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IA: Macron quer França concorrendo com EUA e China

Presidente da França diz que país pode desafiar o domínio "insano" de EUA e China no setor de IA, citando Mistral AI e H como competidoras

27/05/2024 às 10:53

O presidente da França, Emmanuel Macron, conclamou as companhias de Inteligência Artificial (IA) do país a não ficarem para trás na competição, especificamente dos Estados Unidos e da China que, sob sua ótica, exercem um domínio "insano" no setor, e não podem continuar sozinhos na dianteira.

A declaração aproveitou o bom momento das companhias locais, como Mistral AI, perto de ser avaliada em US$ 6 bilhões, um ano após sua fundação, e H (ex-Holistic), que recentemente recebeu um investimento de US$ 200 milhões; ambas foram posicionadas por Macron como as candidatas para concorrer com OpenAI e cia.

Macron quer Mistral AI e H (ex-Holistic) como competidoras sérias de OpenAI e IAs da China (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Macron quer Mistral AI e H (ex-Holistic) como competidoras sérias de OpenAI e IAs da China (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

França quer fatia no mercado de IA

Nos últimos meses, a França vem se apresentando como um "celeiro" de companhias de IA na Europa, graças a um investimento pesado do governo para fomentar a competição, garantir a liderança do país em relação aos demais membros da União Europeia (UE) e nações vizinhas externas, como o Reino Unido, e se posicionar como um competidor sério frente às empresas dos EUA e da China, que também contam com apoio ou investimento estatal, direto ou indireto.

O esforço do governo Macron fez com que a França se tornasse um terreno fértil para startups focadas em IA, graças às benesses oferecidas. Holistic, hoje H, e Mistral AI foram as mais beneficiadas, no que a segunda é uma startup incrivelmente jovem, tendo sido fundada em abril de 2023 (a H iniciou as operações em 2020).

O sucesso da Mistral AI, que lhe permitiu receber aportes volumosos em pouco tempo, se deve ao histórico de seus fundadores: Arthur Mensch trabalhou no Google DeepMind, divisão de IA que alcançou novos patamares anos atrás, enquanto Guillaume Lample e Timothée Lacroix são egressos da Meta; todos os três vieram da École polytechnique, uma das mais conceituadas faculdades de Engenharia e Ciências da Computação da Europa.

Durante entrevista ao canal CNBC, Emmanuel Macron disse que "a Europa precisa de grandes players" no setor de IA, e que "a Mistral pode ser um deles"; ele também citou a H e seu comprometimento de se estabelecer na capital Paris, onde a Mistral AI já se encontra, e que "é insano um mundo onde as grandes empresas venham sempre e apenas dos EUA e China".

No entanto, o presidente francês reconhece que o país está para trás na corrida; na verdade, no Top 10 das maiores empresas de tecnologia do momento (IA e tudo o mais), nenhuma é europeia; temos 8 norte-americanas (na ordem, Microsoft, Apple, Nvidia, Google, Amazon, Meta, Broadcom e Tesla), uma taiwanesa (TSMC, na 7.ª posição), e uma chinesa (Tencent, a 10.ª colocada).

A empresa da Europa mais bem posicionada na lista, na 11.ª colocação, é, para surpresa de ninguém, a neerlandesa ASML, que vem enfrentando problemas graças a pressões dos EUA, sancionadas pelo governo dos Países Baixos, para remover a China de sua lista de clientes; as únicas companhias francesas no Top 100 são a Schneider Electric (energia e automação), no 28.º lugar, e a Dassault Systèmes (desenvolvimento de software), na 67.ª posição.

Macron entende que a França (e a UE no geral) está bem atrás na disputa pelo mercado de IA, e dessa forma, seu governo está tomando medidas diferentes para fomentar o setor interno, mesmo em comparação a seus pares no bloco europeu, no que a Lei de IA, cujos primeiros parâmetros entrarão em vigor em junho de 2024, até a implementação total em 2026, é bem rígida.

Para isso, seu gabinete implementou uma série de reformas econômicas e trabalhistas, a fim de estimular o mercado, mas que não estão agradando uma parcela da população, por privilegiar empresas e os ricos do país, inclusive garantindo investimento das gigantes de fora, enquanto enfraqueceu direitos trabalhistas, para tornar o país competitivo em IA.

Ao mesmo tempo, Macron não está alheio ao desenvolvimento da Inteligência Artificial por outros países-membros da UE, e mencionou um plano para "europeizar" a tecnologia, inicialmente com uma iniciativa franco-germânica, mas centrada em país, no que o presidente defende que "a Cidade-Luz se tornará a Cidade da Inteligência Artificial".

Não é segredo que todo mundo está correndo atrás da IA, o pote de ouro no fim do arco-íris do momento, mas é preciso ser realista, as grandes companhias do setor estão todas concentradas nos EUA e China. Os modelos da Mistral AI, como o Mixtral 8x22B (aberto, e você pode baixar aqui), e as APIs Mistral Small, Medium e Large são promissores, sendo que esta última, segundo a startup, só perde para o GPT-4, mas isso foi antes da OpenAI lançar o GPT-4o, muito mais avançado que seu antecessor.

Entrada do escritório da OpenAI no Edifício Pioneer, em São Francisco, EUA (Crédito: Christie Hemm Klok)/ia

Entrada do escritório da OpenAI no Edifício Pioneer, em São Francisco, EUA (Crédito: Christie Hemm Klok)

Como sempre, concorrência é bom para todo mundo e estimula a competição, mas a França e Macron vão ter que dar muitos pulos para que suas companhias de IA despontem como concorrentes sérios das grandes já estabelecidas; nesse sentido, a parceria com a Alemanha seria a melhor estratégia para alcançar seus objetivos.

Fonte: The Next Web

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