Carlos Cardoso 7 anos atrás
Depois de rastrear por várias horas o cruzador argentino General Belgrano, o submarino nuclear de ataque britânico HMS Conqueror subiu para profundidade de periscópio, estendeu suas antenas e fechou um link de satélite com o Almirantado Britânico.
O Belgrano estava na mira, seus destróiers de escolta não haviam detectado o Conqueror, e sequer manobras evasivas eles faziam. Navegavam em formação, linha reta, como em tempo de paz. Só que estavam em guerra, e A Dama de Ferro foi implacável: chumbo nele!
O Conqueror lançou três torpedos Mark 8, um atingiu uma das escoltas, mas não explodiu. Os outros dois acertaram o Belgrano justamente nas partes do casco sem blindagem. A casa de máquinas foi atingida em cheio, vários andares do navio foram destruídos. Os geradores elétricos falharam, o Belgrano ficou sem rádio e não conseguiu enviar pedido de socorro.
Os destróiers de escolta não perceberam o ataque, seguiram em frente sem notar que o Belgrano estava afundando. Luzes de sinalização e pistolas de sinal? Não havia ninguém olhando. Eles prosseguiram sem notar que o cruzador que deveriam escoltar não estava lá, só voltaram horas depois, de noite, quando 1.200 homens já haviam morrido no mar congelante.
O Mark 8 é um torpedo não-guiado projetado em 1925(!!!), com uma ogiva de 365 kg de Torpex, um explosivo 50% mais poderoso que TNT. Obsoleto por todas as características que você tentar enquadrar, o Mark 8 estava no fim do fim de sua vida útil, mas ainda assim era confiável. Tanto que só foi aposentado de vez em 1993.
O General Belgrano nasceu como o USS Phoenix, um cruzador de 10 mil toneladas que entrou em operação em 1938, lutou no Pacífico e foi descomissionado em 1946. Só foi tirado da naftalina em 1951, quando foi vendido para a Argentina.
Ou seja: no dia 2 de maio de 1982 um submarino nuclear usou uma arma da Primeira Guerra para afundar um navio da Segunda.
A Armada Argentina ficou apavorada, nunca mais saiu do porto e só restou aos hermanos xingar muito no Twitter. Já o HMS Conqueror foi recebido com honras de heróis, ostentando a tradicional bandeira pirata.
Essa tradição surgiu na Primeira Guerra Mundial, quando submarinos eram a grande novidade. Muitos não gostavam deles, eram furtivos, atacavam sem você perceber, se escondiam. Um Lorde do Almirantado, Sir Arthur Wilson declarou publicamente que submarinos eram injustos não-ingleses e que seus tripulantes deveriam ser enforcados como piratas. O então Tenente-Comandante Max Horton não gostou, e quando voltou de uma missão bem-sucedida ao afundar um cruzador alemão, entrou no porto com seu submarino ostentando uma bandeira pirata no periscópio, para irritar o Almirante Wilson. A moda pegou.
A flotilha de submarinos britânicos hoje não é uma sombra do que foi. Hoje se resume a quatro submarinos de mísseis balísticos nucleares e sete submarinos de ataque. Quatro desses da década de 80, e aí que mora o problema.
Os três mais modernos, da Classe Astute estão cheios de problemas, falhas de projeto, etc. Os outros quatro, Classe Trafalgar, estão no fim da vida útil.
Não adianta você ser um dos únicos países do mundo com uma frota de submarinos 100% nuclear se ela não sai do porto e, tirando o HMS Astute, que está em um cruzeiro de testes, todo mundo está no estaleiro. Pior, a Marinha Real Britânica não admite isso publicamente e a primeira-ministra Theresa May não foi oficialmente informada.
Porta-Aviões? Também não tem mais nenhum ostentando a Union Jack. O HMS Queen Elizabeth está planejado para começar testes de mar ainda em 2017 mas operacional mesmo só em 2020.
Se a Argentina invadisse as Falklands HOJE, a Inglaterra estaria em pior condição de retomar as ilhas do que em 1982. Isso, claro, não é uma hipótese viável, pois se as forças inglesas estão nesse miserê, imagine as portenhas.
Fonte: The Sun.