Ronaldo Gogoni 6 anos atrás
China e liberdade são duas palavras diametralmente opostas. Embora o País do Meio seja uma ditadura comunista no papel e nas atitudes, a bem da verdade ela é uma nação capitalista como qualquer outra, uma das maiores economias do mundo (caminhando a passos largos para se tornar A maior) e por causa disso mesmo o país hoje dita as regras: quer brincar no playground, se comporte e não faça nada errado.
Quem não se enquadra obviamente é banido, e nessa dançaram Google, Facebook, Twitter e muitos outros. Enquanto os dois primeiros ensaiam voltar ao país, jogando conforme as regras os demais só são acessíveis via VPNs, que os usuários chineses utilizam bastante.
A questão do uso dos softwares para contornar o Escudo Dourado, o firewall estatal é um tanto controversa mesmo na China: o governo até hoje não costumava empreender ações constantes para desbaratar o uso das VPNs e obrigar todo mundo a acessar apenas o que o politburo autoriza. A última grande iniciativa de Pequim foi em março de 2016. Só que isso está para mudar muito em breve.
O governo iniciou no domingo uma nova campanha de combate às VPNs que durará 14 meses de modo a criminalizar completamente o uso dos softwares no país. As diretrizes são propositalmente vagas, numa primeira análise parecem ser voltadas às companhias que oferecem tais serviços aos usuários e não a empresas que utilizam tais soluções para oferecer facilidades a seus funcionários, como Home Office. A intenção é pegar o cidadão que estiver pisando fora da faixa, quem faz uso de VPN para acessar redes sociais, sites, produtos ou serviços previamente banidos por Pequim será punido conforme a lei, que não costuma ser muito camarada com uma contravenção que é basicamente dissidência aos olhos do governo.
O mais irônico é que a medida entra em vigor dias depois do premiê Xi Jinping, que possui uma notória aversão a companhias não-chinesas defender no Fórum Econômico de Davos uma "internet mais aberta" em seu país, alegando que "o protecionismo é como se trancar numa sala escura" e defender tecnologias de conectividade global para permitir a interação entre todos os países através da internet.
Pelo visto, isso só vale para o que os conteúdos externos que o governo acha que o cidadão chinês tem direito a acessar: quase nada.
Fonte: South China Morning Post.