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Aliens Online, o “MMO” que poucos lembram

Produtor relembra o Aliens Online, jogo lançado em 1998 e que embora não fosse um MMO, trouxe elementos que se tornariam comuns nos jogos de tiro multplayer

27/06/2024 às 9:49

A franquia Alien está facilmente entre as minhas favoritas quando se trata de ficção/terror e por isso, ao longo dos anos consumi muita coisa que foi produzida sobre ela. Imagine então minha surpresa por só agora ouvir falar sobre Aliens Online, jogo da Mythic Entertainment que foi lançado em 1998 e que na época foi vendido como um MMO? Mas tudo bem, quando até um dos seus criadores admite que ninguém lembra daquele título, acho que estou perdoado.

Crédito: Reprodução/Sean Korb/ArtStation

O que me levou a conhecer aquele título foi uma bela matéria publicada pelo site Rock, Paper, Shotgun, onde Edwin Evans-Thirlwell relata o encontro que teve com Matt Firor durante a GDC 2024. Atual presidente da ZeniMax Online, ele foi o produtor do Aliens Online e contou um pouco sobre como foi ajudar no desenvolvimento do jogo.

“Fizemos 13 ou 14 jogos que ninguém se lembra, [como Starship Troopers: Battlespace, Independence Day Online e Godzilla Online] e esse [Aliens Online] foi um deles,” declarou Firor. “Ele tinha chat por voz, o que em 1998 era uma loucura e tinha pequenas telas, como nos filmes, em que você podia ver o que os companheiros de equipe estavam olhando.”

Contudo, o jogo que muitos tratavam como Aliens MMO em quase nada lembrava os títulos multiplayer massivos online que temos hoje em dia. Na verdade, ele parecia mais os jogos de tiro baseados em equipes, em que um time assumia o papel de fuzileiros dos United States Colonial Marines, enquanto o outro ficava encarregado de jogar como os xenomorfos.

Aliens Online

Humanos ou xenomorfos? (Crédito: Reprodução/deepcut/MobyGames)

Do lado dos humanos, poderíamos jogar como uma das quatro classes (Médico, Batedor, Soldado ou Armas Pesadas) e um detalhe interessante era que, aos nos unirmos como uma equipe, armas mais avançadas seriam liberadas. Isso incentivava o trabalho em equipe e aumentava a sensação de comunidade que foi ser tornando ao redor do jogo.

Já aqueles que assumissem o papel de um xenomorfo também teriam quatro classes à disposição (Face Hugger, Drone, Rainha e Imperatriz) e contavam com a habilidade de rastejar pelos dutos de ar, além de um senso de colmeia, o que lhes permitia rastrear onde cada humano estava no mapa. Os jogadores poderiam trocar o controle de um Drone para outro quando bem entendesse e durante a partida, apenas um deles poderia ser a Rainha ou a Imperatriz.

Anunciado em 1997, Aliens Online custou US$ 450 mil para ser produzido, valor bem superior ao que a Mythic Entertainment estava acostumada a investir em seus projetos da época. Distribuído gratuitamente, para jogar era preciso fazer uma assinatura do GameStorm, serviço mantido pela Kesmai e que custava US$ 9,95 por mês. A empresa pertencia à Fox, o que lhe garantiu acesso à franquia criada por Ridley Scott.

Aliens Online

A visão de um xenomorfo (Crédito: Reprodução/BurningStickMan/MobyGames)

Mas se hoje aquele jogo pode parecer apenas um Team Fortress 2 disfarçado de Alien, Firor ressalta a época em que o Aliens Online foi lançado e como, de certa forma, o título explorou ideias que só se tornariam comuns muitos anos depois.

“Todo o conceito simplesmente surpreendeu as pessoas — que você poderia entrar e jogar junto ou contra outas pessoas online,” declarou. “E o fato que você podia fazer algo além de atirar nelas, quando o Everquest e o Ultima [Online] saíram, certo?  Toda essa coisa de vida virtual era considera mágica.”

Segundo o então produtor, o simples ato de explicar para a imprensa como o jogo funcionaria já se mostrou um desafio e tanto. “Foi algo como, ‘espere, podemos ver outas pessoas? Não, você não vê outras pessoas, você vê seus avatares’,” recordou, citando ainda que estamos falando de uma época em que para ficar online, recorríamos a conexões discadas.

Pois o saudosismo de Matt Firor também recai sobre a maneira como os jogos eram feitos há mais de duas décadas e meia. Como exemplo ele cita um dos títulos mais importantes da história da Mythic Entertainment, o Dark Age of Camelot. Desenvolvido em apenas 18 meses, ele contou com a participação de 28 profissionais, algo muito diferente do gigantesco projeto que ele dirigiu vários anos depois na ZeniMax Online Studios, o The Elder Scrolls Online.

Tendo levado sete anos em produção até finalmente ser lançado em 2014, o MMO permanece recebendo atualizações até hoje e envolveu centenas de profissionais. “Atualmente, ele obviamente [demora muito mais], porque a fidelidade é muito maior,” explicou. “E a experiência e as expectativas de conteúdo são muito maiores, usando equipes muito maiores.”

Jogo contava com modo offline (Crédito: Reprodução/BurningStickMan/MobyGames)

Quanto ao Aliens Online, ele permaneceu funcionando por apenas dois anos, já que em 2000 a rede GameStorm foi vendida para a Electronic Arts. Na época o título já não era muito popular, com pessoas reclamando do design das fases, problemas de balanceamento entre as equipes e principalmente, da conexão durante as partidas, que eram afetadas por muito lag.

Mesmo assim, Firor reconhece sua importância para o futuro da Mythic e dos games, em geral. “A tecnologia que usamos para todos aqueles jogos avançou para o próximo jogo, o próximo jogo e eventualmente se tornou o Dark Age of Camelot, porque já tínhamos um servidor cliente, já tínhamos o multiplayer,” garantiu. “E, é claro, muitas pessoas que fizeram o Dark Age of Camelot vieram comigo e trabalharam no Elder Scrolls Online. Você definitivamente pode traçar um caminho entre todos esses jogos.”

Se tais jogos poderiam ter surgido sem que aquelas pessoas apostassem em algo como o Aliens Online, sinceramente não sei responder. Agora, que naquela época eu adoraria ter jogado um multiplayer que colocava humanos e xenomorfos frente a frente, não tenho a menor dúvida.

Lá pelo início dos anos 2000, um dos jogos a que mais dediquei minhas horas livres foi o Day of Defeat, modificação para Half-Life que nos colocava na Segunda Guerra Mundial. Poder experimentar algo parecido com aquilo, mas ambientado no universo de Alien teria sido fantástico e se bem-produzido, penso que mesmo hoje em dia um jogo assim poderia funcionar.

Confesso que atualmente não me interesso por multiplayers competitivos e quando se trata de Alien, prefiro um jogo ao estilo do Isolation. Contudo, esse é um universo tão rico (e maltratado), que acredito que algo focado nos confrontos entre jogadores tem potencial para conquistar muita gente, tanto fãs, quanto quem só procura um bom mata-mata contra outras pessoas.

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