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Os Aventureiros do Bairro Proibido e o jogo que poderia ter sido

Fundador da Apogee Software revela que tentou convencer a 20th Century Fox a criar um jogo de Os Aventureiros do Bairro Proibido no estilo Duke Nukem 3D

9 semanas atrás

Para as pessoas da minha geração, um dos passatempos preferidos nas tardes de parte das décadas de 80 e 90 era sentar-se em frente a televisão para assistir à Sessão da Tarde. E entre as várias galerinhas do barulho que viveram muitas confusões naquelas produções, uma estava em um filme que fracassou nas bilheterias, mas se tornou um clássico cult. Seu nome era Big Trouble in Little China, ou como ficou conhecido por aqui, Os Aventureiros do Bairro Proibido.

Os Aventureiros do Bairro Proibido

Crédito: Divulgação/20th Century Fox

Lançado em 1986, o filme foi dirigido por John Carpenter e contava a história de Jack Burton, um caminhoneiro vivido por Kurt Russell que embarca em uma missão para resgatar a noiva de seu amigo Wang Chi, interpretado por Dennis Dun, e que foi raptada por uma gangue conhecida como Senhores da Morte.

O interesse dos bandidos pela donzela estava no fato de a chinesa Miao Yin, interpretada por Suzee Pai, ter os olhos verdes, característica necessária para que um antigo feiticeiro chamado David Lo Pan pudesse realizar um ritual e assim se livrar de uma maldição que o persegue há séculos.

A premissa pode parecer um tanto galhofa e é mesmo, assim como o restante do filme, que colocava o grupo de heróis para enfrentar diversos monstros e vilões memoráveis, como Os Três Temporais. Desses, o destaque vai mesmo para Lightning, um sujeito que conseguia controlar relâmpagos e que anos depois serviu como inspiração para o Raiden, personagem da franquia Mortal Kombat. Além dele, o próprio Lo Pan também teria inspirado o Shang Tsung, grande vilão daquele jogo de luta.

Mas para um moleque que nem havia chegado aos dez anos, Os Aventureiros do Bairro Proibido era o tipo de história fantasiosa que me fascinava. Sempre que o longa era exibido, eu largava o que estivesse fazendo e me divertia vendo aquela aventura, mesmo já sabendo tudo o que iria acontecer e ficava imaginando como seria participar de algo tão perigoso e empolgante.

Bom, de certa forma, isso poderia ter acontecido. Não de verdade, é claro, mas por meio de um jogo que seria desenvolvido pela Apogee Software/3D Realms. Tal possibilidade foi revelada pelo fundador da empresa, Scott Miller, que usou sua conta no X, antigo Twitter, para contar detalhes sobre a sugestão de adaptação que ele fez à 20th Century Fox.

Segundo o executivo, a ideia seria criar um jogo que nos colocaria na pele de Jack Burton, onde encontraríamos “personagens malucos, missões, tesouros, uma princesa, ação de artes marciais, caos e magia.” Para isso, o estúdio produziria algo no estilo do Duke Nukem 3D, um FPS com ritmo acelerado e repleto de humor.

Os Aventureiros do Bairro Proibido

Crédito: Divulgação/20th Century Fox

Miller então listou alguns elementos-chave que fariam parte da sua adaptação de Os Aventureiros do Bairro Proibido e alguns me pareceram bem interessantes. Seriam eles:

  • Magia negra/feitiçaria chinesa;
  • O “Pork Chop Express”, como era chamado o caminhão de Jack;
  • “Está tudo nos reflexos.” A frase é dita por Jack diversas vezes no filme e serviria como inspiração para um sistema único de jogabilidade no estilo bullet-time;
  • Os Senhores da Morte, como uma das principais gangues do filme;
  • Egg Shen (que servia como narrador no filme e foi interpretado por Victor Wong) narraria o jogo. Ele conhece todos os antigos rituais, histórias e segredos chineses, mas acha que Jack é um bobo desajeitado que apenas tem sorte (o que é meia verdade!);
  • Várias frases ditas por Jack, como “o filho da p*** deve pagar!”;
  • Por fim, feiticeiros alienígenas do espaço baseados na fala de Jack: “um homem teria que ser um pouco tolo para pensar que estamos sozinhos neste universo.”

Crédito: Divulgação/20th Century Fox

Scott Miller ainda falou sobre como ele pretendia fazer com que a sua versão de Os Aventureiros do Bairro Proibido fosse divertida. “Queremos criar um jogo de ação ininterrupta com personagens divertidos e muitos segredos, chefes criativos e outra princesa para ser salva,” garantiu. “Achamos que podemos transformar o Jack no próximo herói improvável, de fala rápida e divertido pra diabo do gênero FPS.”

Pois olhando por essa perspectiva, realmente existe mais semelhança entre Jack Burton e Duke Nukem do que eu jamais percebi. Com o devido tempo e a equipe certa, acredito que esse projeto poderia resultar em um bom jogo. Porém, o meu receio recai sobre a possibilidade de tal adaptação passar a sensação de não ser mais do que apenas uma modificação do Duke Nukem 3D.

Além disso, será que o mundo ainda estaria disposto a receber outro jogo estrelado por um herói canastrão e que não consegue ficar de boca fechada? Bom, seria uma aposta arrsicada, mas uma que eu adoraria ter visto acontecer.

Versão do Big Trouble in Little China para Amstrad CPC (Crédito: Reprodução/ LepricahnsGold/MobyGames)

De qualquer forma, o projeto nunca saiu do papel, pois de acordo com Miller, “quando a Disney começou a negociar para comprar a Fox, todos os negócios tiveram que ser suspensos e nunca foram retomados depois que a Disney assumiu o controle.”

Caso a Apogee Software tivesse conseguido os direitos, o jogo que eles eventualmente produzissem não seria a primeira adaptação do filme de Carpenter. Ainda em 1986 a Electric Dreams Software lançou Big Trouble in Little China para o ZX Spectrum e no ano seguinte o título ainda chegaria ao Amstrad CPC e ao Commodore 64.

Funcionando como um jogo de luta no estilo Karateka (com o perdão da comparação), nele controlávamos um dos três personagens disponíveis, podendo alternar entre eles a qualquer momento. Com gráficos simplórios e uma jogabilidade bastante repetitiva, um detalhe interessante é que a progressão pelas fases acontecia da direita para esquerda, decisão de design que talvez tenha sido uma tentativa da desenvolvedora de inovar. O resultado ficou... estranho.

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