Ronaldo Gogoni 2 anos atrás
"Super Terra" é um termo usado por cientistas para classificar um exoplaneta com potencial para abrigar vida, e humanos em um futuro (muito) distante; ele apresenta condições semelhantes às da Terra, no que o "super" aponta para um corpo celeste maior.
TOI-1452 b, identificado por um time internacional de pesquisadores, em um estudo liderado pela Universidade de Montreal, no Canadá, é uma dessas Super Terras, mas apresenta um detalhe curioso: sua massa sugere se tratar de um planeta completamente coberto de água, com a porção sólida sendo muito menor do que a da Terra.
TOI-1452 b foi identificado graças ao uso do telescópio espacial TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite), desenvolvido para mapear uma área do espaço 400 vezes maior do que o que a missão Kepler conseguia observar, em conjunto com equipamentos em solo. O exoplaneta foi localizado na constelação de Dragão, a "apenas" 100 anos-luz de distância, orbitando uma anã-vermelha de um sistema binário.
A estrela em questão, nomeada obviamente TOI-1452 (os nomes dos exoplanetas identificados sempre seguem a nomenclatura das estrelas, com sufixos em ordem alfabética), é ligeiramente mais fria do que o Sol, mas a órbita do planeta está dentro da chamada Região dos Cachinhos Dourados, na distância ideal para ter água em estado líquido, abrindo a possibilidade de sustentar vida.
No entanto, TOI-1452 b tem sua cota de particularidades. Primeiro, seu período de revolução, em que ele completa uma volta em torno de sua estrela, ou seja, seu "ano" (nota: não se sabe de onde o termo "translação", que está errado, veio), é de apenas 11 dias. Segundo, embora seja maior e tenha mais massa sólida que a Terra, sua densidade não é equivalente.
Segundo os pesquisadores, vários exoplanetas identificados recentemente possuem valores de densidade que só são explicados, se boa parte de sua massa total for composta de materiais mais leves do que os encontrados na porção rochosa da Terra.
O elemento candidato a ser o mais abundante, claro, é água; analistas estudaram os dados e deduziram que ela responde por impressionantes 30% da massa do exoplaneta, enquanto é apenas 0,05% da Terra.
Não é preciso pensar muito para aceitar a possibilidade de um exoplaneta que contenha um único, vasto e profundo oceano. Alguns dos satélites naturais de Júpiter e Saturno, como Europa (onde não devemos ir) e Encélado, possuem enormes quantidades de água debaixo de suas grossas crostas congeladas, formadas devido a enorme distância entre eles e o Sol.
A diferença entre eles e TOI-1452 b, claro, é este estar em uma região que impede os oceanos de congelarem. Por outro lado, há muito pouca possibilidade de que hajam porções de terra firme nele. É água até onde a vista alcança, e nada mais.
De acordo com Charles Cadieux, graduando e membro do Instituto de Pesquisa em Exoplanetas (iREx) da Universidade de Montreal, o novo corpo celeste é o candidato provável a de fato ser o primeiro mundo oceânico devidamente identificado, mas há também a possibilidade de TOI-1452 b ser um exoplaneta rochoso comum com uma atmosfera muito leve, composta de hélio e hidrogênio, ou mesmo não ter nada disso e ser só um planeta-anão como Ceres, o primeiro asteroide identificado.
No mais, a atual posição de TOI-1452 b o torna um candidato a objeto de estudo do Telescópio Espacial James Webb, assim, poderemos saber em breve detalhes sobre a composição de sua atmosfera (se houver uma), e no caso dele ter só água para todo lado, avaliarmos se, caso ele se tornar uma possível opção para colonização, se precisaremos mandar barcos com nossas naves.
P.S.: Eu podia ter citado Kamino, mas preferi referenciar um filme ruim just for the lulz.
CADIEUX, C. et al. TOI-1452 b: SPIRou and TESS Reveal a Super-Earth in a Temperate Orbit Transiting an M4 Dwarf. The Astronomical Journal, Volume 164, N.º 3, 28 páginas, 12 de agosto de 2022. Disponível aqui.
Fonte: NASA, Popular Science