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Um hacker, um gato e o bloqueio à rede Tor a pedido da polícia japonesa

Polícia japonesa quer que provedores bloqueiem acesso à rede Tor após episódio com hacker que usou até um gato para tirar sarro das autoridades.

11 anos atrás

Keyboard Cat

A rede Tor é uma velha conhecida de quem precisa fazer acesso à internet de modo completamente anônimo, porém sempre tem quem a use de forma a qual ela não foi destinada, como furar o bloqueio de acessos a sites via proxy, ou para apagar seus rastros por fazer aquilo que não deve.

É esse segundo caso que está tirando o sono dos profissionais da NPA (National Police Agency) japonesa, uma espécie de FBI local, mas nem de longe tão competente. Sentindo que a rede mais atrapalha do que ajuda, ela vai exigir que provedores bloqueiem o acesso à rede para IPs que o órgão considerar que estão abusando do serviço.

A pergunta é: como eles vão definir isso?

Para entender esse sururu é preciso voltar um pouquinho no tempo, mais precisamente o ano passado: na ocasião um hacker conhecido como Demon Killer começou a postar uma série de ameaças de morte em vários fóruns de discussão (ele fez ameaças de atentados à bomba inclusive em escolas onde estudam os netos do imperador Akihito), sempre usando computadores acessados remotamente. A polícia rastreou o IP, prendeu quatro pessoas e inclusive noticiou que haviam conseguido "extrair uma confissão" deles (a polícia japonesa tem uma má reputação no exterior de conseguir confissões à força), para depois vir a público e vergonhosamente admitirem a burrada, já que as ameaças continuaram mesmo com os suspeitos detidos.

Um pouco depois do ano novo, a polícia o rastreou até Enoshima, uma ilha 60 km ao sul de Tóquio, apenas para encontrar um gato com um cartão SD na coleira, contendo informações que só o hacker poderia saber. Era evidente que o tal Demon Killer se achava o rei da cocada preta, mas dessa vez ele abusou da sorte.

torA NPA acessou as câmeras de vigilância do local e vizualizou um suspeito próximo ao local de onde o gato foi encontrado. Cruzando as imagens com informações do cartão, a polícia conseguiu chegar até Yusuke Katayama, 30, e prendê-lo. E é aí que o caldo entorna: em seus computadores foram encontradas evidências de que ele usava a rede Tor para mascarar seus dados.

A agência chegou a conclusão que solicitará aos provedores que impeçam o acesso ao Tor de pessoas de "abusam" da rede, de modo a prevenir crimes tais como fraudes financeiras, pedofilia e vazamento de informações da polícia. É um tanto evidente que esse último crime foi incluído após o vexame do caso anterior.

Mas o que considerar como abuso? É óbvio que não há como saber o que o usuário faz enquanto usa o Tor ou quem usa mais do que quem; isso cheira mais a desculpa esfarrapada para instaurar um ban permanente do serviço, que provavelmente é a real intenção. O Tor é usado por ativistas digitais para acessar a internet em países que sofrem com ditaduras e, por tabela, com vigilantismo na rede. A rede de código aberto teve um papel fundamental durante a Primavera Árabe, onde ajudou a organizar as manifestações das pessoas contrárias aos regimes opressores do Oriente Médio.

É a velha história de culpar a ferramenta e não quem a opera; ao invés de fazer um trabalho decente para não precisar de depoimentos à força, a polícia japonesa prefere bloquear o serviço como um todo, que pode sim ajudar a investigar crimes, mas também prejudicar muita gente que usa o Tor de forma legítima.

Fonte: Ars Technica.

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