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China aumenta pressão sobre gigantes de tecnologia

Governo da China impede Tencent de lançar novos apps e atualizar os ativos, e pede que DiDi saia da Bolsa de Nova Iorque

2 anos atrás

No último ano, a China decidiu não mais dar colher de chá para suas gigantes de tecnologia, não importando o quão grandes sejam ou que tenham gerado riquezas para o país. De modo a alinhá-las ao pensamento coletivo do Partido Comunista chinês, comandado pelo presidente Xi Jinping, o governo vem tomando uma série de medidas contra diversas empresas do setor, que acumularam capital ao longo das décadas.

Os alvos mais recentes são a Tencent, impedida de lançar novos apps no país e sequer atualizar os ativos, e a companhia de transportes DiDi, dona da 99, "recomendada" a se remover da Bolsa de Valores de Nova Iorque.

Sede da Tencent em Shenzhen, China (Crédito: average_person/Unsplash)

Sede da Tencent em Shenzhen, China (Crédito: average_person/Unsplash)

Os ânimos entre o governo chinês e as companhias de tecnologia do país começaram a se acirrar em novembro de 2020, quando Jack Ma, CEO e co-fundador do Alibaba Group, disse que a regulação excessiva seria prejudicial à inovação. Pequim entendeu a declaração como um desafio à autoridade do país, e mesmo que a Grande Abertura tenha sido uma medida necessária para fazer da China um país competitivo no cenário global, ela teria feito com que os executivos beneficiados por ela tenham se esquecido de quem realmente manda.

Desde então, o governo tomou uma série de medidas para impor total controle sobre as gigantes tech do país, doa a quem doer, não importando o quanto dinheiro elas tenham feito. O objetivo é sujeitar seus responsáveis à norma vigente, e nisso companhias como Tencent, Alibaba e outras foram alvos de investigações, sanções e processos, que prejudicaram seus negócios no país e derrubaram seus valores de mercado.

Tencent submeterá apps ao governo da China

A Tencent Holdings é o mais conglomerado de tecnologia do mundo, com presença em diversos setores, como infraestrutura a comunicação e entretenimento (a companhia é dona de 100% da Riot, 40% da Epic Games e 5% da Activision e Ubisoft), e por isso mesmo, é um alvo preferencial do governo chinês. Ela foi alvo de processos citando aquisições e fusões irregulares, e por seus apps de mensagens não seguirem as leis de proteção de dados a menores.

Mais recentemente, a companhia foi severamente afetada pela lei que restringe menores de idade a apenas 3 horas de games por semana, visto que o MOBA Honor of Kings é imensamente popular entre os jovens. A cada nova bordoada vindo do governo, as ações da Tencent despencam.

A mais recente foi particularmente pesada: por determinação do Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação do país, a gigante será submetida a uma "orientação administrativa temporária" por tempo indeterminado, e enquanto a medida estiver em vigor, ela ficará proibida de lançar qualquer novo app, serviço, software ou game no país, ou mesmo atualizar os existentes e que estão disponíveis, sem que antes os mesmos sejam submetidos e aprovados pelo governo.

Coincidentemente, a restrição foi imposta à Tencent semanas após a empresa anunciar o game de mundo aberto multiplataforma Honor of Kings: World, que deverá ser lançado globalmente, diferente do original para dispositivos móveis, disponível apenas na China.

Ainda que em tese a Tencent possa lançar Honor of Kings: World no resto do mundo sem problemas, é quase certo que isso não vai acontecer, enquanto ela continuar impedida de fazê-lo na China de forma simultânea. Vale lembrar que Honor of Kings é hoje o game mobile que mais lucra no mundo, e foi o primeiro a romper a marca dos US$ 10 bilhões em receita, logo, é de se esperar que a Tencent esteja esperando o mesmo nível de sucesso financeiro com a versão de mundo aberto.

Ao todo, a Tencent possui mais de 70 apps e 100 games ativos na China, que ficarão sujeitos à apreciação do governo para cada nova atualização daqui por diante, enquanto o período de orientação continuar. Em nota oficial, a companhia declarou que está cooperando com as atividades do governo, indiretamente afirmando que irá seguir com as determinações, até porque a essa altura do campeonato, já ficou claro que não há outra opção a não ser obedecer.

DiDi é aconselhada a sair da Bolsa de Nova Iorque

A DiDi Global, companhia de transportes que concorre com a Uber na China, e é dona da brasileira 99, também teve sua cota de pressão do governo chinês, tudo porque em junho último, a empresa entrou na Bolsa de Valores de Nova Iorque, no que foi o maior IPO de uma companhia chinesa desde 2014, quando o Alibaba Group abriu seu capital.

O ato teria enfurecido o premiê Xi e a cúpula do Partido Comunista chinês, porque coincidiu com as comemorações do centenário de sua fundação. Oficialmente, no entanto, a Administração do Ciberespaço da China (CAC), o órgão regulador do governo (leia-se censor) para internet e comércio digital, expressou sérias preocupações sobre a entrada da DiDi na bolsa, citando vazamento de dados de seus clientes.

Em julho, as autoridades abriram uma investigação contra a DiDi por "sérias violações de leis e regulações referentes à coleta e uso de dados e informações pessoais", no que acarretou na remoção do app das lojas digitais, e a proibição de registrar novos usuários. Na sequência, um processo antitruste foi aberto contra a companhia, por concorrência desleal.

Agora, o CAC emitiu uma recomendação direta aos principais executivos da DiDi Global, para que a companhia saia da Bolsa de NY, um pedido absolutamente sem precedentes na história. O motivo para isso, segundo o órgão regulador, seria o mesmo das medidas anteriores, "preocupações acerca do vazamento de dados de usuários chineses". Na prática, é uma represália direta pela empresa ter ousado melar a festa do Partido.

No Brasil, a DiDi é representada pela 99, que foi comprada em 2018 (Crédito: Getty Images)

No Brasil, a DiDi é representada pela 99, que foi comprada em 2018 (Crédito: Getty Images)

A DiDi deve formular um plano de retirada e apresentá-lo ao governo para que este seja aprovado e posto em prática; entre as opções, a empresa pode  optar por uma privatização direta, vendendo as ações pelos mesmos US$ 14 negociados no ocidente, para evitar uma onda de processos movidos por acionistas.

A segunda opção é entrar na Bolsa de Valores de Hong Kong, no que a DiDi poderia negociar suas ações por um valor consideravelmente menor, especula-se, de cerca de US$ 8 cada. De qualquer forma, a medida jogou as ações da empresa para baixo, e com ela caíram as da Tencent ainda mais, visto que o conglomerado é um de seus principais acionistas.

Especialistas acreditam que o governo chinês vá voltar atrás na sua decisão de forçar a DiDi a sair da Bolsa de NY, pela consequências que isso causaria não só nas ações da empresa, mas no mercado financeiro como um todo, mas é bem provável que ela acabe sendo aplicada, até por se tratar de parte de um "pacote de intenções".

A prefeitura de Pequim, através de empresas financiadas pelo Estado, propôs comprar uma parte considerável na empresa, de modo a garantir representação e mais importante, poder de veto; o investimento reuniria capital suficiente para a DiDi recomprar suas ações na Bolsa de NY, com o revés de que passaria a ter o governo chinês com cadeira cativa no conselho.

Fonte: South China Morning Post, Bloomberg

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