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A volta dos filmes fotográficos

Alguns filmes fotográficos clássicos voltaram a ser produzidos, mas realmente precisamos disso?

7 anos atrás

Em 1995 eu tive a minha primeira experiência com a fotografia. Estava na faculdade de geografia e tinha uma viagem de estudos da disciplina de Geologia do Brasil para o Estado do Paraná. Para os três dias de viagem peguei emprestada uma Yashica MG3 e comprei dois rolos de filme 36 poses. Isso mesmo, 72 fotos para uma viagem de 3 dias.

Com essa experiência veio o amor pela fotografia. Várias câmeras e muito estudo depois, a fotografia profissional entrou em minha vida. Fotografar com filme era completamente diferente da fotografia que temos hoje. Só para exemplificar, vamos falar da cobertura fotográfica de um casamento. Antes da cerimônia era necessário comprar pilhas para as câmeras (as minhas utilizavam as CR2) e os filmes fotográficos. Aqui no interior de São Paulo era praticamente impossível achar filmes com ISO elevado de padrão profissional. Então estava preso aos filmes com ISO 200. As duas possibilidades eram o PRO Image da Kodak e o PRO Value da Fuji. Gostava mais do filme da Fuji, pois o da Kodak granulava muito na hora da impressão.

Um casamento médio gastava em torno de 3 caixas de filme (6 rolos de 36 por caixa). Já cheguei a usar mais, mas o normal era usar menos. Trabalhava com duas câmeras, mas tinha sempre que ficar de olho na quantidade de fotos. Era desaconselhável a ter poucas poses em um filme quando nos aproximávamos de um momento importante da cerimônia. O normal era perder as últimas poses do filme e já colocar um novo para encarar os momentos cruciais (benção das alianças, por exemplo). Um assistente para ir abastecendo a câmera com filme novo era muito importante para ter agilidade no processo. O baixo ISO do filme obrigava a trabalhar com obturador e diafragma no limite, para poder capturar pelo menos um pouco da iluminação do ambiente, mas dependíamos completamente do flash.

Momentos de terror: bateria da câmera ficando fraca e não puxando o filme completamente, o que causava fotos sobrepostas; filmes que rasgavam (ressecados por estarem armazenados em locais com temperatura muito elevada); câmeras que não tinham sensor de rotação de filme e você só percebia que o filme não estava rodando quando chegava na quadragésima foto; assistentes que se descuidavam e abriam a parte do compartimento do filme sem rebobinar completamente.

Depois de tudo fotografado vinha a parte da revelação. Essa era uma parte crucial. Você precisava encontrar um bom laboratório, que fizesse um ótimo trabalho. Um filme revelado de maneira desleixada arruinava todo o trabalho. Essa parte durava em torno de 10 dias. O trabalho rendia um livro de provas (cada filme era impresso em forma de miniaturas em uma foto 20x30cm), o famoso copião, que era entregue ao cliente que marcava as fotos escolhidas para o álbum.

Bem diferente de hoje, não é? Essa pequena história é para falar um pouco da grande comoção que a volta de alguns filmes fotográficos clássicos está causando no mundo da fotografia. Tem gente chorando de felicidade e já fazendo previsões de que outros filmes clássicos podem voltar também. O que eu acho disso? Tenho dois pontos de vista. O primeiro deles é baseado na nostalgia. Poder brincar com um filme fotográfico em um fim de semana, tirar as câmeras antigas do armário e relembrar as velhas histórias é algo que me atrai. O segundo ponto de vista é que não sinto a menor falta dessa época do trabalho de fotógrafo.

O digital superou em muito o que fazíamos com o filme fotográfico. A comodidade de trabalhar com ISO alto (sem precisar trocar de filme) levou a fotografia a um novo patamar de beleza. O que vemos hoje na produção de fotografia de eventos só foi possível com a introdução do digital. Poder ver as fotos instantaneamente, poder controlar o processo de revelação das fotos, compartilhar imagens com seus clientes no dia posterior ao evento são coisas que somaram ao trabalho do fotógrafo. Equipamentos são mais caros, mas você recupera o investimento por conta de não ter que comprar filmes e pagar revelação, além de ter várias comodidades e possibilidades que não existiam. Sem falar que todos os produtos químicos utilizados na revelação e produção dos filmes são altamente nocivos à saúde e prejudiciais ao meio ambiente.

Deixem o filme fotográfico morrer com dignidade. Vamos lembrar dele como aquele velho companheiro de tantas aventuras. Ele deixa histórias e sentimentos, mas não vai fazer a mínima falta.

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