Carlos Cardoso 12 anos atrás
Se tudo correr bem (o velho mantra da exploração espacial) amanhã, sexta-feira, às 14 h 47 min, Horário de Brasília decolará da Flórida a Endeavor, em sua última missão. Será o vigésimo-quinto vôo da nave lançada em 1992, ano em que muita gente aqui nem era nascida (eu não incluso).
Fora as missões “rotineiras” de reabastecer a Estação Espacial Internacional, a Endeavour colocará em órbita um instrumento científico de 2 bilhões de dólares, que parece muito dinheiro para gastar em Ciência mas é o gasto em uma semana de guerra no Iraque.
O instrumento em questão é o AMS-02, Espectrômetro Magnético Alfa. Com 7 toneladas ele utilizará um imã 3 mil vezes mais forte que o campo magnético terrestre para capturar raios cósmicos e direcioná-los para um conjunto de detetores, que analisará as partículas.
O objetivo é identificar partículas exóticas, antimatéria e energia escura.
São dois mistérios principais: primeiro, a antimatéria, estranhamente assimétrica em nossa Universo. Aparentemente ele é todo ou significativamente composto de matéria, sendo que segundo todos os modelos teóricos deveria haver um equilibrio entre o tipo de partículas existente.
O segundo problema é mais complicado e exótico ainda: os modelos matemáticos de movimentação e formação de estruturas como galáxias não correspondem aos valores observados. Como a Gravidade está certa, a explicação mais simples é que há muito mais massa e energia envolvidas do que conseguimos detectar.
No final temos um Universo que só se sustenta de pé se houver 80% mais matéria do que conseguimos identificar. A explicação para isso seria a Matéria Escura, partículas exóticas como neutralinos (parentes dos neutrinos, mas não se falam), WIMPs e gravitinos. Também haveria presença de coisas simples como fótons e neutros, ou talvez Energia Escura.
A outra explicação para a expansão do Universo não bater com os modelos seria um campo de energia, uma Força que permeia toda o Espaço, gerando a Constante Cosmológica, proposta inicialmente por Einstein para justificar um modelo de Universo estacionário.
Calma que complica mais ainda.
O Professor Burt Ovrut, da Universidade da Pennsylvania espera usar o AMS-02 para provar a Teoria M de Multiversos, onde existiram diversos universos paralelos chamados Branas, separados entre si por algo entre 10 e 32 metros de distância, e cuja única interação seja feita via gravidade.
Assim a Energia Escura não existiria, seria apenas um fenômeno de outro universo influenciando o nosso.
Esses são só alguns dos conceitos mais SIMPLES, que podem ser estudados indiretamente via experimentos.
J.B.S. Haldane estava certo. O Universo não é só mais estranho do que imaginamos, é mais estranho do que conseguimos imaginar.