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FUD do dia: seu Raspberry Pi está ligando para a Microsoft

Raspberry Pi OS recebeu um novo repositório da Microsoft para facilitar uso do Visual Studio na plataforma, o que enfureceu os freetards

3 anos atrás

A Raspberry Pi Foundation despertou a ira da ala freetard de seus usuários: uma atualização recente da distro Linux Raspberry Pi OS (antiga Raspbian), voltada para os vários modelos do Raspberry Pi, o SBC mais popular da atualidade, adicionou um repositório da Microsoft, como forma de facilitar a instalação e uso do ambiente de desenvolvimento do Visual Studio em seus produtos.

Parte dos usuários estão acusando a Raspberry Pi Foundation de "traidora do movimento" de código aberto, ao se aliar com o "grande inimigo", mas a verdade é que tudo não passa de uma tempestade num copo d'água.

Da esq. para a dir.: Raspberry Pi 4 de 8 GB de RAM, Raspberry Pi 4 de 4 GB e Raspberry Pi 3; à frente, Raspberry Pi Zero W (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Da esq. para a dir.: Raspberry Pi 4 de 8 GB de RAM, Raspberry Pi 4 de 4 GB e Raspberry Pi 3; à frente, Raspberry Pi Zero W (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Tudo começou quando a Rapsberry Pi Foundation decidiu dar mais suporte a usuários do RPi que usam a plataforma para desenvolver com o Visual Studio Code (VS Code), que é suportado tanto pelo Windows, quanto macOS e Linux. Embora incomum, há quem use as ferramentas de programação da Microsoft nas várias variantes do SBC, e pensando neles, a fundação resolveu facilitar as coisas.

A única mudança realizada foi a inclusão do arquivo vscode.list na pasta /etc/apt/sources.list.d. Ele adiciona o endereço http://packages.microsoft.com/repos/code na lista de repositórios, com as fontes stable e main. Ele não instala absolutamente nada em seu sistema, apenas facilita o processo para quem deseja usar o VS Code. Antes do repositório oficial, usar o editor em um RPi exigia alguns passos extras por conta do usuário.

Conforme explicado por Gordon Hollingworth, diretor de Engenharia de Software da Raspberry Pi Foundation, a modificação no Raspberry Pi OS visa única e simplesmente oferecer um canal oficial para quem usa as ferramentas da Microsoft, mas a ala freetard, para quem a gigante de Redmond é o inimigo a ser derrotado junto com o macOS, em um futuro onde o Linux irá dominar os desktops (não vai acontecer), o ato de incluir um repositório de terceiros, e especificamente da Microsoft, foi visto como uma traição à comunidade de código aberto.

Para os freetards, a presença do repositório poderia permitir à Microsoft espiar o que usuários fazem ou empurrar anúncios do Bing, quando na realidade a extensão do que a companhia pode fazer é bastante limitada. E eles sabem disso, mas preferem jogar com o FUD (Fear, Uncertainty and Doubt, ou Medo, Incerteza e Dúvida).

Na impossibilidade da Microsoft fornecer pacotes próprios para substituir oficiais através de uma chamada, outra carta que os freetards estão usando, tal jogada seria imediatamente identificada e barrada, levando à ruína de todos os esforços que a empresa vem fazendo com o Linux e iniciativas de código aberto nos últimos anos, que não são poucos.

Durante evento em 2014, Nadella surpreendeu com o "Microsoft ama o Linux" (Crédito: James Niccolai/Twitter)

A Microsoft não jogaria o casamento com o Linux fora por tão pouco (Crédito: James Niccolai/Twitter)

Mesmo assim, muitos estão pulando fora do barco e abandonando o uso de desenvolvimento para a plataforma, taxando a Raspberry Pi Foundation de companhia traidora e mercenária (o que é risível, visto todas as contribuições da Microsoft), tudo por causa de uma linha para um repositório, que não instala absolutamente nada sem que o usuário queira, e nem pode espioná-lo.

Alguns menos radicais reconhecem que a inclusão não afeta em nada a operação dos Raspberries Pi, mas insistem que a fundação não deveria nem cogitar a mudança em primeiro lugar, preferindo que ela se concentrasse apenas em fontes de empresas 100% abertas.

É bom lembrar que no passado, os freetards azucrinaram a Raspberry Pi Foundation até que ela abrisse o código da GPU VideoCore da Broadcom, usada nos SBCs. O movimento visaria repetir a atitude, o que não vai acontecer, como Hollingworth já explicou, para que usuários do VS Code possam usá-lo de uma maneira simples. Na pior das hipóteses, a plataforma pode perder apoio massivo dos desenvolvedores open source, o que pode condenar diversos projetos.

"OK, mas eu não quero nada da Microsoft no meu Raspberry Pi"

É um direito seu, e você tem algumas opções.

A primeira e mais radical é deixar de usar o Raspberry Pi OS, ou qualquer outra distro baseada nele (como o Retropie), e trocar por alternativas como Ubuntu, por exemplo. A segunda, mais simples, é remover o arquivo vscode.list da pasta /etc/apt/sources.list.d.

A terceira e definitiva, caso você não queira que próximas atualizações voltem a incluir o arquivo, é fazê-lo apontar para o nada.

Para isso, faça o seguinte:

  1. Abra o Terminal;
  2. Acesse a pasta /etc e abra o arquivo hosts;
  3. Inclua a linha "127.0.0.1    packages.microsoft.com"  (sem aspas);
  4. Salve e feche o arquivo.

Feito isso, qualquer requisição do sistema ao repositório da Microsoft fará com que o Raspberry Pi OS cheque a si mesmo, anulando qualquer acesso ao repositório do VS Code.

Crédito: Ars Technica, Gizmodo.

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