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Quem são os (esquecidos) Eternal Champions da Sega

O cinema ganhará uma adaptação de Eternal Champions, mas você conhece o jogo de luta que a Sega lançou para o Mega Drive e que ousou desafiar gigantes?

20/08/2024 às 11:38

Enquanto o mundo voltava sua atenção para o duelo travado entre os gigantes Street Fighter II: The World Warrior e Mortal Kombat, a Sega decidiu ousar. Aproveitando o sucesso que os jogos de luta faziam no início da década de 90, a empresa ignorou os fliperamas e levou para o Mega Drive um interessante, divertido e um tanto menosprezado título. Mais de 30 anos depois, Eternal Champions está voltando, mas não como muitos poderiam imaginar e sim como um filme live-action.

Eternal Champions

Crédito: Divugação/Sega

A surpreendente novidade foi revelada pelo site The Hollywood Reporter e embora um diretor ainda não tenha sido apontado para o projeto, já sabemos quem ficará responsável por escrever o seu roteiro: Derek Connolly.

Mesmo roteirista que assumiu a dura tarefa de levar a franquia The Legend of Zelda para as telonas, Connolly é mais conhecido pelo trabalho na série Jurassic World, mas também escreveu as histórias de filmes como Kong: A Ilha da Caveira, Pokémon: Detetive Pikachu e Star Wars: A Ascensão Skywalker.

Mas e quanto ao material que ele poderia explorar nesta adaptação do Eternal Champions? Será que há conteúdo suficiente para dar origem a um filme? Pois é aí que esse projeto começa a ficar interessante.

Embora esse aspecto tenha ganhado uma maior atenção com o passar dos anos, o enredo não costuma ser um dos pontos que mais atrai a atenção das pessoas nos jogos de luta, mas aquela criação da Sega tinha uma premissa que sempre considerei muito legal.

Nele, um ser muito oniciente conhecido como o Campeão Eterno previu que a humanidade sucumbirá e o motivo é a morte injusta de pessoas que estavam destinadas a feitos grandiosos. Para corrigir essa falha, a figura decide salvar tais indivíduos pouco antes de suas mortes, mas como ele só poderá restaurar a vida de um deles, resolve colocá-los em um torneio, com o vencedor podendo restaurar o equilíbrio do universo.

Eternal Champions

Crédito; Reprodução/Unicorn Lynx/MobyGames

Tudo bem, olhando agora, a ideia parece um tanto absurda, mas há dois detalhes na história do Eternal Champions que ajudam a torná-la mais divertida. A primeira é que nenhum dos lutadores é mau, já que possuem o potencial para fazer grandes coisas e mudar o rumo da história. Já a segunda é que cada personagem veio de uma era diferente, fazendo com que poucos elencos de um jogo de luta pareçam tão intrigantes quanto este.

E para entender até onde foi a criatividade da equipe responsável pelo jogo, aqui vai um resumo de cada lutador:

  • Blade – Jonathan Blade é um caçador de recompensas sírio que veio do ano 2030. Após ser contratado pelo governo para rastrear um terrorista que roubou um vírus letal, ele vê uma força de elite abrir fogo contra o sujeito, que deixa o recipiente com o vírus cair, libertando a ameaça e causando uma pandemia.
  • Jetta Maxx – Membro da aristocracia russa, ela vivia no ano 1899 e trabalhava disfarçada como acrobata em um circo. Sua morte aconteceu após um boxeador sabotar  seu equipamento antes de uma apresentação na China, fazendo com que caísse diante da plateia. Quando as autoridades descobrem a identidade, a tensão irrompe entre as nações.
  • Larcen Tyler – Um ex-ladrão da Chicago de 1920, ele trabalhava para um chefão do crime local e foi contratado para plantar evidências no quarto de hospital de um líder rival da máfia. Porém, ao chegar no local, o sujeito descobre que o alvo era o chefe da polícia e que a tal prova, na verdade, era uma bomba, que explode e destrói boa parte do lugar.
  • Midknight – Mitchell Middleton Knight era um bioquímico britânico que foi contratado pelos Estados Unidos para aumentar o suprimento de água durante a Guerra do Vietnã, em 1967. Após ser exposto a um produto químico, sofreu uma mutação e se tornou uma espécie de vampiro, tendo sido morto por um caçador antes que pudesse encontrar uma cura para si e para várias outras pessoas que foram infectadas.
  • R.A.X. Coswell – Um kickboxer cibernético trazido do ano 2345, cujo exoesqueleto foi infectado com um vírus pelo seu treinador para que perdesse uma luta importante. O resultado foi sua morte durante o duelo.
  • Shadow Yamato – Uma ninja dos tempos modernos, vivia no Japão em 1993 e foi arremessada do topo do prédio do seu empregador, antes que pudesse expor os assassinatos que o sindicato a que pertencia estava cometendo.
  • Slash – Um caçador pré-histórico que vivia no ano 50 mil a.C. Foi condenado à morte pelos chefes da tribo quando estes começaram a perceber a inteligência que aquele sujeito possuía, já que aquilo poderia lhes tirar o poder.
  • Trident – Um ser criado artificialmente pelos atlantes em 110 a.C. Foi assassinado por um rival antes que pudesse participar da última partida do torneio de gladiadores. O resultado daquela atitude foi os romanos banirem toda civilização atlante para o oceano, onde acabaram sendo aniquilados.
  • Xavier Pendragon – Foi um estudante alquimista em 1692 e que acabou executado pela falsa acusação de bruxaria durante os Julgamentos das Bruxas de Salém.

