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Quem diria, Bill Gates acabou investindo em foguetes

Bill Gates, através de uma de suas empresas de fomento, investiu uma grana considerável em uma startup de foguetes

2 anos atrás

Bill Gates e foguetes em geral não se misturam. Não é segredo de ninguém que Bill despreza projetos de vaidade como a Virgin Galactic de Richard Brason ou a Blue Origin de Jeff Bezos, e não enxerga com bons olhos a SpaceX. Para Bill bilionários devem gastar seu dinheiro para resolver problemas da Terra. Ele está errado, claro.

No passado Bill Gates foi mais associado ao Espaço. (Crédito: Reprodução Internet)

Ironicamente, Paul Allen, um dos cofundadores da Microsoft era o extremo oposto de Gates. Allen investia pesado em ciências, ele foi um dos financiadores da SpaceShipOne, nave projetada por Burt Rutan e que ganhou o Prêmio Ansari X, ao se tornar a primeira nave comercial a atingir o limiar do espaço.

Allen também investiu na Stratolaunch Systems, uma empresa que iria lançar foguetes de um avião, como a Orbital fazia e a Virgin Orbit também faz, hoje em dia. Com a diferença que eram extremamente ambiciosos, e acabaram construindo o maior avião do mundo. Infelizmente Paul Allen morreu, o financiamento secou e a Stratolaunch Systems se descobriu sem um foguete para acoplar a seu avião.

O Strato,aunch é grande bagarai, só carece de um foguete. (Crédito: Stratolaunch)

Bill Gates por sua vez investe em idéias mais mundanas, como privadas eficientes, reatores nucleares de nova geração e lasers para matar mosquitos, mas nada espacial. O curioso é que ele não deixa de se beneficiar dessa tecnologia. TODAS as pesquisas dele, projetos de campanhas de vacinação, controle de pragas e acompanhamento de plantações, tudo usa dados obtidos via satélite.

Mesmo assim, ele foge de investimentos nessa área. Ou melhor, fugia. Uma das organizações criadas por Bill, a Breakthrough Energy Ventures investiu US$65 milhões na Stoke Space, que você com toda certeza nunca ouviu falar.

Hoje nos EUA se você atirar uma pedra em qualquer direção, acerta uma startup aeroespacial, e a Stoke Space não é diferente.

Eles estão em uma fase bem inicial, a empresa foi fundada em 2019 por Andrew Lapsa, que trabalhou por dez anos na Blue Origin, e Thomas Feldman, que tem no currículo 8 meses de SpaceX e 6 anos de Blue Origin.

Eles já desenvolveram um motor de combustível líquido, conseguindo assim um programa espacial mais avançado que o nosso. (Crédito: Stoke Space)

A proposta da Stoke é produzir um lançador de reutilização rápida, e 100% reusável. Esse é o calcanhar de Aquiles de todo mundo que trabalha com foguetes reutilizáveis. E por todo mundo eu digo a SpaceX.

Recuperar o primeiro estágio de um foguete é “simples”, já o segundo estágio é bem mais complicado. Num Falcon 9 o primeiro estágio se separa a 7000Km/h. O segundo estágio continua acelerando até atingir velocidade orbital, de 28000Km/h.

Você tem uma carga útil limitada, a maioria dos segundos estágios são pouco mais que motores e tanques de combustíveis, qualquer grama a mais de massa, significa menos carga útil que você consegue colocar em órbita.

É grandinho o menino. (Crédito: Stoke Space)

Agora imagine que além do combustível para colocar seu satélite em órbita, você precisa levar combustível para desacelerar o suficiente para que seu foguete não queime na reentrada. Além disso, você precisa de um pesadíssimo escudo térmico, e mais combustível ainda e/ou pára-quedas para a manobra de pouso.

A SpaceX resolveu, ou mais precisamente pretende resolver isso com a Starship, mas um segundo estágio de 50 metros de comprimento e 1200 toneladas não é exatamente um lançador pequeno, e reusabilidade de segundo estágio, assim como Ruby, não escala em nenhuma direção.

Mesmo assim o pessoal da Stoke acha que conseguiu achar o ponto ideal entre um segundo estágio pequeno, uma carga útil decente e reusabilidade.

Segundo os planos dele, um segundo estágio usando motores laterais atingirá velocidade orbital, liberará a carga e então efetuará uma manobra de desaceleração, usando um escudo térmico para sobreviver à reentrada.

Centaur, segundo estágio preferido da ULA. É tão fino que você furaria com uma caneta. Imagine manter isso inteiro numa reentrada. (Crédito: NASA)

Os mesmos motores serão usados nos momentos finais do pouso, para desacelerar o segundo estágio até atingir altitude 0 velocidade 0.

Esse era o modelo das cápsulas Dragon originais, mas a NASA não quis pagar os testes extras e não aceitaria transportar seus astronautas nelas, sem todo um programa de certificação.

A Stoke diz que com seu sistema, conseguirá uma redução de custo de 20 vezes em relação aos lançadores concorrentes, como os da Rocket Lab, Astra, Firefly, OneSpace, Relativity... eu falei, a lista de empresas espaciais privadas é enorme.

É interessante notar que a fomentadora de Bill Gates é voltada para tecnologistas sustentáveis focadas em neutralidade de carbono, mas os motores da Stoke, ao menos nas imagens não parecem estar queimando hidrogênio ou metano, e em ambos os casos só seriam carbono zero se a empresa dominar todo o ciclo de produção do combustível, o que jogaria o custo nas alturas, visto que metano comercial é muito mais barato e hidrogênio só é economicamente viável se produzido a partir de hidrocarbonos.

Talvez Bill Gates não tenha feito seu dever de casa. Caso a Starship dê certo, dezenas de empresas menores serão dizimadas. Com o foguete Neutron, da Rocket Lab, o mercado de pequenos e médios lançamentos sofrerá outro baque.

Pode ser que no final das contas, Bill Gates tenha decidido investir em foguetes tarde demais.

Bem, antes isso do que NFT.

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