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Quicksink, a bomba projetada para errar o alvo

Quicksink é uma bomba feita para errar o alvo, caindo ao lado de navios e causando uma destruição muito maior — e bem mais barata

17/08/2024 às 17:15

Durante a batalha de Midway, bomba foi o que não faltou. Depois que os aliados decodificaram a criptografia japonesa e determinaram que o alvo AF era Midway, se prepararam para um ataque que rivalizaria Pearl Harbor.

Dramatização bem dramática da bomba explodindo errado (Crédito: Flux)

Quando a frota japonesa foi localizada, os americanos lançaram um ataque coordenado com 233 aviões, 88 deles caças-bombardeiros configurados para ataque naval.

Cada um dos 47 SBD Dauntless levava uma bomba de 450 kg e duas bombas de 50 kg. Os 41 aviões levando torpedos não contam, por problemas de projeto todos os torpedos falharam.

Enfrentando os caças inimigos, a artilharia antiaérea e a dificuldade de acertar um alvo móvel no mar, os pilotos americanos mesmo assim conseguiram atingir os quatro porta-aviões da esquadra japonesa, afundando todos eles.

O que é surpreendente é a quantidade de bombas que atingiu cada um:

  • Akagi: 1 bomba;
  • Kaga: 4 bombas;
  • Soryu: 3 bombas;
  • Hiryu: 4 bombas.

Imagine a complexidade: Lançar centenas de aviões para UMA bomba atingir o alvo.

Em tempos em que forças aéreas inteiras raramente têm centenas de aviões, ão inviáveis ataques nessa escala, com margem de acerto tão pequena.

Hoje em dia todo mundo prefere mísseis de cruzeiro ou hipersônicos, mas esse tipo de armamento tem o inconveniente de custar caro, muito caro. A forma mais barata e afundar um navio ainda é um torpedo, mas nem sempre você tem um submarino por perto, e o contra-ataque pode ser prejudicial à saúde dos marinheiros.

Representação otimista - muito otimista - de ataque chinês com mísseis hipersônicos a um porta-aviões americano (Crédito: Reprodução Internet)

A principal vantagem dos torpedos é que são muito mais eficientes do que bombas, mesmo bombas de uma tonelada não chegam aos pés dos danos que um torpedo ADCAP com ogiva de 300Kg é capaz de causar, tudo devido à Física.

Nos filmes os torpedos atingem os navios em cheio, abrindo um buraco no casco. Durante a Segunda Guerra Mundial era assim mesmo, até os nazistas desenvolverem torpedos com sensores magnéticos, o que os tornou muito mais letais.

Ao invés de um torpedo abrir um buraco no navio, ele agora era programado para passar por baixo da embarcação, e quando detectasse o casco de metal, detonar a ogiva.

O vilão (ou herói, dependo do lado que você está) aqui é... a água. Como aprendemos na escola, água é um fluido incompressível, ou seja: ao contrário de substâncias como farofa, carvão, aço, estagiários, por mais que você aplique pressão à água, ela não se comprime, ou comprime muito pouco.

Isso chega a tais extremos que a 10Km de profundidade, 1000 atmosferas de pressão, a água só é 0.5% mais densa que na superfície do oceano.

Um efeito colateral é que água não absorve a energia cinética de uma detonação, ela passa adiante. Então quando um torpedo explode debaixo de um navio, essa explosão gera uma coluna de água se movendo em alta velocidade e pressão, empurrando tudo em seu caminho.

Esse princípio vale para minas navais também, que ficam fundeadas no oceano, esperando a passagem de navios e detonando embaixo deles.

QuickStrike

Minas são normalmente lançadas de navios ou submarinos. Também é possível lançá-las de avião, mas é perigoso, você tem que voar baixo e lento. Na 2.ª Guerra dava pra se safar, fazendo missões noturnas, mas com radares hoje em dia não funciona mais.

Um belo dia um sujeito teve a ideia de unificar minas lançadas de grande altitude, com para-quedas, com kits JDAM (Joint Direct Attack Munition), aquele conjunto de asinhas e sistema de navegação que transformam uma bomba burra e barata em uma bomba inteligente e barata.

Uma mina Quickstrike de treinamento, inerte, presa a um bombardeiro B-52 (Crédito: USAF)

A bomba JDAM recebia um kit de mina, com detectores acústicos e magnéticos, âncora, etc. era lançada de grande ou média altitude, planava até a região programada, abria um para-quedas e navegava até o ponto onde cairia no mar e se prepararia para detonar se fosse o caso.

QuckSink

Trabalhando em cima da QuickStrike, alguém pensou: E se a gente ao invés de uma mina, tratasse a QuickStrike como uma... bomba? Só que usando os sensores da mina, e criando um kit de alvo que identificasse um navio inimigo, travasse nele, com precisão suficiente para acertar não no navio, mas no mar, logo ao lado, e após alguns metros de penetração (ui!) na água... CABUM?

Esse tipo de precisão é algo totalmente fora dos sonhos mais desvairados de qualquer cientista ou piloto da Segunda Guerra, mas hoje em dia tempos capacidade de computação de sobra, e a ideia foi muito bem aceita pelos generais da Força Aérea dos EUA, sempre atrás de custos para cortar.

Em 22 a primeira bomba/mina (a nomenclatura não é clara até hoje) QuickSink foi testada. Com resultados excelentes e incontestáveis.

Uma bomba que custa menos de US$ 100 mil, lançada de 74 km de distância e que afunda um navio de US$ 1 bilhão sem maiores problemas. Agora imagine uma esquadrilha de F18 lançando cada um umas 4 ou 6 dessas.

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