Crédito; Reprodução/Unicorn Lynx/MobyGames

Como Derek Connolly dará o devido tratamento a todas essas histórias em apenas cerca de duas horas, é algo que estou curioso para ver e por isso acredito que o melhor aqui seria transformar o Eternal Champions em uma série. O risco aqui é fazer com que tudo pareça muito superficial, sem que o público consiga criar empatia por nenhum dos personagens.

Outro detalhe que me faz pensar é a Classificação Indicativa que o filme receberá. Além da sua história mais sombria, envolvendo o fim da humanidade e pessoas salvas na iminência de suas trágicas mortes, o jogo contava com golpes parecidos com os Fatalities da franquia Mortal Kombat, aqui chamados de Overkills. Será então que na adaptação também teremos pessoas sendo eletrocutadas em letreiros, queimando em fogueiras ou metralhadas por gangsteres?

De qualquer forma, é curioso pensar que o jogo poderia ter seguido por um caminho muito diferente. Segundo o produtor da Sega of America, Scott Berfield, “a ideia original era ir muito além e fazer um jogo realmente bruto, engraçado e artisticamente impressionante, com controles rígidos (basicamente copiando o esquema do Street Fighetr II).” Para ele, o que recebemos foi algo “chato, com uma arte chata e controles desleixados”, que “parecia que foi desenvolvido por pessoas que nunca tinham jogado um jogo de luta de vida.”

Se Berfield foi duro demais em sua crítica ou não, o fato é que o Eternal Champions conquistou o seu público. Além de chamar a atenção por ser um exclusivo, ele permeou o sonho de muita gente, pois podia ser jogado com o Sega Activator, um sistema de detecção de movimentos que, mesmo com a sua imprecisão, antecedeu (e muito) o Kinect.

Desta forma, as vendas fizeram com que a Sega continuasse apostando naquele jogo nos anos seguinte, lançando os spin-offs Chicago Syndicate para o Game Gear e o terrível beat-'em-up X-Perts, para o Mega Drive. O Sega CD ainda receberia o Eternal Champions: Challenge From the Dark Side, que muitos chamavam de Eternal Champions 2 e havia diversos motivos para isso.

Além de trazer diversas mudanças na jogabilidade, incluindo três novos tipos de finalizações, como a Sudden Death que podia ser ativada quando o oponente ainda tinha um pouco de energia, a Vendetta e outra chamada Cinekill. O jogo também ganhou combos e se tornou ainda mais violento.

Contudo, a maior adição nesta versão foram os novos lutadores, 13 no total, sendo nove desbloqueáveis. Os personagens iam desde um Ramses III até um senador dos Estados Unidos, passando por um xerife do Velho Oeste, um piloto de helicóptero que morreu no Vietnã, um pirata e acredite, um cachorro, um macaco e até mesmo uma galinha.

Eternal Champions: Challenge From the Dark Side

Propaganda provocando a série Mortal Kombat (Crédito: Reprodução/The Fighters Generation)

Logo após o lançamento desse jogo, a Sega anunciou a produção do Eternal Champions: The Final Chapter, que deveria ser lançado para o Saturn, mas algo impediu que o projeto continuasse e quem explicou o “culpado” por isso foi o designer responsável pela série, Michael Latham.

“A Sega of japan sentiu que o Eternal Champions estava impedindo que o Virtua Fighter se tornasse mais bem-sucedido nos Estados Unidos e que seria melhor se a companhia focasse em apenas uma franquia... e a Sega é uma companhia japonesa, o Japão venceu,” contou. “Foi um golpe esmagador e a única vez em quase uma década de trabalho na Sega que considerei desistir. Fiquei principalmente pela esperança de mudar essa decisão, mas infelizmente nunca consegui. Mesmo quando fizemos o projeto para a Heat.net, não conseguimos usar os personagens do Eternal como bônus escondido. Do ponto de vista do Japão, o jogo nunca existiu, apesar de suas vendas estelares e até mesmo das ofertas para fazer histórias em quadrinho e um desenho animado sobre eles.”

Talvez Latham tenha ficado feliz com o anúncio dessa adaptação para o cinema, mesmo com ela tendo aparecido tão tarde. Porém, com a qualidade desses projetos tendo aumentado bastante nos últimos anos, pode ser que agora a saudosa franquia criada por ele finalmente receba o tratamento que ele tanto queria, mesmo que isso não aconteça na forma de um novo jogo.

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