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NASA: estudos confirmam sucesso da missão DART

Quatro estudos diferentes confirmam resultados positivos da missão DART da NASA, ao desviar asteroide com impacto direto

1 ano atrás

A NASA lançou em 2021 a missão DART, um teste para a avaliar a eficácia de usar impactadores espaciais, movidos a velocidades extremas e portando cargas de material denso, como ferramentas para desviar asteroides potencialmente perigosos, em casos onde podem entrar em rota de colisão com a Terra.

O teste da DART foi bem-sucedido, ao atingir em cheio o asteroide Dimorphos em setembro de 2022, e não muito depois disso, confirmou que a órbita do mesmo foi alterada. Agora, começam a surgir artigos confirmando os dados da NASA, e adicionando mais detalhes.

Representação artística da missão DART em rota de colisão com o asteroide Dimorphos (Crédito: NASA/Johns Hopkins APL/Steve Gribben)

Representação artística da missão DART em rota de colisão com o asteroide Dimorphos (Crédito: NASA/Johns Hopkins APL/Steve Gribben)

Hoje nós dispomos de poucas técnicas para proteger a Terra de corpos celestes perigosos. Infelizmente, contar com a ajuda do Bruce Willis não é mais uma opção, e outras em estudo como usar motores, ou mesmo tinta, implicam em desafios complexos.

A opção nuclear, embora tenha demonstrado resultados positivos em simulações recentes, não passa disso, um exercício de cálculo baseado em probabilidade, e ninguém sabe como um asteroide pode se comportar na vida real.

A única opção que temos hoje, totalmente viável e ligeiramente escalável, é o que a NASA chama de impactador cinético, a base do programa DART. De modo resumido, você carrega uma sonda com um material incrivelmente denso, e acelera a uma velocidade extrema em direção a um asteroide.

Graças ao bom e velho Newton, sabemos que a força do impacto da sonda é determinada pela sua massa multiplicada pela aceleração, e ela possui um impactador de 610 kg. A velocidade de impacto foi mensurada em 22.531 km/h, ou 6,26 6.258 m/s; o alvo escolhido foi Dimorphos, um asteroide de 177 metros de diâmetro que compõe o sistema binário 65803 Didymos, primeiro porque qualquer alteração neste poderia ser percebida analisando sua órbita ao redor de Didymos A, de 780 m de diâmetro.

Segundo, a proximidade e seu tamanho o tornaram candidatos ideais para o teste do DART, e também por não estar em rota de colisão, tampouco uma colisão mudaria seu curso a ponto dele passar a ser considerado um risco. Uma vez selecionado o alvo, a sonda foi lançada via Falcon 9 no dia 24 de novembro de 2021.

Às 09:21 de 26 de setembro de 2022, horário de Brasília, o impacto da sonda DART foi confirmado pela NASA, com uma força similar a de uma bomba nuclear. Sim, tem vídeo.

NASA não esperava resultado tão bom

Para a NASA, a missão seria considerada um sucesso se a órbita de Dimorphos fosse alterada em no mínimo 73 segundos, mas os resultados superaram todas as expectativas: no que ele originalmente levava 11 horas e 55 minutos para dar uma volta ao redor de Didymos A, após o impacto, o tempo caiu para 11 horas e 23 minutos.

Sim, o DART causou uma redução de 32 minutos na órbita do asteroide, um tempo 25 vezes maior do que o limiar; a NASA esperava que o impacto causasse uma alteração de pelo menos 7 minutos, valor igualmente superado pela realidade. Segundo a agência, o efeito de recuo causado pela ejeção de destroços, dispersados pelo impacto, foi bem maior. Ponto para Newton, de novo.

Agora, começaram a surgir estudos paralelos, que estão analisando e confirmando os dados coletados pela NASA através da sonda parceira LICIACube, um cubesat italiano que se destacou antes do impacto e enviou imagens da DART acertando o asteroide, bem como de outros observatórios, como os telescópios Hubble e James Webb.

O primeiro deles detalha que uma missão de impactadores pode ter sucesso mesmo em casos de desviar corpos celestes realmente perigosos, quando planejada com anos ou décadas de antecedência, o que aumentaria as chances, mas mesmo em uma situação sem avaliação prévia, como descobrir um asteroide em rota de colisão a meses de distância, o DART pode prover resultados positivos significantes.

No segundo, dados coletados de outras duas fontes confirmaram o desvio na órbita de Dimorphos, na redução dos mesmos 33 minutos de sua duração. Já um terceiro confirmou que a transferência de momento linear foi instantânea, com a velocidade do asteroide reduzida de pronto em 2,7 mm/s; com o tempo, a ejeção de material respondeu por mais transferência de energia do que a sonda DART em si, que serviu como catalisador.

Por fim, o quarto estudo levantou discussões sobre o que podemos aprender sobre a formação de cometas no Sistema Solar, visto que Dimorphos é agora um "asteroide ativo" com uma nuvem de detritos em sua órbita, formando uma cauda que se estende por 9.656 km.

A missão DART foi importante para confirmar a viabilidade de desviar asteroides da Terra em rotas perigosas, com sondas prontas para desferir porradas em quem chegar perto. Para nossa sorte, não há nada no horizonte minimamente perigoso para nós, o que permitirá à NASA e demais agências especiais refinarem a tecnologia, tornando-a mais robusta e pronta para, quem sabe, encarar até mesmos pedregulhos capazes de desencadear Eventos de Extinção em Massa.

Claro, a opção ideal seria iniciar os planos para colonização de outros planetas, mas isso ainda vai demorar bastante.

Referências bibliográficas

DALY, R.T., ERNST, C.M., BARNOUIN, O.S. et al. Successful Kinetic Impact into an Asteroid for Planetary Defense. Nature (2023), 1.º de março de 2023. Disponível aqui;

THOMAS, C.A., NAIDU, S.P., SCHEIRICH, P. et al. Orbital Period Change of Dimorphos Due to the DART Kinetic Impact. Nature (2023), 1.º de março de 2023. Disponível aqui;

CHENG, A.F., AGRUSA, H.F., BARBEE, B.W. et al. Momentum Transfer from the DART Mission Kinetic Impact on Asteroid Dimorphos. Nature (2023), 1.º de março de 2023. Disponível aqui;

LI, JY., HIRABAYASHI, M., FARNHAM, T.L. et al. Ejecta from the DART-produced active asteroid Dimorphos. Nature (2023), 1.º de março de 2023. Disponível aqui.

Fonte: Missão DART (NASA)

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