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Um fracasso chamado Concord

Nascido como uma das grandes apostas da Sony nos GaaS, Concord está sofrendo para conquistar jogadores e sua conversão em um F2P parece inevitável

02/09/2024 às 9:57

Lançado no final de agosto de 2024, Concord é o projeto de estreia da Firewalk Studios e surgiu como um dos primeiros Games as a Service (GaaS) da Sony. Porém, aquilo que poderia ser uma bela galinha dos ovos de ouro — tanto para a desenvolvedora quanto para a editora — está se mostrando um grande fiasco.

Concord

Crédito: Divulgação/Firewalk Studios

Parte do plano da Sony em investir pesado nos GaaS, Concord é o que podemos chamar de hero shooter, jogo na mesma categoria de títulos como Apex Legends, Overwatch 2, Tom Clancy's Rainbow Six Siege e Valorant. E até por pertencer a um gênero tão concorrido, desde o seu anúncio parecia claro que conseguir se destacar não seria uma tarefa simples.

Contudo, o que talvez nem o mais pessimista poderia imaginar é que o jogo se sairia tão mal, falhando em agradar à crítica, mas principalmente, em despertar o interesse do público. Com média 62 (apenas 1.8 por parte dos jogadores) no Metacritic, o desempenho do Concord se torna ainda pior quando olhamos para o número de pessoas que o estão jogando.

O primeiro indicativo de que o público não se interessou pela criação do Firewalk Studios foi dado logo após seu lançamento, quando o Steam registrou um pico de apenas 697 jogadores simultâneos. Sem que número aumentasse desde então, nas últimas 24 horas o máximo registrado foi de 119, o que por se tratar de um final de semana, é uma quantidade irrisória.

Mas estamos falando de um título lançado também para o PlayStation 5, então, seria justo classificá-lo como um fracasso sem olharmos para como ele está se saindo no console? O problema é que a Sony não divulga esses dados, mas considerando as informações obtidas pelo site IGN com alguns analistas de mercado, por lá o cenário não seria muito diferente.

Crédito: Divulgação/Firewalk Studios

Segundo Mat Piscatella, da Circana, no dia 26 de agosto o Concord registrou apenas 0.2% de todas as pessoas que estiveram jogando algo naquele videogame, ficando apenas na 147ª posição entre os títulos mais jogados no aparelho. Já Simon Carless, responsável pela newsletter GameDiscover.co, foi além, estimando que o jogo vendeu apenas 10 mil cópias no Steam e outras 15 mil no PlayStation 5.

Qual seria então o motivo para o jogo estar enfrentando tanta resistência por parte do público? Pois a resposta recai em três aspectos: o alto preço cobrado por uma cópia; uma fraca campanha de divulgação; e por fim, ele não ser muito diferente dos outros jogos do gênero que temos no mercado.

Começando pelo preço, Concord está sendo vendido por US$ 40 (ou R$ 199,50, por aqui), valor que muitos consideraram alto, principalmente quando pensamos que outros jogos do estilo (e já estabelecidos) podem ser obtidos gratuitamente. Some a isso a natural relutância das pessoas em migrar de um título para outro, o que normalmente só acontece quando seus amigos fazem o mesmo.

Os criadores de conteúdo também acabam tendo um papel importante na popularização de um jogo, especialmente um voltado para o multiplayer. Contudo, se essas pessoas desconfiam que não há muito interessem por parte da audiência, é natural que elas não invistam em um título que não se mostra popular e assim o círculo não é rompido.

Já no caso de um jogo distribuído gratuitamente, torna-se muito mais fácil lhe dar uma chance e seja lá por qual motivo o jogador não se interessar, basta deixá-lo de lado e partir para o próximo.

Crédito: Divulgação/Firewalk Studios

“Um grupo unido de jogadores pode estar disposto a se arriscar em um novo jogo gratuito, mas pagar US$ 40 é pedir muito no atual clima macroeconômico,” defendeu Rhys Elliott, da Midia Research. “Lançar o Concord como um jogo premium limitou seus números de público e a aquisição de jogadores. Quanto mais pessoas jogam um jogo, mais atraente ele se torna. Os efeitos de rede são cruciais para construir um ecossistema saudável e engajado.”

Para ele, o ideal seria o jogo ser distribuído gratuitamente ou pelo menos para os assinantes da PlayStation Plus. Isso lhe daria alguma chance de se destacar em um gênero tão concorrido e que, embora ainda seja possível fazer essa mudança de rumo, o analista suspeita que estrago já possa ter sido causado.

Quanto a sua divulgação, Piers Harding-Rolls, diretor de pesquisas da Ampere Analysis, afirmou que “embora tenha havido trailers e algumas revelações de jogabilidade do Concord, a promoção de pré-lançamento para o jogo parece ter sido relativamente limitada.” Joost van Dreunen, professor na NYU Stern School of Business, ainda ressaltou a importância desta etapa, afinal estamos falando de uma nova propriedade intelectual e que por isso não contava com uma base de fãs estabelecida.

Falta então a questão da diferenciação, algo que pode ter sido prejudicado pelo tempo que o Concord esteve em desenvolvimento. No forno há alguns anos, a ideia seria explorar um mercado que ganhava força, mas que rapidamente se tornou congestionado. Com sua jogabilidade sendo muito parecida com a do Overwatch 2, pode parecer repetitivo, mas temos que voltar à questão do preço: porque alguém pagaria um valor tão alto em um novo jogo em que seus amigos não estão, se pode jogar algo gratuito ao lado de muitas pessoas?

Concord

Crédito: Divulgação/Firewalk Studios

Tudo isso é suficiente para decretarmos a morte de mais um jogo que poderia durar por muitos e muitos anos? Acredito que não, e o motivo são os diversos projetos que tiveram um início complicado e com o tempo conseguiram se reinventar. No entanto, é evidente que a Sony está com uma tremenda batata quente nas mãos e aprendendo a duras penas que o mercado de GaaS é traiçoeiro, além de já ter vivido momentos melhores (ou mais acessíveis).

Mesmo correndo o risco de errar nesta previsão, a sensação que tenho por enquanto é que transformar o Concord em um jogo gratuito parece inevitável. Oferecê-lo aos assinantes da PlayStation Plus também pode ser uma boa ideia, mas ela poderia funcionar melhor se tivesse sido adotada desde o primeiro dia, já que hoje deixaria os jogadores de PC de fora. Fazer isso agora pode acabar irritando ainda mais essa parcela do público e o que os possíveis interessados precisam neste momento é do máximo de agrados possíveis.

Caso a Sony realmente resolva apostar no modelo free-to-play, pode ser que o jogo se salve e tenha uma sobrevida. Caso contrário, o provável é que estejamos diante de mais um título que mal nasceu e já terá seus servidores deligados.

Update: a Sony preferiu não esperar e através do blog oficial do PlayStation confirmou que o jogo será retirado das lojas online já na próxima sexta-feira (6). Com isso, aqueles que adquiriram o Concord terão direito a um reembolso e assim que isso acontecer, os compradores perderão o acesso aos servidores. Segundo o comunicado, a empresa reconhece que o título não foi bem recebido pelo público e que agora irá “explorar opções, incluindo aquelas que alcançarão melhor os jogadores.”

Quando disse que podíamos estar vendo um jogo natimorto, eu sinceramente não imaginava que eles desistiriam tão rápido. A minha dúvida agora é, será que a marca ainda terá força para um relançamento?

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