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The Final Exam: os games como forma de conscientização

Após perderem o filho em um massacre na escola, Manuel e Patricia Oliver estão usando o jogo The Final Exam para alertar sobre o controle de armas

09/10/2024 às 9:39

No dia 14 de fevereiro de 2018, a Marjory Stoneman Douglas High School, em Parkland, Flórida, foi palco de uma tragédia. Portando uma AR-15 semiautomática, um ex-aluno invadiu a escola e assassinou 17 pessoas, ferindo outras 17. Entre as vítimas estava Joaquin Oliver e para tentar conscientizar a sociedade sobre a necessidade do controle de armas nos Estados Unidos, seus pais recorreram à criação de um jogo, The Final Exam.

The Final Exam

Crédito: Divulgação/Webcore Games

O projeto foi lançado pela Change the Ref (CTR), organização fundada por Manuel e Patricia Oliver, e cujo objetivo é falar sobre os massacres nas escolas dos Estados Unidos. Com a difícil missão de reduzir a influência da National Rifle Association (NRA) e das fabricantes de armas, eles optaram por usar a educação, a criatividade e a arte para alcançar esse objetivo.

E entre as peças produzidas pelo grupo está o The Final Exam. Inicialmente sua proposta pode causar algum estranhamento, já que nele seremos colocados em uma escola fictícia justamente enquanto um tiroteio está acontecendo e assim, nosso principal objetivo será tentar sobreviver à chacina virtual representada ali.

Com uma mecânica simples, nele teremos que nos mover de um ambiente para outro enquanto tentamos nos manter escondidos, além de precisar controlar a respiração por meio de um sistema de Quicktime Events e coletar cinco propostas de leis que estão no centro da campanha: checagem de antecedentes criminais; banimento de armas de assalto; proibição da venda de carregadores de alta capacidade; aumento da idade mínima para compra de armas e a obrigação de armazenamento seguro de armas de fogo.

Ao todo, a experiência dura apenas dez minutos e essa curta duração não é por acaso. Segundo a CTR, esse é o tempo que costuma durar os ataques às escolas.

Em The Final Exam não teremos violência sendo mostrada na tela. Mesmo o assassino raramente aparece e quando isso acontece, é apenas de relance. Por outro lado, a mensagem que a criação dos estúdios brasileiros Webcore Games e Druid Creative Gaming tenta nos passar está constantemente presente.

Por exemplo, se falharmos na tentativa de fugir veremos um texto dizendo que 17 mil crianças e adolescentes são atingidas por armas de fogo todos os anos nos Estados Unidos. Já a parte sonora é carregada de tensão, passando o desespero daqueles que se encontrariam numa situação como essa, usando gritos, choros, sirenes e o disparo das armas para criar um clima aterrorizante. E durante esse caos, os longos trechos de silêncio e o som da respiração do nosso personagem também incomodam.

“Essas salas representam os horrores da vida-real de centenas de escolas que sofreram tiroteios em massa,” diz o site do jogo. “Lugares que foram prometidos como seguros para as crianças, mas fracassaram pelo nosso governo.”

A página continua cobrando a implementação de leis que sirvam para controlar a venda de armas e afirma: “Pare de culpar os jogos e comece a tomar medidas significativas contra a violência armada.”

The Final Exam

Crédito: Reprodução/Dori Prata/Webcore Games

Patricia Olivier reforçou esse posicionamento. “Todos os países possuem pessoas com problemas mentais, mas elas não têm acesso a armas neles, esperando que as peguem e façam qualquer loucura que possa acontecer,” disse. “O mundo inteiro joga videogame. Então, por que você vai me dizer que os jogos são o problema? De forma alguma aceitarei isso como resposta.”

Essa defesa foi repetida pelo criminologista canadense Thomas Gabor. Segundo ele, pessoas que moram no Japão, Coreia do Sul e Reino Unido gastam muito mais dinheiro per capita em jogos violentos do que os americanos, mas o número de mortes violentas nesses países é muito menor.

Já para Phil Chalmers, que tem estudado crimes violentos há quase 40 anos, os videogames também fazem parte dos ingredientes que ajudam a transformar um jovem em assassino. “Tenho entrevistado mais assassinos juvenis e atiradores de escolas, acredito, do que qualquer outra pessoa na história,” afirmou. “Muitos deles falaram sobre o fascínio pela violência, jogos violentos, pornografia de tortura e filmes de tortura.”

Crédito: Divulgação/Webcore Games

Contudo, lá em 2015 o pesquisador Patrick Markey já questionava essa associação. Após verificar que 90% dos homens jovens jogavam videogame, ele chegou à conclusão de que dizer que um assassino jogava títulos populares como “Call of Duty, Halo ou Grand Theft Auto é tão sem sentido quanto dizer que o criminoso também usava meias.”

Enquanto esse debate parece muito longe de ter um desfecho, a mãe de Joaquin falou sobre o quão difícil é fazer o que tem feito, que é contar a história de um jovem cuja vida foi covardemente tirada. “Gostaria de falar sobre o Joaquin se formando, o Joaquin tendo uma namorada, o Joaquin tendo uma vida,” lamentou. “Mas eu não posso ser ameaçada por essas emoções, porque preciso de força para falar com vocês, para apresentar esse jogo, para falar a todos que puder sobre esse jogo.”

Fonte: Inverse

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