Ronaldo Gogoni 6 anos atrás
O Spotify bem que tentou, mas não conseguiu resistir à insistente pressão da indústria da música. Assim, a modalidade gratuita do serviço sofrerá restrições e lançamentos devem demorar bastante para serem liberados (isso se o forem um dia). Àqueles que desejarem consumir as novidade só terão uma opção: abrir a carteira.
A verdade nua e crua é que tanto as gravadoras quanto os artistas odeiam o formato de streaming. É preferível por eles ter o controle completo sobre seus conteúdos e vender músicas e shows no atacado, diretamente ao consumidor e por causa disso não são poucos os músicos que não aderiram ao novo formato de distribuição, do Radiohead à Taylor Swift, passando por Prince (cujas músicas só voltaram parcialmente depois que ele faleceu) e Adele, entre outros.
O Spotify, assim como o YouTube incomoda principalmente por permitir que os usuários possam curtir todo o catálogo gratuitamente, ainda que tenham algumas restrições e tenham que lidar com os ads e há anos as principais gravadoras (Sony, Warner e Universal) pressionam para que a plataforma implante medidas para tornar a modalidade menos interessante do que o plano premium, isso se não o inviabiliza-lo de vez. A Apple, que possui seu próprio serviço que não conta com modalidade gratuita também estaria jogando sujo contra o Spotify, fazendo a cabeça dos detentores dos copyrights a renegociarem seus contratos com a rival. E como ambas já se estranharam em público tal estratégia não chega a surpreender.
Vale dizer que por causa da Apple Music retornar mais dinheiro às gravadoras, o Spotify perdeu o privilégio de manter contratos de longa duração.
O grande problema do Spotify é que as contas não fecham. 90% de sua receita vem das assinaturas mas apenas 25% de seus usuários pagam para utilizar o serviço. A empresa paga em torno de US$ 0,007 por execução de música e as gravadoras há tempos batem na tecla que tal valor é uma ninharia, sem falar que a empresa fundada por Daniel Ek nunca deu lucro: em 2015 ela fechou com déficit de US$ 200 milhões, mesmo com uma receita de mais de US$ 2 bilhões.
Por essas e outras, além do desejo de ir à IPO (algo que também renderá dinheiro às três gravadoras, que são acionistas minoritárias) que o Spotify enfim cedeu às pressões. De acordo com fontes próximas usuários gratuitos não terão acesso aos mais recentes lançamentos dos artistas mais valiosos e ouvidos, que podem sofrer delay de semanas ou meses (ou não ser liberados de nenhuma forma). Além disso o repasse para as gravadoras será maior, baseado na receita gerada por usuário. Assim cada execução poderá render bem mais do que hoje; em troca o serviço pagará menos royalties à Sony, Warner e Universal.
Embora o Spotify tenha crescido muito nos últimos anos, ha grandes chances de que tal medida tenha o efeito contrário e acabe por fazer com que os usuários gratuitos abram mão da plataforma e voltem para a Locadora do Paulo Coelho, ao invés de assinar o serviço premium. É um risco que terão que correr, mas de outra forma o serviço não poderia se manter vivo por muito tempo; ele precisa fazer dinheiro antes de abrir ações na Bolsa de Valores e mostrar a que veio, ou vai desaparecer.
Fonte: Financial Times (paywall).