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Entenda tudo sobre a Varíola de Macaco

Varíola de Macaco não é uma doença nova, mas agora surtos estão aparecendo em vários países. Devemos nos preocupar?

2 anos atrás

Varíola hoje é algo que é recebido com uma expressão de interrogação, mas por séculos foi sinônimo de morte e terror. Agora ela está de volta, mas não exatamente. Vamos entender o que é a Varíola do Macaco, quais os sintomas, tratamentos e o risco real dessa doença que se espalhou pelas manchetes dos jornais.

DryVax, uma das vacinas comerciais mais antigas contra Varíola, criada no final do Século XIX (Crédito: James Gathany / CDC)

Conhecida desde a antiguidade, a Varíola só no Século XX matou 300 milhões de pessoas. As que não matava, deixava desfiguradas, cheias de seqüelas, inclusive cegueira. Com uma taxa de mortalidade de 30%, foi motivo de soluções desesperadas, inclusive uma inoculação na qual pessoas saudáveis respiravam cascas de feridas secas de pacientes de Varíola.

Isso provocava uma infecção mais branda, que conferia imunidade. Sim, é um dos princípios das vacinas, mas só em 1796 Edward Jenner aplicou os conceitos aprendidos, e com uma infusão de vírus da Varíola Bovina, criou a primeira Vacina, muitas vezes mais segura do que a Inoculação, que tinha taxa de mortalidade de até 2%.

Graças à Ciência e a um esforço mundial, a Varíola se tornou a primeira doença a ser erradicada, em 1977. Ninguém mais precisaria sofrer os terríveis efeitos desse vírus maldito.

Você não quer pegar Varíola (Crédito: The Diagnosis of Smallpox / Wellcome Collection gallery)

Então como assim a Varíola está de volta?

Calma. Não existe mais Varíola no mundo, exceto amostras bem-guardadas em laboratórios na Rússia e nos EUA. O que existe são doenças parecidas, causadas por vírus da mesma família, mas bem menos... virulentos.

A chamada Varíola de Macaco é uma delas. Seus sintomas são os mesmos de uma Catapora: Febre, mal-estar, dor muscular, dor nas costas, gânglios inchados, cansaço extremo e lesões na pele, na forma de bolhas com um líquido amarelo bem contagioso.

A taxa de mortalidade da Varíola de Macaco em tese, chega a quase 11%, mas isso foi medido no Congo, durante uma epidemia em 1970. Muito provavelmente a taxa de mortalidade sem a Varíola devia ficar na casa de 11% também.

Novas estatísticas mesmo na África indicam mortalidade abaixo de 3%, e com tratamento isso cai consideravelmente.

De onde vem a Varíola do Macaco?

Os pobres símios estavam no lugar errado na hora errada. A doença ganhou esse nome quando foi identificada em 1958 entre macacos africanos usados em um laboratório na Dinamarca, mas eles são portadores transitórios, os principais portadores são roedores, tanto que em 2003 uma epidemia nos EUA contaminou 71 pessoas, sendo traçada até Cães da Pradaria importados vendidos em uma loja de animais exóticos.

O contágio pode ser via mordidas, contato com fluidos corporais ou consumo de carne mal-cozida.

Possível origem da Varíola do Macaco (Crédito: MGM)

Os casos atuais são os primeiros em quanto tempo?

Não dá nem para definir uma data, todo ano há casos de Varíola de Macaco, alguns isolados, outros mini-epidemias com algumas dezenas de contaminados. É só mais uma daquelas doenças que a gente aprendeu a conviver. A diferença é que depois do trauma do COVID, estamos mais atentos a esse tipo de notícia, e dessa vez a Varíola de Macaco saiu da África.

Até o momento, 26/5/2022, há 332 casos confirmados. O Paciente Zero foi um britânico que voltou da Nigéria contaminado, e continuou com seus afazeres sem perceber estar doente, até os sintomas aparecerem, o que leva até 15 dias.

O sujeito manteve contato próximo e pessoal com outro sujeito, algum membro dessa cadeia foi para uma rave na Espanha, e há poucos lugares melhores para profunda troca de fluidos corporais do que uma rave. Dali a doença se espalhou pelo mundo. Já há até o momento casos em 24 países.

Vamos todos morrer de Varíola de Macaco?

Dificilmente. Claro que ela é perigosa para crianças pequenas e pessoas imunocomprometidas, mas no geral ela não é contagiosa o suficiente e a Ciência tem várias cartas na manga, incluindo a Cloroqu-AH, peguei você. Não, não se trata Varíola com remédio antimalária, se trata com Tecovirimat, um medicamento antiviral de ponta, recentemente aprovado pelo FDA e criado especialmente para matar, exterminar, aniquilar vírus da família Poxviridae.

