Ronaldo Gogoni 3 anos atrás
A escassez de chips é um assunto que divide opiniões, mesmo entre especialistas e companhias. É fato que a demanda por semicondutores aumentou exponencialmente nos últimos 2 anos, por uma combinação de diversos fatores, e foi intensificada pela pandemia da COVID-19.
Para Qualcomm e Samsung, empresas que atuam na linha de frente e fornecem designs e componentes, a escassez de chips deverá encolher em 2022; o relatório anual da Deloitte sugere que a falta de chips no mercado continuará por todo o próximo ano, e se estender pelo menos até 2023; para o CEO da ARM, ela é permanente.
A Deloitte, uma das maiores empresas de consultoria e contabilidade do planeta, emite todos os anos um relatório geral, baseado em relatórios de fabricantes, pesquisas junto ao público, movimentações governamentais e mais, com projeções para vários setores no próximo ano.
Para 2022, a Deloitte reuniu previsões que vão desde uma maior regulação imposta por governos a IAs e sistemas especialistas, mudanças no mercado de consoles de videogames, que completa 50 anos no próximo ano, uma queda acentuada na audiência da programação linear de TV, em detrimento do streaming e VOD, e por fim, informações relevantes quanto à oferta de semicondutores e suas consequências no mercado.
Alinhada a relatórios publicados por Intel e Nvidia, a Deloitte aponta que clientes que dependem dos componentes sofrerão com a falta dos chips por todo o ano de 2022, e que os prazos de entrega dos mesmos se estenderão até 2023. Em suma, produtos em diversos setores, desde voltados ao consumidor final quanto a setores críticos, como infraestrutura, automação, pesquisa, medicina e outros, continuarão sofrendo com a escassez de chips.
A Deloitte aponta uma série de fatores que causam a persistência da crise. A pandemia da COVID-19, embora seja um deles, agiu mais como um fator acelerador se um cenário que já se desenhava ao longe, causado por um aumento abrupto na procura:
Com uma maior procura, as três maiores companhias que imprimem chips, TSMC, Intel e Samsung, têm cortado um dobrado para atender todos os pedidos de seus clientes, e falhando no processo, resultando em períodos longos de entrega e redução na manufatura dos produtos finais. As companhias têm investido pesado para aumentar suas capacidades, o que alguns apontam como consequência uma inundação futura de componentes no setor, mas ao menos agora, os resultados não estão aparecendo.
Nem todo mundo está tão pessimista, entretanto. Durante sua Tech Summit 2021, o CEO da Qualcomm Cristiano Amon disse a repórteres da Coreia do Sul que embora não tenha uma previsão de quando a crise irá passar, a cadeia de suprimentos de semicondutores deverá melhorar a relação oferta/procura durante o ano de 2022.
Sua visão leva em conta não apenas os mais recentes lançamentos de chips para celulares e outros sistemas, como consoles portáteis, mas também os planos da empresa para abocanhar uma fatia considerável do mercado de PCs, que de acordo com a perspectiva do executivo, migrará inevitavelmente da arquitetura IA-32/x86-64 para ARM. De sua parte, Amon afirma que a Qualcomm aumentou sua oferta de chips, entre 2020 e 2021.
A Samsung vai numa mesma toada. Em seu mais recente relatório, voltado a parceiros comerciais e empresas na sua cadeia de suprimentos, a gigante sul-coreana afirma que a situação referente à escassez de chips deverá melhorar a partir do segundo semestre de 2022.
Para isso, a companhia está tomando uma série de medidas, como aumentar seu estoque de semicondutores, de modo a garantir a produção ininterrupta de seus produtos por no mínimo 4 semanas, em contraste com as 2 semanas atuais. Além disso, está firmando novos acordos com outras empresas que imprimem chips, até para atender a demanda de mais parceiros fabless (que não possuem linhas de produção próprias), como a já citada Qualcomm.
Ainda assim, mesmo as previsões do CEO da Intel, Pat Gelsinger, ou da Deloitte, que acreditam na extensão da crise pelo menos até 2023, não são pessimistas quanto a feita por Simon Segars, executivo-chefe da ARM, empresa que está no olho do furacão (mais de um, na verdade).
Segundo ele, a escassez de chips está aqui para ficar, a demanda vai continuar aumentando, e que é preciso a colaboração de todos os envolvidos na cadeia, o que deve incluir também o varejo e consumidores de todos os tipos, até mesmo o final, a fim de minimizar o problema, mas não chegando a de fato encerrar a escassez, pois para Segars, isso não é mais possível.
Se a crise dos chips vai acabar em 2022, em 2023 ou nunca, só o tempo dirá, mas a curto prazo, é bom não esperar que a escassez se resolva de um dia para o outro.