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Raspberry Pi poderá receber chips de IA da Sony

Sony Aitrios oferece computação de borda para aplicações de IA locais, executadas no Raspberry Pi sem depender da nuvem

1 ano atrás

A SSS, divisão de semicondutores da Sony, anunciou nesta quarta-feira (12) que pretende fazer um investimento estratégico na Raspberry Pi Foundation, a organização responsável pela família de SBCs (computadores de placa única) Raspberry Pi.

Seu objetivo é expandir o alcance das aplicações de Inteligência Artificial (IA) para a Internet das Coisas, aos oferecer às plaquinhas a possibilidade de trazerem embarcados os chips Aitrios, para a implementação de soluções usando computação de borda, localmente e sem depender da nuvem.

Divisão de semicondutores da Sony quer plataforma Aitrios integrada aos produtos da Raspberry Pi Foundation (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Divisão de semicondutores da Sony quer plataforma Aitrios integrada aos produtos da Raspberry Pi Foundation (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

No anúncio publicado no site PR Newsvire, que veicula informes corporativos de diversas fontes, a SSS diz que o investimento, ainda não concretizado, é voltado a integrar modelos de IA nas plaquinhas da fundação britânica, com recursos de detecção de imagem e reconhecimento facial, permitindo aos diversos modelos do Raspberry Pi rodar aplicações que hoje, o SBC não pode fazer por conta própria.

Terushi Shimizu, CEO da SSS, diz que a oportunidade de investimento na Raspberry Pi Foundation, que deve se converter em uma parceria de longo prazo, proverá aos desenvolvedores, fuçadores, programadores, entusiastas e hobistas, em geral, "uma experiência de desenvolvimento única", no que os produtos passariam a ser equipados com recursos de IA de ponta.

Hoje, nas mãos de alguém que sabe o que está fazendo, o Raspberry Pi é uma senhora ferramenta, que pode ser usado para filtrar anúncios em sua rede doméstica, em projetos de robótica, e até com astrofotografia. Seu custo baixo, com modelos que não ultrapassam a marca dos US$ 100 (na civilização; Brasil não é parâmetro para nada), e com alguns muito baratos, o tornaram um produto acessível para muita gente, justificando seu uso como um desktop barato, ou uma máquina de emulação de games antigos.

No entanto, pesquisadores e companhias reconhecem que o Raspberry Pi pode fazer mais. De fato, algumas das aplicações especializadas envolvendo a plaquinha giram vira e mexe em torno de IA, sistemas especialistas, etc., respeitando suas limitações de hardware. Em geral, ela depende da internet para processar grandes quantidades de dados, o que o SoC da Broadcom não consegue fazer localmente. Mas e se isso não fosse um problema?

Muitos anos atrás, o time de Aprendizado de Máquina e Otimização da Microsoft bateu nessa mesma tecla. Ofer Dekel, o líder do departamento (óbvio que hoje eles está trabalhando com o novo Bing), implementou no Raspberry Pi 3 uma aplicação de IA local, ligado ao sistema de irrigação do jardim da sua casa, para disparar os sprinklers sempre que um esquilo entrasse no campo de visão da câmera.

O segredo? Microcontroladores.

Ofer Dekel, da Microsoft, exibe microcontrolador usado para "libertar" o Raspberry Pi da net (Crédito: Divulgação/Microsoft)

Ofer Dekel, da Microsoft, exibe microcontrolador usado para "libertar" o Raspberry Pi da net (Crédito: Divulgação/Microsoft)

A proposta é bem simples: componentes dedicados, extremamente miniaturizados e dotados de código-fonte próprio, preciso e muito enxuto, podem ser acondicionados em projetos de hardware para controlar rotinas de IA, processando tudo localmente, sem ter que alocar o SoC para isso, nem ter que depender de uma conexão constante à internet. Ganha-se em tempo de processamento e em consumo de banda.

Essa arquitetura distribuída é o que chamamos de computação de borda (edge computing): ao invés de depender de servidores para o trabalho pesado, todo o processamento é executado localmente via microcontroladores dedicados, com a conexão à rede sendo usada apenas para a transferência dos dados já trabalhados, ao mesmo tempo que o hardware principal fica livre para rodar outras funções.

Na época, Dekel defendia o uso dessa abordagem para não só diminuir a dependência de dispositivos de IoT da rede, mas também para promover a proliferação das soluções de IA para mais produtos, mesmo os mais limitados, no que a rede seria apenas uma redundância, e não o cérebro por trás do processamento bruto.

A proposta da Sony vai pelo mesmo caminho, mas dando um passo que a Microsoft não quis dar, investindo diretamente na Raspberry Pi Foundation. Exemplos para usos de processamento local envolvem monitoramento e tratamento de vídeos em tempo real, inclusive para segurança doméstica, além de controle de estoque, monitoramento de clientes em lojas, outras mais voltadas a órgãos públicos, como reconhecimento de placas de trânsito, e ainda outras de nível corporativo, como o que a empresa chama de "análise detalhada de empregados".

Sobre as questões práticas envolvendo a parceira, no que diversas questões serão levantadas a respeito da privacidade dos usuários, a Sony diz que os chips Aitrios "só enviam metadados" à companhia, e que toda a análise bruta é mantida localmente.

Ainda assim, desde o anúncio oficial muita gente está com o pé atrás, apesar das possíveis vantagens de contar com microcontroladores de IA dedicados nos próximos Raspberries Pi. Episódios passados, desde a fundação contratando um ex-policial espião, à Microsoft lançar um repositório do Visual Studio sem aviso, também não ajudam. Isso tem levado muita gente a considerar alternativas ao produto, como os concorrentes das rivais Orange Pi e Banana Pi, entre outros.

Caso a parceria com a Sony seja concluída, resta ver como os próximos produtos da Raspberry Pi Foundation, com os chips Aitrios, irão se comportar; se houverem problemas, a comunidade vai descobrir em dois tempos.

Fonte: PR Newswire

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