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Wish You Were Here in Guantanamo Bay — Resenha de ‘Is This The Life We Really Want?’, Roger Waters

O ex-baixista e letrista do Pink Floyd Roger Waters está de volta com seu primeiro álbum em quase 25 anos, produzido por Nigel Godrich (Radiohead). Vale a pena embarcar nesta viagem musical política raivosa? Vale sim, e muito!

7 anos atrás

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Depois de lançar quase 25 anos sem lançar um disco de músicas inéditas, Roger Waters finalmente está de volta com o álbum Is This The Life We Really Want?, que tem mistura a clássica sonoridade Pink Floyd com um toque contemporâneo. Em tempos do Presidente Donald na Casa Branca, Roger não aguentou mais seu exílio musical, e finalmente resolveu voltar ao estúdio. O disco foi lançado no começo do mês passado, mas eu precisei de um tempo para poder melhor apreciá-lo.

O forte de Roger Waters no Pink Floyd sempre foram as letras angustiadas e polêmicas, e no novo álbum elas estão mais afiadas do que nunca, escritas por alguém que está realmente preocupado com o corroído cenário político mundial. Este é apenas o quarto álbum de estúdio de Roger, não contando trilhas sonoras meio bizarras e obscuras, e a ambiciosa ópera Ça Ira de 2005, por isto os seus fãs contavam com novas músicas há muito tempo. Como artista solo, Roger se especializou em fazer grandes turnês que basicamente prestavam homenagens ao repertório da sua antiga banda, dos quais tive a sorte de assistir duas vezes, uma na turnê Dark Side of the Moon na Praça da Apoteose e outra na que trouxe The Wall para o estádio Engenhão, também aqui no Rio.

O clima contemporâneo ao qual me referi é facilmente explicado pela produção Nigel Godrich, responsável por vários discos do Radiohead. Godrich, assim como eu, é um grande fã do trabalho do Floyd, é conhecido como o “sexto membro” do Radiohead, por sua importância no trabalho da banda. O produtor também trabalhou com Beck, U2, Travis, Gnarls Barkley e até Sir Paul McCartney. No arranjo de cordas, David Campbell, também conhecido como o pai de Beck Hansen, que trabalhou com Adele em 21. A mistura deu muito certo, pelo menos na opinião (absolutamente parcial) deste fã aqui.

Faixa a faixa


Roger Waters - Déjà Vu (Audio)

When We Were Young é um pequeno cartão de visitas do que vem pela frente, dando o tom do clima denso e tenso que vai permear o resto do álbum. Depois vem Déjà Vu, uma balada que não faria nada feio em um disco do Pink Floyd, na qual Roger assume dois pontos de vista diferentes, o de Deus e o de um drone voando pelos céus. Sim, parece bem estranho, mas o talento da poesia de Waters consegue misturar as situações muito bem.

The Last Refugee é bem melancólica, mas ao mesmo tempo, muito bonita. A quarta música é Picture That, uma das minhas favoritas do novo álbum, e que traz a tona a agressividade do disco Animals de 1977, e não por acaso um dos mais políticos da carreira do Pink Floyd.

Broken Bones é outra linda balada, que mostra as lições do passado, que nem sempre são aprendidas, já que a humanidade acaba cometendo sempre os mesmos erros. O terceiro verso traz o ponto de vista do outro lado da guerra. O resultado é uma belíssima música, que termina com um toque de esperança.


The Narrative Art — Roger Waters Poem - Is this the life we really want?

A música que dá o nome ao disco é na verdade um poema de Roger Waters escrito durante um dos governos de George W. Bush (que você pode assistir aqui), mas Is This The Life We Really Want? começa com uma gravação do Donald, deixando bem claro quem é seu principal alvo no momento. Esta é talvez a melhor letra do disco, e também a mais verdadeira e crua. Na faixa, a voz de Waters atinge um grave que deixaria Johnny Cash orgulhoso, e no final se torna quase um rap hipnótico e poderoso. Musicalmente, ela traz o clima do clássico álbum duplo The Wall (1979), mas o que marca mesmo é a letra, que termina com a reflexão de que nós não podemos ficar indiferentes ao que está acontecendo. Em uma tradução livre: “toda vez que a cortina cair em cima de alguma vida esquecida, é porque ficamos assistindo, silenciosos e indiferentes”.

Bird in a Gale continua com a sonoridade típica de The Wall, e também traz várias gravações e maluquices sonoras que Waters tanto gosta, e continua com o clima típico de The Wall. The Most Beautiful Girl é outra bela música com uma letra tão pesada quanto um soco no estômago. A música foi composta no começo dos anos 2000, mas tinha outra temática, segundo uma entrevista que Roger deu recentemente para a revista Uncut. Sua letra foi reescrita para contar a história de uma menina morta por um ataque de drone no Iêmen nos anos Obama.


Roger Waters - Smell the Roses (Audio)

Smell the Roses foi a primeira música a ser lançada, é o primeiro single e também praticamente “pertence espiritualmente” ao álbum Animals, com uma sonoridade típica do velho e sensacional Floyd. Minhas palavras não fazem justiça, então escute a música clicando acima.


Roger Waters - Wait for Her

Para terminar o álbum com chave de ouro, uma espécie de medley, com Wait for Her é outra linda música (veja o clipe acima), que na verdade é uma versão do poema de mesmo nome de Mahmoud Darwish (originalmente escrito em árabe) e meu amigo, eu te desafio a ouvir esta música lendo a letra e não ficar arrepiado.

Oceans Apart funciona como uma pequena transição entre ela e a última música, Part of Me Died, que analisa os motivos da depressão e tristeza que afetam muitas pessoas hoje em dia, Sim, é como se fosse o Pulso dos Titãs, mas escrita pelo Roger Waters, e com final romântico e esperançoso, no qual todas as mazelas citadas são a parte do narrador, e acabam morrendo quando ele conhece sua amada.

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Conclusão

As letras sempre foram o forte de Waters, e no novo disco, ele está mais do que inspirado, ele está realmente preocupação com os rumos que nosso mundo está tomando. Quem gosta de Pink Floyd vai reconhecer todas as referências nas músicas e nas letras, algumas sutis, outras nem tanto, como o Wish You Were Here In Guantanamo Bay que usei no título, citado na música “Picture That”.

Duas das canções já tinham sido tocadas ao vivo alguns anos atrás: “Déja Vu”, cantada em 2014 como “Lay Down Jerusalem (If I Had Been God)” e a “Broken Bones”, antes chamada de “Safe and Sound”. Outra que tinha sido confirmada por Roger no álbum mas acabou não entrando, é Crystal Clear Brooks, que você pode ouvir aqui, e talvez seja pouco sombria demais até mesmo para o resto do disco.

No final das contas, o saldo é extremamente positivo. E você, gostou do disco? Se ainda não tiver ouvido, Is this the life we really want? está disponível no Deezer e no Spotify, ouça e por favor deixe sua opinião nos comentários.


Roger Waters Us + Them North American Tour - New Dates

Atualmente, Roger está apresentando sua turnê Us & Them nos Estados Unidos, que une grandes clássicos do Pink Floyd com algumas das músicas do novo álbum, então fica aqui a minha torcida para que ele volte ao Brasil nos próximos meses ou até no ano que vem.

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