o keynote da Apple, ele publicou uma postagem no X, dizendo que a integração do ChatGPT ao iOS e demais sistemas da Apple é "uma violação de segurança inaceitável", e caso a companhia de Tim Cook prossiga com esse plano, Musk ordenará o banimento de dispositivos da maçã em todas as suas companhias, da rede social à Tesla, SpaceX, Neuralink, Hyperloop, e The Boring Company.

Resumidamente, seus funcionários terão que trocar por aparelhos rodando Windows (que tem MUITO mais integração com soluções da OpenAI do que o anunciado pela Apple, mas divago), Linux, ou Android.

E  foi além, dizendo que visitante terão que deixar seus iGadgets na recepção das mesmas, onde eles ficarão trancados em "uma gaiola de Faraday", para impedir comunicações externas, até a saída de seus donos das dependências de suas companhias.

Não é de hoje que Elon Musk demonstra ter pavor do desenvolvimento descontrolado da IA, ele chegou a pedir uma moratória para congelar todas as pesquisas na área, mas como sempre, o buraco é mais embaixo.

Dono do X tentou controlar OpenAI

Primeiro, Elon Musk não tem tanto medo da IA a ponto de não investir ele mesmo na tecnologia. Em março de 2023 ele fundou a xAI, sua própria startup voltada ao desenvolvimento de grandes modelos de linguagem (LLMs), um contraponto direto à OpenAI, e vem fazendo alguns experimentos no X, com o chatbot Grok, de uso restrito, óbvio, aos assinantes do plano Premium.

Segundo, como já dissemos, Musk foi um dos co-fundadores da OpenAI, e chegou a processar a empresa e o CEO Sam Altman por, segundo o argumento apresentado, "se distanciar" do objetivo original, que seria prover soluções de IA em caráter aberto, visando o progresso da humanidade.

Ao invés disso, a OpenAI fechou acordos comerciais e assegurou parcerias muito lucrativas, incluindo com a Microsoft, que detém 49% das ações da OpenAI Global, LLC, sua porção privada; a empresa original, OpenAI Inc., continua sendo uma ONG, mas controla os 51% restantes da subsidiária.

O objetivo de Musk era melar o acordo com a Microsoft, de modo a declarar o GPT-4 e derivados como IAs Gerais ou Fortes, a que faz tudo que um humano faz (Roger Penrose, em seu livro A Mente Nova do Imperador, defendeu que isso é impossível, e agora há indícios de que ele está certo); dessa forma, a parceria seria anulada.

Entrada do escritório da OpenAI no Edifício Pioneer, em São Francisco, EUA (Crédito: Christie Hemm Klok)

Entrada do escritório da OpenAI no Edifício Pioneer, em São Francisco, EUA (Crédito: Christie Hemm Klok)

No entanto, a OpenAI rebateu as acusações de Musk, dizendo que o movimento para minar a empresa era movido basicamente por vingança: mesmo como co-fundador, ele investiu só US$ 45 milhões do próprio bolso no início, deixando para a companhia captar mais US$ 90 milhões; quando ficou claro que o investimento para o desenvolvimento de uma IA Forte exigiria muito mais grana, o conselho decidiu pela estruturação da porção privada.

Musk não só não se opôs à ideia, como exigiu para si o controle da OpenAI assumindo o cargo de CEO, além de participação majoritária, e controle total do corpo de diretores, essencialmente o seu modus operandi imposto a todas às suas demais companhias, exceto a SpaceX, porque a NASA não vai, e nunca foi, com a cara dele.

A ideia de Musk para a OpenAI seria para que a Tesla a absorvesse, de modo a ter o financiamento necessário, e a empresa acabasse se convertendo na "vaca-leiteira" da montadora, nas palavras do próprio. Quando Altman e os demais membros do conselho recusaram a proposta, Musk saiu da empresa, dizendo que investiria em IA "por conta própria".

De qualquer forma, por motivos não explicados, Musk decidiu abandonar completamente o processo; o provável é que, por orientações de seus advogados, ele percebeu que não só não tinha um caso sólido, como o Judiciário, que sempre demonstrou tremenda má vontade com ele, tinha mais chances de pender para o lado oposto.

Elon Musk, OpenAI e Sam Altman não se manifestaram a respeito.

A rusga com a Apple seria, em partes, mais um desdobramento dessa celeuma, com Musk mordido pelos acordos comerciais que a OpenAI vem assegurando, no que entende ser ele quem deveria estar no comando, não Sam Altman. O grande problema, Tim Cook também não vem comprando as bravatas do bilionário, há algum tempo.

No mais, resta a pergunta: Musk vai mandar remover todos os PCs Windows de suas empresas?

Fonte: Business Insider

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