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You can't always get what you want

14 anos atrás

Já dizia o filósofo Jagger: Você nem sempre consegue o que quer, mas se tentar, pode descobrir que conseguiu o que precisava.

Esse é o dilema que ocorre no mercado de tecnologia, onde geeks tendem a analisar os produtos de seu ponto de vista, esquecendo de primeiro de tudo identificar para qual mercado consumidor se destinam.

Outro dia um site, se não me engano o Ars Technica fez uma enquete perguntando se o leitor queria Flash no iPad.

Foi uma pesquisa idiota. 100% dos leitores vão querer. Eu quero. Funcionalidade descompromissada? Pode ir enfiando, em gosto do meu E71 ter uma porta infravermelha, mesmo não tendo usado NADA IRDA nos últimos 5 anos.

Já o consumidor final não-geek, se questionado muito provavelmente responderia em massa que quer sim, para em seguida perguntar o que faz esse tal de Flash. Você já viu leigo instalando software? Especialmente Office. Eles selecionam todas as opções possíveis. “vai que preciso”. Queria ver esse pessoal com uma daquelas edições do Debian que vinham em vários DVDs, com dezenas de milhares de pacotes.

appleipad

Por isso é complicado projetar um produto baseado no que o consumidor acha interessante colocar nele. Na China há celular com barbeador, celular com isqueiro. Se não ocupasse espaço ou bateria, e o preço fosse o mesmo, você não gostaria que seu celular tivesse um barbeador/isqueiro?

O Grande Erro do Nokia N95, um telefone tão bom que mesmo tendo sido lançado um ano antes mesmo assim foi usado pela Apple como comparação durante o debut do iPhone, foi ter sido pensado por engenheiros, não especialistas em produto. Ele era uma coleção de funcionalidades mais ou menos inúteis (acelerômetros antes do iPhone?) mas sem nenhuma alma aglutinando tudo.

A grande sacação da Apple, da Amazon e de outras empresas com produtos vencedores é detectar problemas (ou necessidades) e apresentar soluções. Ninguém reclama que um pára-quedas não serve de mochila eventual, ou que um assento ejetor não tem massageador de costas. Saber dizer “não” é essencial. Quando o iPhone surgiu, os nerds tiveram ataques de pelanca pela heresia; ele não vinha com câmera frontal NEM enviava MMS.

Seria interessante fazer uma pesquisa para descobrir quantos naquela época faziam videoconferência ou enviavam MMS. Aposto que mesmo hoje é uma minoria absoluta.

A Microsoft descobriu depois de muita pesquisa que o grande problema do Office não era falta de funcionalidade. 95% de tudo que todo mundo precisa ele já fazia. O problema era interface, as pessoas precisavam de acesso fácil a essas funcionalidades. Daí a Ribbon, que historiadores da FSF dirão que foi copiada do OpenOffice, que por sua vez copiou do Opera, claro.

Em conclusão, um produto para ser bem-sucedido tem que ser pensado como uma solução a um problema, (mesmo que o consumidor não soubesse que o tinha até então) e seu uso deve ser o mais amigável possível. A concorrência está anunciando tablets. Tablets são computadores, ninguém quer mais um computador.

O Kindle é um computador, mas quer saber? Ninguém se toca disso. Para os milhões de usuários ele é uma tabuletinha que quase não gasta pilha e que permite carregar uma trolhada de livros.

Essa visão de produtos como SOLUÇÃO é o que falta ao mundo do FOSS. Vide o vídeo vencedor do concurso do ano passado da Linux Foundation, para promoção do Linux:

 

É, do ponto de vista mercadológico, um lixo. Em NENHUM momento ele diz o que é Linux e efetivamente o que ele pode fazer pelo consumidor. É um vídeo de convertidos para convertidos, que trocarão tapinhas nas costas se congratulando por passarem a mensagem. Para eles mesmos.

Prova final: Nada ilustra melhor o conceito de solução do que a apresentação criada nas coxas pelo pessoal de uma aplicação de visualização de histórias em quadrinhos no iPhone, a Comics. Eles perceberam o potencial do iPad como plataforma para o formato, meteram a mão na massa e já tem um vídeo conceitual:

Comics by comiXology iPad concept from comiXology on Vimeo.

Esse vídeo sozinho converteu uma enxurrada de geeks, que já declarou amor incondicional ao iPad, mesmo sem este possuir uma câmera.

Fonte: Macmagazine

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