Carlos Cardoso 10 anos atrás
A maior fábrica da Nokia não fica no Japão, nem sequer na China, mas na Índia. A relação da empresa com o país é antiga, e a linha Asha não tem esse nome indiano à toa.
Grande parte desse amor vem de interesse, claro. Como em todo empreendimento desse tamanho, os governos locais oferecem vantagens, em geral fiscais, e em troca as empresas trazem emprego, tecnologia e treinamento de mão de obra.
A fábrica em Chennai, capital do Estado de Tamil Nadu, na Baía de Bengala, onde mora o Fantasma, emprega 8 mil pessoas diretamente e gera mais 30 mil empregos indiretos. Movimenta uma fortuna na economia local, foram impostos.
Só que a Índia quer mais. Um acordo com o governo estadual prevê que o ICMS de 4% pago pela Nokia em cada aparelho vendido localmente seja devolvido. Agora estão enrolando pra liberar a grana.
Na esfera federal também tem gente de olho grande. Do ponto de vista contábil tudo tem custo, inclusive o software usado nos aparelhos. A Nokia Índia “compra” software da Nokia Finlândia, sendo a operação transacionada na matriz. Isso era garantido por um acordo entre os dos países.
Agora a Índia soltou uma Lei taxando o software instalado nos aparelhos fabricados no país, na planta de Sriperumbudur. PIOR, a tributação é retroativa a 2006. O Leão de Shiva quer US$ 542 milhões em impostos.
A planta industrial da Nokia em Chennai custou US$ 285 milhões para ser montada.
Os executivos não gostaram nada, e mandaram um “non-paper”, uma espécie de resposta oficial não-oficial, dizendo que não gostaram nada (sempre bom enfatizar) e que declararam a Índia “o mercado menos favorável” para a Nokia. Estão cogitando fechar as fábricas e importar celulares da China ou do Vietnã.
Parabéns aos indianos, não fizeram o dever de casa, estão agindo com a mesma ganância do Brasil no tempo da Reserva de Mercado, quando rejeitamos fábricas de chips já embarcadas no meio do Atlântico, a caminho de São Paulo.
Pobres, mas orgulhosos.
Fonte: IX.