Meio Bit » Games » Quando Randy Pitchford deu bom-dia a cavalo

Quando Randy Pitchford deu bom-dia a cavalo

Cinco anos após previsão de Randy Pitchford, o Steam segue líder do mercado e sem que a Epic Games Store dê indícios de que poderá superar a loja da Valve

26/08/2024 às 10:09

Tentar fazer previsões sobre o mundo da tecnologia não é uma tarefa fácil e quando você é uma figura que está a frente de uma grande empresa, talvez o melhor seja não se arriscar dizendo o que imagina que acontecerá no futuro. Porém, há alguns anos Randy Pitchford não teve medo de usar sua bola de cristal e agora, sem que o pressentimento do fundador da Gearbox se confirmasse, as redes sociais aproveitaram para cobrar e debochar de suas palavras.

Crédito: Divulgação/Gearbox

Mas antes de chegarmos aos últimos dias, precisamos voltar para 2019, quando o Boderlands 3 chegava com exclusividade (no PC) à Epic Games Store (EGS). Com boa parte dos consumidores insatisfeitos com a decisão da desenvolvedora, o executivo publicou um longo fio no X (então Twitter) para defender a escolha e nele fez algumas críticas ao Steam.

Embora admitisse que naquela ocasião a Epic Games Store ainda carecia de muitos recursos presentes na loja da Valve, Randy Pitchford se mostrou empolgado com o que a Epic planeja. Além disso, ele afirmou que o iminente lançamento de um jogo com a relevância que eles estavam produzindo aceleraria esse processo, o que o fez começar a onda de previsões.

“Se eu fosse apostar nisso (e lembre-se que tenho um lugar muito bom com uma ótima visão dessa competição), a Epic inevitavelmente passará a Valve em recursos e qualidade de serviço,” afirmou. “A Epic está configurada de forma diferente da Valve neste momento [...] A Valve é uma empresa privada e, até onde podemos ver, uma grande parte do valor que a Valve gerou foi usado para enriquecer o punhado de pessoas que possuem e administram a empresa.”

Pitchford continuou, dizendo que “os acionistas da Epic estão *muito* motivados a não tirar as fichas da mesa, por assim dizer, mas a reinvestir essas ações na empresa.” Essas ações estavam valorizadas e os acionistas queriam fazer com que elas aumentassem ainda mais. Então, ao apostarem em exclusivos de grande porte, a loja supostamente conseguiria atrair a atenção do público, o que, em contrapartida, seria benéfico para todos, pois acabaria com — ou pelo menos reduziria o — monopólio do Steam.

Randy Pitchford

Randy Pitchford (Crédito: Divulgação/Gearbox)

Para ele, a única empresa capaz de encarar o serviço de distribuição digital da Valve seria a Epic Games, quando ele fez a declaração que seria lembrada agora: “Do ponto de vista histórico, a minha expectativa é que o investimento da Epic em tecnologia supere substancialmente o da Valve. Quando olhamos para o Steam em cinco ou dez anos, ela pode parecer uma loja moribunda e outras lojas competitivas serão o lugar para estar,” previu.

Boa parte desses comentários foram apagados por Randy Pitchford com o passar do tempo e está mais claro do que nunca que ele não deveria ter feito tais afirmações. Além de o Steam seguir firme e forte na liderança da distribuição digital para PC, a EGS continua não oferencendo a maioria dos recursos presentes na loja da Valve, uma demonstração de que as pessoas não estão interessadas apenas em descontos ou jogos oferecidos gratuitamente.

Do lado das empresas, algumas ainda preferem lançar seus títulos exclusivamente na loja da Epic, embora ela mesma admita que esse não é um negócio tão lucrativo quanto poderia parecer. Também pesa o fato de que não ter um lançamento na principal loja da plataforma aumenta a chance de as vendas não serem tão boas e a própria Gearbox parece admitir isso, ao recém-anunciar que o Boderlands 4 também será lançado no Steam.

Por sinal, esse “retorno para casa” foi o que desencadeou as cobranças a Pitchford, com diversas pessoas indo à conta do sujeito para lhe dizer que o serviço da Valve segue muito bem, obrigado. Pois ele resolveu responder um seguidor sobre o assunto, dizendo que “o Steam é a loja líder em jogos de PC e a Epic não está pressionando sua vantagem (o que é uma pena.)” O executivo então garantiu ser um cliente do Steam, mas que “gostaria que houvesse mais e melhor concorrência que fosse mais favorável a artistas, designers e criadores, do que ao varejista.”

Crédito: Divulgação/Gearbox

Embora não tenha entrado em detalhes sobre o que seria continuar pressionando essa vantagem, ele parece ter esquecido que mesmo durante esses cinco anos, a Epic Games Store pouco evoluiu em termos de recursos para o público. É provável que vários desenvolvedores tenham se beneficiado de acordos que garantiram que projetos fossem concluídos, o que consequentemente foi bom para nós, mas pensando na loja, será que temos grande motivos para comemorar de 2019 para cá?

Pode ser então que a vantagem a que Randy Pitchford se referiu fosse financeira e quanto a isso, há pouco o que questionar. Segundo uma matéria publicada pela Reuters em fevereiro deste ano, hoje a Epic Games valeria cerca de US$ 22,5 bilhões. Já o valor da Valve é mais difícil de calcular, afinal suas ações não estão na bolsa, mas estimativas falam em algo entre US$ 6 bilhões e US$ 10 bilhões.

De qualquer forma, dinheiro é algo que não faltaria para a Epic Games entrar na briga e os US$ 310 milhões que a empresa teve de prejuízo com a aquisição de exclusivos em 2020 serve para mostrar isso. Logo, seria nesse sentido que a EGS não soube pressionar sua vantagem?

O que também não sabemos é se essa decisão de levar o Borderlands 4 para o Steam foi uma escolha da Gearbox/2k Games ou se a Epic Games simplesmente não se interessou em pagar pela exclusividade. No caso do antecessor, isso custou US$ 80 milhões aos cofres da empresa, quantia que a editora receberia mesmo se as vendas não atingissem tão número. Porém, o valor foi recuperado em apenas duas semanas, então, me pergunto porque a loja não estaria disposta a investir novamente em uma exclusividade temporária.

Crédito: Divulgação/Gearbox

O fato é que segundo os documentos da briga jurídica entre a Apple e a Epic, esta imaginava que até 2024 sua loja controlaria entre 35 e 50% do mercado de jogos para PC, algo que parece longe de acontecer. Isso porque, enquanto em 2023 a EGS registrou US$ 950 milhões gastos pelos consumidores, o Steam passou de US$ 8,8 bilhões. Portanto — e depois de alguns fracassos na aquisição de exclusivos —, é provável que Tim Sweeney e seus comandados tenham decidido que era melhor não jogar na loteria novamente.

No fim das contas, acho que saímos ganhando. Quando o quarto capítulo da série principal Borderlands for lançado, quem optar por comprar pela EGS poderá fazer isso e quem preferir jogar pelo Steam, não precisará esperar o fim de uma possível exclusividade.

Já em relação a Randy Pitchford, consigo entender a empolgação do executivo na época e até seu desejo por uma maior concorrência. Porém, é como defende a sabedoria popular: “quem fala demais...”

relacionados


Comentários