Ou seja: ele trata tudo que é tipo de Varíola e outras doenças semelhantes.

TPOXX, versão comercial do antiviral para tratar Varíolas (Crédito: Siga Technologies)

Quanto tempo até desenvolverem uma vacina para Varíola de Macaco?

Boas novas, Pequeno Gafanhoto. Cientistas levarão -226 anos para desenvolver a vacina. Isso mesmo, mesmo a vacina de vírus de Varíola Bovina do Jenner já é eficaz contra a Varíola de Macaco.

Essa família é composta de vírus de DNA, com baixa taxa de mutação e são mais que conhecidos e entendidos pela Ciência. Existem várias vacinas contra Varíola que funcionam muito bem, com eficácia de mais de 95%, ou seja: você tem 95% de chance de ser exposto ao vírus e ficar assintomático, e se cair nos 5% restante, terá um caso leve.

A pegadinha é que quase ninguém tem mais as vacinas. Os EUA possuem um estoque estratégico e aplicam vacinas em militares, caso Varíola seja usada como arma biológica. A Pior Coréia possui um estoque de 35 milhões de doses para uso em caso de ataque, mas somente uma empresa produz novas doses.

Caricatura de época, representando o receio da população, com medo da vacina fazer vacas brotarem dos vacinados. Sendo justo, era uma tecnologia nova, complicado seria 227 anos depois da invenção das vacinas alguém dizer que ela vai te transformar em Jacaré ou algo assim (Crédito: Reprodução Internet)

Felizmente é uma produção muito simples, sem necessidades de insumos complexos, tudo que você precisa são animais que serão inoculados com o vírus, no caso o Vaccínia (muito parecido com o da Varíola Bovina, mas outra doença, da mesma família). O sangue dos animais é coletado (não todo, bois não são descartáveis) o plasma é separado e temos a base da vacina.

Isso tudo é rotineiro, inclusive a identificação de casos de Vaccínia, a contaminação entre espécies é BEM comum com o povo que lida diariamente com pecuária, em 2004 mesmo tivemos uma pequena epidemia em São Paulo.

Como se prevenir contra a Varíola de Macaco?

Primeiro de tudo, não coma macacos nem se alimente deles. Evite contato desnecessário com fluidos corporais alheios, principalmente de gente vinda do exterior recentemente. Não aceite convites para o Surubão de Noronha, e... bem, basicamente isso. Mesmas regras para evitar uma gripe, é bem mais tranquilo do que COVID.

Vai rolar campanha nacional de vacinação?

Provavelmente não. Todo mundo já está chipado com o COVID, a Nova Ordem Mundial já controla todos os nossos passos, só teremos vacinação contra Varíola de Macaco se os aliens Greys resolveram contra-atacar os illuminati nos injetando com antídoto e-sim, como adivinhou que não tomei meus remédios hoje?

CASO haja vacinação, será regional, específica para áreas com surtos da Varíola de Macaco, seu modelo de contágio não justifica uma campanha mundial como o COVID-19.

Então é 100% tranquilo?

Não. Como sempre, pessoas e populações mais vulneráveis correm risco. Todos aqueles casos sem nenhuma morte foram em países desenvolvidos. Segundo a Organização Mundial de Saúde, em países onde a Varíola de Macaco é endêmica (Camarões, Rep. Central Africana, Congo) entre 15/12/2021 e 1/5/2022 tivemos 1269 casos, com 65 mortes.

Varíola de Macaco pode não ser tão séria, mas não é um passeio no parque (Crédito: Reprodução Internet)

Óbvio que em países com luz elétrica e água encanada a tendência é mesmo com uma epidemia, o número de mortes ser bem menor, mas mesmo uma já é demais. O truque então é acompanhar as autoridades sanitárias, ficar de olho nas recomendações e bloquear do WhatsApp todo mundo que vier com teorias conspiratórias.

A gente escapa dessa?

Sabe aquela cena em Star Trek IV, quando no Século XX o Dr. McCoy encontra uma paciente de diálise, dá uma pílula e minutos depois os rins dela estão 100% funcionais? Essa é a nossa relação com a Varíola. Todas elas. Temos vacinas altamente eficazes, remédios ótimos e equipamentos e profissionais capazes de tratar com excelência os casos mais graves.

Haverá mortes? Sim, infelizmente, entre as populações mais pobres e vulneráveis. A triste realidade pode ser resumida nas palavras de William Gibson:

“O futuro já chegou, ele só não está igualitariamente distribuído.”

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