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UE barra compra da iRobot pela Amazon. Pior para o Roomba

UE considerou compra da iRobot pela Amazon "anticompetitiva"; a ironia, fabricante do Roomba original não consegue competir com chineses

01/02/2024 às 10:50

Na última segunda-feira (29), a Amazon e a iRobot, fabricante da linha Roomba, os robôs aspiradores de pó originais, anunciaram o fim do acordo em que a primeira compraria a segunda, por US$ 1,4 bilhão. A desistência do negócio se deu por pressão dos reguladores da União Europeia (UE), que o barraram por considerá-lo "anticompetitivo".

O naufrágio das negociações complicou ainda mais a situação da iRobot, que vem perdendo mercado há anos para os competidores, principalmente da China: a empresa passará por uma reestruturação massiva, que inclui a saída do atual CEO, e a demissão de 31% de seu quadro de funcionários.

Produtos Roomba à venda em loja de departamentos de Union City, Califórnia; ações da iRobot caíram 19% após Amazon desistir da compra (Crédito: David Paul Morris/Bloomberg)

Produtos Roomba à venda em loja de departamentos de Union City, Califórnia; ações da iRobot caíram 19% após Amazon desistir da compra (Crédito: David Paul Morris/Bloomberg)

O aspirador de pó-robô é, sem sombra de dúvidas, o autômato doméstico mais bem-sucedido já desenvolvido até o momento. Ele cumpre com eficiência e eficácia a função para a qual foi designado, que é limpar o chão da sua casa, fazendo uso de escovas e esfregões. O Roomba e concorrentes mapeiam a estrutura do imóvel, de modo a otimizar suas rotas, e uma vez que a energia está no fim, o robozinho se encaminha até a base de recarga.

Os primeiros rascunhos do que seria o aspirador-robô foram concebidos pelo engenheiro Joe Jones em 1989, quando ele ainda estava no MIT, mas ele só conseguiu financiamento para tocar o projeto em 1999, quando a iRobot se interessou e assegurou um investimento da S. C. Johnson. O primeiro modelo do Roomba chegou às lojas em 2002, e virou uma sensação.

Por muito tempo, a única coisa com a qual ele não conseguia lidar é o cocô, seu inimigo mortal. Levaram uns bons anos até modelos premium da iRobot e concorrentes começarem a vir com câmeras e LIDAR, o que os tornou capazes de identificar os "presentinhos" deixados no caminho por animais de estimação, e desviar deles.

Com o passar do tempo, o nome Roomba se tornou sinônimo da categoria de produtos aos quais pertence, tal qual certas marcas de esponjas de aço e iogurtes, mas a verdade é que as finanças da iRobot não andam bem há mais de uma década. A partir de 2014, a concorrência se tornou mais intensa, na forma de produtos vindo principalmente da China. Em 2016, a participação da fabricante norte-americana no mercado era de 64%; em 2020, ela era de 46%.

Empresas como Dreame Technology (linha DreameBot), Deebot (linha Ecovac), e Xiaomi (linha Roborock), entre várias outras, vêm lançando aspiradores-robô muito similares aos produzidos pela iRobot, que cumprem as mesmas funções ou até oferecem algo a mais (foram os chineses os primeiros a implementar a tecnologia anti-cocôs, por exemplo), por preços muito próximos ou até menores. A local SharkNinja e até a Samsung também competem no setor.

A dona do Roomba tentou se escorar no prestígio do nome e o fato de ter sido a primeira, mas isso não foi o bastante, e o resultado foi a queda nas vendas. O acordo para a aquisição da iRobot pela Amazon era basicamente uma boia de salvação para a empresa, mas tinha uma Margrethe Vestager no meio do caminho.

Outrora inovador, o Roomba não vence a concorrência dos modelos chineses, que fazem o mesmo, ou mais, cobrando menos (Crédito: Jennifer Pattison Tuohy/The Verge)

Outrora inovador, o Roomba não vence a concorrência dos modelos chineses, que fazem o mesmo, ou mais, cobrando menos (Crédito: Jennifer Pattison Tuohy/The Verge)

Em novembro de 2023, a Comissão Europeia para a Competição anunciou sua decisão preliminar de não permitir que a aquisição da iRobot fosse adiante. No documento, o órgão regulador argumenta que a Amazon faria uso da marca Roomba, e o fato de atuar em todas as cadeias de produção (verticalização), para esmagar os concorrentes, sem notar que estes já estavam lentamente matando a fabricante do Roomba. Além disso, havia o temor que o conglomerado parasse de vender produtos competidores, ou reduzisse sua visibilidade, a fim de priorizar a prata da casa.

Há de se levar em conta que a Amazon adquiriu várias empresas responsáveis por produtos domésticos inteligentes, como a Blink em 2017 (câmeras), a Ring em 2018 (segurança doméstica), e a Eero em 2019 (roteadores mesh); é possível que a Comissão tenha considerado evitar que a gigante centralize todas as soluções de Internet das Coisas em suas mãos.

A Amazon tinha até o dia 10 de janeiro de 2024 para apresentar alternativas e concessões a fim que a aquisição fosse aprovada, o que não foi feito, e mesmo tendo ela sido aprovada no Reino Unido, como os europeus não deram um parecer favorável, e a gigante do e-commerce não moveu uma palha (provavelmente, por não querer se dar ao trabalho), a compra não foi permitida prosseguir.

Como resultado, a Amazon pagará à iRobot uma multa de US$ 94 milhões, que não vai servir para muita coisa, visto que a fabricante pegou um empréstimo de US$ 200 milhões em 2023; a empresa projetou perdas entre US$ 265 milhões e US$ 285 milhões para o 4.º trimestre do último ano, e anunciou uma massiva reestruturação.

O co-fundador Colin Angle, atual CEO e presidente, está deixando a companhia, e será substituído interinamente por Glen Weinstein como executivo-chefe, e Andrew Miller na presidência. Não obstante, 350 funcionários, que respondem por 31% da mão-de-obra da iRobot, serão demitidos até março de 2024.

A decisão da UE ao impedir que a Amazon absorvesse uma marca referência no setor, mesmo não sendo mais líder de mercado há tempos, privou a iRobot de se tornar verdadeiramente competitiva; de fato, a Comissão pode muito bem ter desferido um golpe mortal na fabricante do Romba, agora enrolada até o pescoço com dívidas e poucas vendas, e claro, muitos trabalhadores também sairão prejudicados nessa história, ao perderem seus empregos.

Fonte: The Verge

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