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Starfield: uma tela vale mais que mil palavras?

Após desenvolvedor dizer que simplicidade da tela inicial do Starfield seria relaxo ou fruto de crunch, Pete Hines saiu em defesa dos seus funcionários

35 semanas atrás

Desenvolver um jogo é uma tarefa extremamente complexa, a ponto de muitos considerarem um pequeno milagre qualquer projeto chegar a ser concluído. Por isso, é natural que algumas partes recebam menos atenção do que outras e no caso do Starfield, um desenvolvedor acredita que a tela de abertura do jogo da Bethesda serve como indicativo do quanto a equipe teve que correr nos últimos meses de produção.

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Arte conceitual do Starfield (Crédito: Divulgação/Bethesda)

Tendo passado a maior parte da sua carreira na Blizzard, Mark Kern participou da criaçào de jogos como Diablo II, StarCraft e World of Warcraft, além de ter fundado o Red 5 Studios. Trata-se de uma pessoa com bastante experiência na indústria e que utiliza sua conta no Twitter X para falar sobre o desenvolvimento de videogames.

No último final de semana, ele chamou a atenção de muita gente ao publicar uma imagem que mostrava a tela inicial do Starfield e explicar o que acredita ser o motivo para ela ser tão simples. Ele disse:

“A fisionomia das telas iniciais.

A tela inicial de um jogo pode revelar muito sobre o quão apressada uma equipe estava e quanto de orgulho ela tinha do seu trabalho. A tela inicial do Starfield mostra prazos de envio apressados por uma sobrecarregada equipe apaixonada, ou uma equipe que não se importava.

A tela inicial é geralmente feita no final do desenvolvimento. As equipes estão muito ocupadas criando o jogo principal. É bastante comum que a tela inicial mude completamente quando o jogo é lançado ou no patch 0. As equipes que se orgulham querem apresentar uma boa cara, e muitas vezes, a refazem pouco antes do jogo ir ao ar.”

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O motivo de tanta discórdia (Crédito: Reprodução/Mark Kern)

O que o game designer possivelmente não imaginou era que ele estava colocando a mão em um vespeiro. Apontado por muitos como o projeto mais promissor da Besthesda desde o lançamento do Fallout 3, Starfield tem sido aguardado ansiosamente há bastante tempo e mesmo num ano repleto de ótimos lançamentos, a expectativa é que ele seja um dos melhores.

Assim, não demorou para Kern começar a ser criticado por várias pessoas, inclusive com algumas partindo para ataques pessoais, citando, por exemplo, os equívocos que ele cometeu em sua carreira e o levou a ser “expulso” do estúdio que fundou.

E entre aqueles que não gostaram da opinião de Mark Kern, está Pete Hines, chefe de publicação e um dos principais nomes da Bethesda Game Studios. Citado num comentário irônico em que o autor dizia para da próxima vez a desenvolvedora “não se apressar criando tantos sistemas, facções, escolhas e maneiras de jogar”, mas sim em uma tela inicial, o executivo respondeu:

“Ou eles projetaram o que queriam e aquilo é o nosso menu por anos e foi uma das primeiras coisas que decidimos. Ter uma opinião é uma coisa. Questionar se desenvolvedores se ‘importam’ porque você teria feito diferente é altamente não-profissional vindo de outro ‘desenvolvedor’.”

Ver um posicionamento público tão firme como o de Hines não é algo comum, mesmo sabendo que alguém em tal posição nunca jogaria seus comandados aos leões. De qualquer forma, o apoio à resposta tem sido amplo, com muita gente defendendo que o executivo colocou Mark Kern no seu devido lugar.

Arte conceitual do Starfield (Crédito: Divulgação/Bethesda)

Numa época em que se discute tanto a prática de submeter profissionais a abusivas horas extras durante o desenvolvimento de jogos, consigo entender a suposta preocupação na crítica de Kern. No entanto, a maneira como ele se posicionou não foi boa, principalmente ao sugerir que a tal simplicidade poderia não passar de desinteresse daquelas pessoas.

Da maneira como foi feito, seu comentário passou a impressão de não ser nada além de um ataque sem fundamentação. Há até quem o interpretasse como uma mera forma de engajamento — algo motivado pelo sistema de monetização que a rede social de Elon Musk estaria implementando.

Talvez nunca saibamos ao certo qual foi a real intenção do pessoal da Bethesda ao criar a tela inicial do Starfield, muito menos o que queria Mark Kern ao realizar sua publicação. Mas aquilo que me deixa mais intrigado é a dificuldade que muitos possuem em aceitar a visão proposta por um autor.

Eu posso não gostar de uma ideia implementada num jogo, filme ou livro, mas será que tenho o direito de exigir que aquilo tivesse sido feito de maneira diferente? Será que estaria correto ficar revoltado por o Final Fantasy XVI não possuir batalhas por turnos, por uma personagem ser musculosa ou outra morrer, ou até mais irrelevante, a tela inicial do Starfield não ter sido feita cheia de informações visuais, só para parecer mais elaborada?

Eu não vejo problema nas pessoas reclamarem em redes sociais sobre uma obra de entretenimento, isso se chama liberdade de expressão. O que me incomoda são as campanhas — orquestradas ou não — para atingir diretamente aqueles que trabalham na área, quase sempre ignorando a vontade do autor, independentemente de ela não ser do nosso agrado.

Tela inicial do The Last of Us (Crédito: Reprodução/Youtube/Naughty Dog)

Talvez Mark Kern esteja repleto de razão e um dia descubramos que a tela inicial do Starfield foi feita às pressas ou as pessoas que a criaram não lhe deram a menor importância. Mas e se Pete Hines estiver correto? E se eles simplesmente queriam criar algo minimalista? Onde estaria o nosso direito em exigir algo diferente?

Telas iniciais de jogos como The Last of Us, Portal 2, Alien: Isolation e Xenoblade Chronicles foram feitas desta maneira e estão entre as mais bonitas que conheço, então, onde estaria o problema se surgiram por preguiça ou falta de tempo?

No mais, acredito que isso é o menos importante num jogo e se os funcionários do Starfield sofreram com a sua produção, merecem toda a sua solidariedade. Agora, deduzir isso a partir de uma tela título? Desculpe Mr. Kern, mas talvez você tenha mirado no alvo errado.

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