Gilson Lorenti 10 anos atrás
Alguns anos atrás aconteceu algo parecido com um grande concurso de fotografia de natureza no Reino Unido. Descobriu-se que a fotografia vencedora tinha sido uma grande armação. A imagem era de um lobo pulando um muro em um vilarejo europeu. Foi provado que o animal era domesticado, o que feria completamente as normas do concurso. Fico pensando se vale a pena para fotógrafos renomados passarem por esse tipo de vergonha. Mas, parece que a coisa está novamente acontecendo, só que agora no World Press Photo, o maior prêmio de fotojornalismo do mundo.
Em 2013 quem ganhou o grande prêmio foi a foto de Paul Hansen, intitulada Gaza Burial, onde ele retratou o cortejo fúnebre de duas crianças mortas na Faixa de Gaza por bombardeios israelenses. O impacto da cena é angustiante, sem falar no contraste da beleza técnica em um momento de sofrimento. Mas, algumas pessoas acabaram não concordando com a coisa. Logo nos primeiros dias após o anúncio dos vencedores já existiam denuncias de que a foto estava carregada excessivamente de pós-produção (photoshopada) para aumentar o impacto dramático da cena. Na fotografia de moda ou arte digital esse tipo de atitude é bem comum, mas no fotojornalismo passa uma impressão um pouco constrangedora. Mas, recentemente a coisa piorou para o lado de Paul Hansen e outras acusações mais sérias estão aparecendo.
Segundo o RTP Noticias alguns especialistas em imagem digital estão apontando algumas inconsistências na imagem. Analisando as sombras e o horário em que a foto alega ter sido feita, o pessoal do The Hacker Factor (para citar apenas um dos acusadores), estão apontando que, na verdade, a foto de Hansen é uma junção de duas ou três imagens diferentes. Ou seja, uma montagem deslavada, o que é proibido expressamente pelo regulamento da disputa. Para fundamentar a acusação os especialistas em imagens digitais (entre eles Neal Krawertz) apontam as informações do exif da foto, as sombras que não batem com o horário em que a foto foi feita e diferenças na iluminação em alguns pontos da imagem. As suspeitas ficam mais fortes quando sabemos que Hansen ainda não entregou o arquivo RAW da imagem para comprovar sua autenticidade.
Se as suspeitas se confirmarem, o fotógrafo vai perder o seu prêmio e toda sua credibilidade vai para o ralo. Ou seja, esse é um caso em que o crime não compensa, ainda mais em tempos onde qualquer criança consegue identificar uma montagem ou encontrar os rastros de uma edição digital.
Atualização 005/2013 - Após a polêmica causada sobre a veracidade da imagem vencedora, a organização do Word Press Photo se pronunciou ontem e deixou o seguinte recado em seu site: "Revisamos o arquivo Raw original e a imagem resultante em formato Jpeg. É evidente que a foto foi retocada no que diz respeito ao tom e à cor de determinadas zonas e em seu conjunto. Além disso, no entanto, não encontramos nenhuma prova de que tenha sido feita uma manipulação relevante da imagem ou uma composição. Além do mais, a análise propondo manipulação é profundamente deficiente". Depois de resolvida a polêmica então agora é hora de apreciar as imagens que vão estar expostas na Caixa Cultural do Rio de Janeiro (Av. Alm. Barroso, 25 – Centro) já no próximo dia 21 e ficando por lá até 23 de junho. Para quem mora no Rio de Janeiro é uma grande oportunidade de ver os melhores trabalhos do photojornalismo do ano passado (via Photo Channel)