Meio Bit » Entretenimento » O Exterminador do Futuro Zero — fé (nas máquinas?) restaurada

O Exterminador do Futuro Zero — fé (nas máquinas?) restaurada

Minissérie animada O Exterminador do Futuro Zero bota ordem na casa, explica sua confusa cronologia, e é a melhor obra da franquia em anos

30/08/2024 às 12:30

O Exterminador do Futuro Zero, é a nova minissérie anime em 8 episódios produzida pelo estúdio japonês Production I.G (Ghost in the Shell), criada em comemoração aos 40 anos da franquia.

A obra se safa de comparações e da carga da expectativa ao focar em personagens, lugares, e acontecimentos completamente separados do núcleo John/Sarah Connor, ao apresentar uma nova ameaça à Skynet, que pode, ou não, ser uma chance de sobrevivência para a humanidade.

O Exterminador do Futuro Zero (Crédito: Reprodução/Production I.G/Skydance Television/Netflix/Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

O Exterminador do Futuro Zero (Crédito: Reprodução/Production I.G/Skydance Television/Netflix/Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

O Exterminador do Futuro, o filme original concebido por James Cameron e Gale Anne Hurd, gerou vários altos e baixos ao longo das décadas, com boas produções e outras nem tanto. Gênesis (2015) foi espinafrado pela crítica, enquanto Destino Sombrio (2019) foi visto como um filme que apela principalmente para o público mais velho.

Zero se afasta do resto e segue um caminho próprio e, ao mesmo tempo, se mantém fiel ao que todo mundo espera de um novo produto da marca, com boas doses de violência e ação desenfreadas.

Um Exterminador não precisa de um coração

A história da minissérie se passa em 1997 em Tóquio (é um anime, o que você esperava?), dias antes do Dia do Julgamento. Malcolm Lee é um cientista misteriosamente atormentado (é explicado depois) com visões do futuro, e dedica seu tempo àquilo que ele considera a última alternativa contra a IA do mal, que é... outra IA.

Lee criou Kokoro ("coração" em japonês) na esperança de que um algoritmo superior, não projetado inicialmente como um sistema bélico de defesa, será capaz de entender melhor a humanidade, e agir como uma contramedida à ativação da Skynet, atuando para impedir o ataque nuclear que desencadeará o apocalipse, o quase completo extermínio da humanidade, e a conseguinte guerra contra as Máquinas.

Nesse momento, dois viajantes do tempo chegam a Tóquio: a membro da resistência Eiko, e um inevitável Exterminador, que estão atrás de Malcolm e sua família, seus filhos Kenta, Hiro e Reika, e da babá Misaki, por motivos distintos, mas alinhados: o trabalho de Malcolm é uma ameaça ao futuro.

Malcolm Lee é o Miles Dyson da vez (Crédito: Reprodução/Production I.G/Skydance Television/Netflix)

Malcolm Lee é o Miles Dyson da vez (Crédito: Reprodução/Production I.G/Skydance Television/Netflix)

O que se segue é puro caos, do Exterminador solto em Tóquio e fazendo o que faz de melhor, a Eiko tentando impedir que Malcolm ative Kokoro, vista não como uma salvadora, mas como uma ameaça ainda pior que a Skynet.

Arrumando a bagunça

Sem dourar a pílula, a franquia O Exterminador do Futuro nunca foi um primor de extrema qualidade. Os mais xiitas defendem que apenas os dois primeiros filmes prestam, outros curtem o terceiro, e alguns defendem os posteriores, e/ou a série para a TV The Sarah Connor Chronicles. Fora isso, a cronologia dos eventos mostrados em cada filme ou série nunca foi muito bem explicada.

Nesse sentido, O Exterminador do Futuro Zero presta um grande serviço aos fãs, ao finalmente explicar como a viagem no tempo na franquia funciona. Através da explicação dada pela Profeta a Eiko, nós descobrimos que cada vez que um humano ou Exterminador viaja para o passado, sua presença ali criará uma linha do tempo diferente da qual ele veio, e para a qual ele não pode voltar.

Obrigado Profeta, por arrumar a casa (Crédito: Reprodução/Production I.G/Skydance Television/Netflix)

Obrigado Profeta, por arrumar a casa (Crédito: Reprodução/Production I.G/Skydance Television/Netflix)

Assim, não existe uma "linha do tempo sagrada" na franquia, cada filme e série existe em sua própria linha. A partir de T2, o tempo se divide em três futuros distintos, T3/A Salvação, The Sarah Connor Chronicles, e Destino Sombrio, cada um com sua sequência de eventos, e anos diferentes em que o Dia do Julgamento ocorre (2003, 2011, e início dos anos 2020, respectivamente).

