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Teclado do Game Boy volta à vida 28 anos depois

Conheça o Work Boy, o jamais lançado teclado para o Game Boy, que transformaria o portátil da Nintendo em um PDA rudimentar

3 anos atrás

O Game Boy foi um dos mais bem-sucedidos dispositivos eletrônicos dos anos 1990. Ele foi o responsável por criar o mercado de consoles portáteis, que a Nintendo sempre liderou e continua liderando (apesar de ter perdido público para o mercado mobile), gerou inúmeros sucessores e concorrentes, e claro, recebeu alguns periféricos curiosos, como a Game Boy Camera e a Game Boy Printer.

O mais inusitado de seus acessórios, que ironicamente nunca foi lançado foi o Work Boy, um teclado QWERTY completo que viria acompanhado de aplicações de produtividade, de modo a transformar o Game Boy em um PDA rudimentar. Porém, graças a um trabalho de arqueologia digital e um vazamento de dados conveniente, o periférico pôde finalmente ser visto em ação.

Work Boy em ação (Crédito: Reprodução/DidYouKnowGaming? channel/YouTube)

Work Boy em ação (Crédito: Reprodução/DidYouKnowGaming? channel/YouTube)

A história de como o Work Boy nunca veio a ser é curiosa. O periférico foi projetado pela Source Research and Development, uma empresa britânica que desenvolvia hardware e chegou a lançar alguns jogos, como o puzzle Pyramids of Ra para Game Boy, bem como o título de plataforma com temática bíblica Noah's Ark, este o NES.

A ideia era fornecer um teclado QWERTY funcional, acompanhado de um software dedicado na forma de um cartucho específico, que contaria com aplicações como calendário, agenda de contatos, mini tradutor, conversor de moedas (precisa de inputs manuais para calcular a proporção, claro), calculadora, conversores de medidas e de temperatura, e etc.

A ideia era fornecer um meio de transformar o Game Boy em uma ferramenta de produtividade, tal qual os PDAs, que ainda engatinhavam. O termo em si foi criado em janeiro de 1992, durante a CES por John Sculley. O então CEO da Apple se referia ao Newton, que só chegaria ao mercado no ano seguinte.

O único aparelho similar disponível na época era o Psion Organizer, este lançado em 1991, e a Palm só dominaria o setor bem depois. Era compreensível, portanto, permitir que o Game Boy pudesse ser usado como algo mais do que um videogame, visto que na época ele vendia horrores.

Fotos do Work Boy publicadas na revista Nintendo Power em 1992 (Crédito: Reprodução/Nintendo Power)

Fotos do Work Boy publicadas na revista Nintendo Power em 1992 (Crédito: Reprodução/Nintendo Power)

O Work Boy foi anunciado oficialmente na CES de 1992, um comunicado que foi coberto na época por diversas revistas especializadas em games, incluindo a Nintendo Power, a publicação oficial dos consoles da casa do Mario nos EUA até dezembro de 2012, quando foi descontinuada. Mais de 100 edições chegaram a ser hospedadas no Internet Archive, mas como sempre, a Nintendo usou o temido Cease and Desist e a coleção desapareceu quatro dias depois.

Voltando ao Work Boy, a empresa encarregada de produzir o periférico foi a Fabtek Inc., fundada por um veterano da indústria chamado Frank Ballouz, que teve passagens pela Atari e Nintendo, onde comandou os negócios dos gabinetes de Arcade de ambas gigantes, entre 1975 e 1986. Com sua empresa, ele assegurou os direitos de distribuição de jogos da TAD Corporation, conhecida por títulos como Cabal (que foi fonte de inspiração para Wild Guns, da Natsume) e Toki/JuJu Densetsu, que recebeu um remake em alta definição recentemente.

Já o Work Boy não teve tanta sorte, pois ele nunca chegou às lojas e todas as menções sobre ele desapareceram. A Nintendo nunca tocou no assunto, a Source e a Fabtek há muito encerraram atividades. Ainda assim, o historiador Liam Robertson, do canal do YouTube DidYouKnowGaming? começou a garimpar informações em busca do tão elusivo teclado.

Após meses de pesquisa, Robertson conseguiu contatar Eddie Gill, fundador da Source e engenheiro original do Work Boy, que o colocou em contato com Ballouz, que hoje dá palestras sobre desenvolvimento de games. O ex-executivo revelou ter uma unidade do Work Boy, e a enviou para o YouTuber resenhar.

Só havia um problema: sem o cartucho, ele não funciona.

A solução veio pouco tempo depois, graças a vazamentos de dados da Nintendo. O segundo deles, centrado em jogos não lançados do Game Boy, continha justamente uma ROM funcional do software do Work Boy, que obviamente não faz quase nada sem o periférico.

A Source e a Fabtek desenvolveram ambos de modo que um não seja funcional sem o outro, o que limita o tecladinho a ser apenas um despertador quando desconectado do console, via Link Cable.

Com a ROM inserida em um cartucho Flash, que suporta cartões microSD, e com o Work Boy devidamente conectado, tudo funcionou. No vídeo é possível ver os apps de conversão funcionando, bem como uma interessante função para controle de finanças.

Segundo Frank Ballouz, ele decidiu cancelar o lançamento do Work Boy quando soube que a Nintendo pretendia reduzir o preço do Game Boy, sendo que o teclado chegaria ao mercado pelos mesmos US$ 90 do portátil. Pouco tempo depois, uma explosão em uma fábrica no Japão em 1993, que produzia a maior parte de uma resina usada na produção de memórias DRAM, fez seu preço disparar. O Work Boy usaria DRAM, e isso complicou ainda mais as coisas.

Ainda que o Work Boy nunca tenha vindo a ser, é interessante ver o protótipo de um hardware de 28 anos de idade voltar à vida graças ao trabalho de pesquisa e de um tremendo golpe de sorte, graças aos recentes vazamentos de dados da Nintendo.

Fonte: DidYouKnowGaming?, ExtremeTech

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