Carlos Cardoso 6 anos atrás
Saddam Hussein podia ser um monte de coisas, mas bobo não era. Ninguém sobrevive a 10 anos de guerra com o Irã dando mole, e os aliados descobriram isso no começo da Guerra do Golfo. Seu principal bunker de comando custou mais de US$ 200 milhões, e era virtualmente impenetrável por qualquer coisa que não fosse nuclear.
O bunker foi projetado pelo neto do sujeito que projetou o bunker de Hitler em Berlim, e construído pela também alemã Boswau & Knauer.
Era preciso uma solução, e rápido. Só que “rápido” não costuma fazer parte do vocabulário de projetos militares, como Trump descobriu com o F-35. Saddam não esperaria anos pelo desenvolvimento de uma arma capaz de destruir seu bunker.
Os requisitos básicos eram simples: uma bomba capaz de penetrar (epa!) dezenas de metros de concreto e só então explodir, causando o máximo de dano. A execução, não tão simples. Por sorte (ou azar, dependendo de que lado da bomba você esteja) gente muito inteligente ficou a cargo do projeto.
Não havia tempo de desenvolver novas ligas, era preciso usar como base uma das estruturas de metal mais duras conhecidas pelo Homem, e alguém sugeriu reciclar tubos de obuses de 155 mm:
Isso foi só o começo, decidiram que não dava pra esperar os planos ficarem prontos, a construção das bombas começou sem que os engenheiros sequer tivessem terminado os projetos. Faz sentido, quando cada minuto conta: não dá pra esperar um canhão que vai levar 30 horas em um torno só pra ampliarem o diâmetro interno.
Os engenheiros acabaram se mudando para o chão da fábrica, as alterações eram feitas direto nas máquinas de produção: no final, 15 alterações foram feitas no projeto.
Só a soldagem do nariz, de metal especialmente duro, levava 12 horas.
Quando a primeira GBU-28 ficou pronta, a Força Aérea foi testar no deserto de Nevada. Foi um sucesso, provavelmente. Sem carga explosiva, preenchida com lastro ela foi lançada de um F-111, acoplada a um kit de orientação por laser.
A bomba atingiu o solo, penetrou mais de 20 m e está lá até hoje, foi tão fundo que ficaria caro demais escavar pra remover.
Outro teste foi colocar a bomba em um trenó a jato e lançá-la contra uma parede de concreto reforçado.
A bomba atravessou 7 metros de concreto e aço como se fosse manteiga, e continuou por mais quase 1 km até parar.
A GBU-28 foi considerada pronta pra combate, e as primeiras unidades foram enviadas para o Iraque ainda com a tinta fresca. O apelido da bomba era “Saddamizadora”.
Esse processo todo levou exatos 21 dias.
Bunkers altamente seguros começaram a ser atingidos, forçando o Iraque a mudar toda sua estratégia de comando: a idéia de generais seguros bem atrás da frente de combate não existia mais. Era possível não só atingir o bunker como programar a bomba para penetrar vários andares e explodir onde os figurões mais provavelmente estariam.
Curiosamente a GBU-28 contribuiu para afastar a opção nuclear, até então a doutrina americana era que em caso de guerra total armas nucleares táticas seriam usadas contra esse tipo de fortificação. Hoje, não é mais necessário. Metralhadora é coisa de grossos sem cultura, cavalheiros usam snipers.
Fonte: este mini-documentário aqui: