Carlos Cardoso 9 anos atrás
Anualmente a Terra é irradiada com aproximadamente 174 petawatts de energia. 30% disso é refletido de volta pro espaço, o resto é absorvido pelos oceanos e continentes, plantas e gente que ignora os conselhos do Pedro Bial. Em última essência quando degustamos um delicioso filé estamos comendo o produto final de energia solar.
Dessa energia toda a que pode ser potencialmente aproveitada para uso direto equivale a 23 mil terawatts. Isso é muito mais do que a capacidade potencial de todas as outras formas, combinadas. E muuuuito além do consumo atual. A Humanidade gasta 19 terawatts.
Com tudo isso a imagem que se tem de energia solar é algo benigno e bonzinho, inofensivo como um dia na praia, mas não é assim. As pessoas tendem a ignorar o Sol, lembrando apenas de não olhar direto pra ele, mas um metro quadrado de chão recebe 1,4 kW de energia. Com aproveitamento de 100% daria pra iluminar sua casa com 14 lâmpadas de 100 watts só não faria sentido por estar de dia.
Quer ver como essa energia pode ser aproveitada com eficiência, e como um simples dia de Sol é sinistro?
O nome do brinquedo é Lente Fresnel, criada no Século XVIII para equipar faróis. Em essência é uma lente como qualquer outra, mas muito fina. Ela se comporta como um conjunto tradicional mas hoje em dia é feita até de plástico, e tem um monte de utilidades. Uma delas são os fornos solares, outra é… derreter coisas. Uma simples lente Fresnel em um dia de Sol aquele seu ponto focal a mais de 2 mil graus Celsius. Veja que brinquedo legal:
GreenPowerScience — Fresnel Lens Solar Foundry Obsidian Farm 3800 ˚F 2100 ˚C Fresnel Optics
É de se imaginar que esse poder da energia solar seja conhecido de qualquer um que trabalhe em áreas de ciência e tecnologia, mas não foi o que descobriu um sujeito chamado Martin Lindsay. Ele voltou do trabalho só para descobrir seu lindo Jaguar assim:
Não é um amassado, é um derretido. Aparentemente um prédio próximo refletiu a luz do Sol (em Londres, olha o azar) e ele estava estacionado no lugar errado na hora errada. Partes da carroceria, o retrovisor e o emblema da Jaguar foram deformados pelo calor.
Absurdamente civilizados como são os britânicos, o carro de Martin já estava com um aviso da construtora pedindo desculpas e pedindo para entrar em contato. Os danos foram pagos, claro.
Já em Calgary não são carros em risco, mas pessoas. A culpada é a escultura abaixo, instalada no insuportavelmente canadense “Centro Gênsesis de Bem-Estar Comunitário”:
Essa bodega custou CAD$ 559 mil e você deveria entrar na escultura, mandar um SMS e uma série de efeitos de som e luz seriam gerados, específicos para você, só que algum bug fazia a mesma sequência ser repetida. Pra piorar outro dia um sujeito entrou, começou a mandar o SMS quando reparou que o casaco estava esquentando e fazendo “ssssssss”. Vou dar uma dica sobre o que aconteceu: a tal escultura é composta de dois hemisférios ocos, de 5 m de altura.
Já isto aqui é um forno solar, que concentra a luz refletida no interior do hemisfério em um ponto focal:
Qualquer semelhança, é o mesmo princípio científico. O tal artista canadense sem-querer criou um forno solar de assar gente, equipamento que não faz muito sentido hoje em dia.
A Presidente do Centro, Carol Steiner, não gostou nada. Professora de Geografia, ela reclama que os responsáveis pela obra deveriam ter levado em conta latitude, longitude e a posição do Sol. Ferramentas de empresas como a Autodesk renderizam corretamente a posição do Sol nesse tipo de projeto, mas eu realmente não sei se calculam incidência de energia por metro quadrado.
Agora não sabem o que fazer: a escultura é grande demais para ficar dentro do prédio. O artista vai tentar consertar, mas não há garantias. A única certeza, confirmada por Carol, é que Canadá sendo Canadá ressarciram o sujeito pelo casaco queimado.
Portanto, meninos e meninas pinguins roxos, fikadika: quando construírem projetarem planejarem algo, levem em conta o Sol. Não custa nada. No mínimo você economiza uma grana em filtro solar.