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Tubarões grandes estão predando uns aos outros

Pesquisa relata observação feita em 2021, o primeiro registro de espécies grandes de tubarões predadas por outras maiores

03/09/2024 às 11:35

Os tubarões são um exemplo de eficiência evolutiva. A superclasse Selachimorpha, que compreende as mais de 500 espécies conhecidas (incluindo as extintas) se estabeleceu no meio do período Devoniano, por volta de 383 milhões de anos atrás, já com quase todas as suas características principais, e as manteve praticamente imutadas, desde então.

Várias espécies são consideradas predadores alfa, as que ocupam o topo da cadeia alimentar a qual estão inseridas, por isso cientistas ficaram surpresos em 2021, quando surgiram indícios de que um espécime de uma delas, o tubarão-sardo (Lamna nasus), teria sido predada.

O tubarão-sardo ou barrilote (Lamna nasus) não é exatamente uma espécie pequena, mas estaria sendo predado mesmo assim (Crédito: Big Fish Expeditions) / tubarões

O tubarão-sardo ou barrilote (Lamna nasus) não é exatamente uma espécie pequena, mas estaria sendo predado mesmo assim (Crédito: Big Fish Expeditions)

Sempre haverá tubarões maiores

O tubarão-sardo, também chamado de barrilote, vive em águas temperadas do Atlântico Norte e Sul, da costa do Rio Grande do Sul até a Patagônia, além da costa da Austrália e Nova Zelândia, e sul da África. Podendo medir até 3,7 m e pesar em torno de 230 kg, e viver até por volta de 30 anos, ele é considerado um predador alfa dado o seu tamanho, porém, por ter um ciclo reprodutivo um tanto lento, ele é classificado como "vulnerável" na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas de Extinção, da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

O barrilote é vítima principalmente da pesca recreativa, capturas acidentais, e perda do habitat devido às mudanças climáticas e outros fatores, e por isso, sua população é constantemente monitorada pela comunidade científica. No caso, biólogos marinhos da Universidade do Estado do Arizona conduziram observações no cabo Cod, Massachussets, em outubro de 2020 e 2022, capturando espécimes e marcando-os com transmissores, para soltá-los depois.

Em condições normais, os transmissores ficariam presos à barbatana dorsal do tubarão-sardo por um ano, quando se soltariam e flutuariam para serem coletados, cada tag podendo ser rastreada via satélite. Porém, em abril de 2021, os pesquisadores, entre eles a ex-graduanda Brooke N. Anderson, notaram algo estranho com a tag de um deles.

O espécime em questão era uma fêmea grávida de 2,2 m de comprimento, cujo transmissor se desprendeu apenas cinco meses após a fixação, próximo às Bermudas, o que já era bastante estranho. Quando os cientistas começaram a analisar os dados, descobriram que uma semana antes da coleta, ele teria passado por águas com temperaturas entre 16,4 °C e 24,7 °C, muito mais quentes do que as em que a espécie costuma viver.

A única conclusão possível, era de que essa fêmea grávida foi predada por outra espécie, e o transmissor foi parar no trato digestório de seu algoz, durante o tempo em que ele passeou por outras áreas.

Segundo cientistas, o tubarão-mako (Isurus oxyrinchus, foto), e o grande tubarão-branco (Carcharodon carcharias) são as duas únicas espécies capazes de caçar um tubarão-sardo (Crédito: Oceans and Coasts/Department of Environment Affairs/Republic of South Africa)

Segundo cientistas, o tubarão-mako (Isurus oxyrinchus, foto), e o grande tubarão-branco (Carcharodon carcharias) são as duas únicas espécies capazes de caçar um tubarão-sardo (Crédito: Oceans and Coasts/Department of Environment Affairs/Republic of South Africa)

No estudo, os pesquisadores consideram que apenas duas espécies, que ocorrem na mesma região que os tubarões-sardo, poderiam predá-los. Uma delas é sem muita surpresa o grande tubarão-branco (Carcharodon carcharias), o maior peixe predatório do mundo, cujas fêmeas podem atingir até 5 metros de comprimento (há registros de espécimes que passaram de 6 m); a outra é o tubarão-mako (Isurus oxyrinchus), que pode chegar a 4,3 m e pesar em média 580 kg.

Segundo Anderson, este é "o primeiro caso documentado de predação de um tubarão-sardo no mundo", mas isso pode significar que eventos similares nunca foram observados antes, apenas porque nós não exploramos os oceanos completamente; parece irônico, mas conhecemos mais o Espaço longínquo do que o fundo do mar.

A pesquisadora argumenta que, ao invés do caso de predação entre espécies de grandes tubarões ser um uma consequência das mudanças climáticas, onde alterações nos habitats dessas espécies as levariam a comportamentos extremos em prol da sobrevivência (o que não está de todo descartado), este pode ser um caso de interação entre tubarões pré-existente, que era desconhecido para nós.

De qualquer forma, o incidente é considerado preocupante, já que com uma população reduzida, predação por outros tubarões pode agravar a situação do tubarão-sardo como espécie ameaçada, ainda mais se considerarmos que uma fêmea fértil e filhotes viáveis foram perdidos.

Por outro lado, é preciso lembrar que tanto grande tubarão-branco quanto o tubarão-mako não estão melhor posicionados na Lista Vermelha da IUCN: o primeiro, assim como o barrilote, é classificado como "vulnerável", enquanto o segundo está ainda pior, sendo considerado uma espécie "em perigo".

Referências bibliográficas

ANDERSON, B. N., HORSTMYER, L., BALLARD, K. L. et al. First evidence of predation on an adult porbeagle equipped with a pop-off satellite archival tag in the Northwest Atlantic. Frontiers in Marine Science, Volume 11 (2024), 6 páginas, 3 de setembro de 2024.

DOI: https://doi.org/10.3389/fmars.2024.1406973

Fonte: Gizmodo

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