Gênesis, por sua vez, muda todos os acontecimentos do primeiro filme e gera sua própria linha do tempo, em que o apocalipse ocorreria em 2017, mas foi postergado; Zero segue a base do primeiro filme, com o Dia do Julgamento ocorrendo na data original, às 2:14 do dia 29 de agosto de 1997, e desenrola seus próprios eventos isolados.

Isso porque a criação de Kokoro gera consequências globais, ela de fato é uma ameaça à Skynet E à humanidade, pois como uma boa e competente IA, ela pode acabar vendo os humanos, assim como as máquinas originais, como o que eles são: uma raça belicosa, egoísta e inferior, que não merece viver.

Outro ponto positivo em relação a Zero, é o formato de série permitir um ritmo mais cadenciado para desenvolver a trama, e trabalhar com nuances sob o acetato; as motivações de Malcolm, o papel de Eiko, a missão do Exterminador, o destino dos filhos do cientista, a presença da Misaki... nem tudo é o que parece.

"Eu entendi essa referência!" (Crédito: Reprodução/Production I.G/Skydance Television/Netflix) / exterminador

"Eu entendi essa referência!" (Crédito: Reprodução/Production I.G/Skydance Television/Netflix)

Tecnicamente, O Exterminador do Futuro Zero é excelente. O trabalho do estúdio Production I.G, visto nos longas animados e as séries para a TV da franquia Ghost in the Shell (nota adicional: RIP Atsuko Tanaka, a voz original de Motoko Kusanagi. Sentiremos sua falta, major), no episódio O Nono Jedi, da 1.ª temporada da antologia Star Wars: Visions, e em obras como FLCL, Haikyu!, e na animação recente baseada em Ultraman, entre outras, continua impecável.

O roteiro, escrito por Mattson Tomlin, co-responsável pela história de Batman II com Matt Reeves, é bem enxuto e descomplicado, e o diretor Masashi Kudō (Bleach) soube conduzir bem a narrativa, como há muito não se via em uma obra da franquia O Exterminador do Futuro.

A dublagem também é caprichada: no áudio em inglês, temos Timothy Olyphant como o Exterminador, Sonoya Mizuno (a Mysaria de A Casa do Dragão) como Eiko, e Rosario Dawson (a atual Ahsoka Tano, e a Claire Temple/Enfermeira Noturna das séries da Marvel para a Netflix) como a IA Kokoro.

No áudio em japonês, a mesma personagem é interpretada por Atsumi Tanezaki, a voz da protagonista de Frieren e a Jornada para o Além, coincidentemente um dos últimos trabalhos originais de Atsuko Tanaka, onde ela dublou a maga Flamme.

Por fim, fica o aviso: a série recebeu classificação 16+ e é violenta até dizer chega, com sangue para todo lado, desmembramentos, cabeças explodindo, gente sendo metralhada sem dó, o que se espera de um anime baseado em uma das obras pós-apocalípticas mais famosas, e viscerais, do entretenimento pop.

Conclusão

É irônico pensar que O Exterminador do Futuro Zero é uma das melhores obras baseadas na franquia, e a única que se afastou completamente do núcleo e personagens manjados para contar uma história nova, mas familiar, mantendo os tons sombrios e a linguagem de violência e ação, marcas registradas de James Cameron.

O resultado é uma minissérie enxuta, com personagens cativantes, uma nova trama bem amarrada em volta de um plot principal mais do que conhecido, e um excelente entretenimento para uma tarde maratonando séries no streaming.

Como esperado, Eiko é ótima no que faz (Crédito: Reprodução/Production I.G/Skydance Television/Netflix) / exterminador

Como esperado, Eiko é ótima no que faz (Crédito: Reprodução/Production I.G/Skydance Television/Netflix)

É bom ver novas abordagens de uma marca que todos conhecem, e a linguagem anime casou muito bem com O Exterminador do Futuro, melhor do que outras adaptações recentes, principalmente pelo fator ação e tripas voando para todo lado, o que é sempre divertido de se ver.

Nota:

(Crédito: Reprodução/Production I.G/Skydance Television/Netflix)

5/5 Kokoros.

Onde assistir:

O Exterminador do Futuro Zero está disponível na Netflix.

relacionados


Comentários