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Startup espacial quer viver de luz

Viver de luz não é para qualquer um, mas uma startup quer colocar satélites em órbita para alimentar fazendas solares durante a noite

28/08/2024 às 14:34

Apesar do que aquela dona que foi no Jô dizia, viver de luz não é fácil, se você não for uma planta, mas nossa sociedade inteira é baseada em luz. Aquele delicioso steak de 3cm de espessura, malpassado cortado na sua frente, nada mais é que luz solar transformada em plantas, convertida em boi.

Espelho, espelho meu... (Crédito: Reflect Orbital)

Energia solar é vendida como infinita, gratuita e confiável, mas isso é relativo. O máximo de energia solar na superfície da Terra, ao meio-dia de verão no Equador (a linha, não o país) é de 1000 watts por metro quadrado.

A eficiência média de uma placa coletora solar vendida em loja é na casa de 20%, então por metro quadrado uma placa consegue no máximo 200 watts, o que explica não ser possível usar placas solares no teto de carros elétricos, não á área suficiente para gerar energia significativa.

Claro, ao contrário de Ruby, painéis solares escalam muito bem, são ótima opção em telhados de casas, prédios, estacionamentos, onde funcionam sem dar trabalho, suplementando a energia da grade.

O grande inconveniente dos painéis solares, que os engenheiros preguiçosos se recusam a resolver, é que eles só funcionam quando iluminados, e durante a noite, não geram energia.

Essa inadmissível ausência do Sol à noite é um problema que tem solução, e a resposta vem de uma Startup chamada Reflect Orbital. Eles querem colocar uma constelação de satélites em órbita, com espelhos apontando para a Terra.

Esses satélites orbitariam sobre o Terminador, que não é o Arnold, mas a linha de separação entre o dia e a noite.

A linha do Terminador (Crédito: NASA)

Usando uma órbita Helios síncrona, o satélite permanece alinhado com o Sol, e pode refletir luz no lado onde já é de noite.

A idéia em si não é nova. Durante a Guerra do Vietnã foi aventada a possibilidade de usar espelhos orbitais para iluminar o campo de batalha, negando ao inimigo o esconderijo da noite. Na ficção científica, várias histórias desde os Anos 50 usam espelhos para iluminar cidades.

Durante a Segunda Guerra Mundial. Hermann Oberth, um dos mais veneráveis cientistas alemães, propôs a construção do sonnengewehr, um espelho orbital com 100 metros de diâmetros, que orbitaria a Terra a uma altitude de 8200Km e seria capaz de destruir cidades.

Ao contrário do que o youTube caça-cliques sugere, o sonnengewehr nunca foi uma proposta séria, no máximo algo discutido em alguma cervejaria. As estimativas alemães eram que seria possível desenvolver essa tecnologia em 50 ou 100 anos. Rápido, se levar em conta que o Reich deveria durar 1000 anos. (Spoiler: não durou)

O tal raio da morte alemão (Crédito: Reprodução Internet)

A proposta da Reflect Orbital tem seus méritos, e bastante pontos questionáveis.

Eles calculam que serão capazes de fornecer 500W de energia para os painéis solares em terra, o que significa, no melhor cenário, 50% a menos de capacidade de geração. Claro, 50% de luz é melhor do que nada.

Como os satélites ficam apenas alguns minutos sobre o alvo, terão que usar um monte deles, se quiserem fornecer energia constante.

No final, tudo se resume a custo. Colocar satélites em órbita sai mais barato do que construir bancos de baterias para armazenar o excedente energético da fazenda solar, e disponibilizar durante a noite?

Quanto aumentará no custo da energia solar, bancar uma constelação de satélites?

HOJE já dá pra dizer que a conta não fecha, mas se a Starship da SpaceX se tornar operacional, o custo de kg em órbita cairá mais de 10x, viabilizando todo tipo de projeto.

Outro uso da tecnologia da Reflect Orbital é levar luz aos desalumiados. Imagine áreas de desastres sendo iluminadas do espaço, facilitando a busca por vítimas. Eventos como jogos de futebol economizariam uma fortuna usando iluminação orbital, e com parcimônia, essa tecnologia pode ser usada para estimular crescimento de plantas e algas.

Dará certo? Dificilmente, esse tipo de Start Up não costuma durar muito tempo, mas é sempre bom ver gente pensando no futuro...

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