Meio Bit » Games » Drova - Forsaken Kin — Imersivo (e impiedoso)

Drova - Forsaken Kin — Imersivo (e impiedoso)

Ambientado na mitologia celta e entregando um nível de dificuldade acima da média, Drova - Forsaken Kin é um RPG para quem procura um jogo fora dos padrões

16/10/2024 às 9:48

É automático, sempre que inicio um RPG, meu principal objetivo é tentar imergir o máximo possível em seu mundo e no personagem que controlo. Tentar viver a experiência como se realmente estivesse naquele lugar é fundamental para conseguir me divertir e preciso confessar que não esperava que o Drova - Forsaken Kin funcionaria tão bem neste sentido.

Drova - Forsaken Kin

Crédito: Divulgação/Just2D Interactive

Desenvolvido pelo desconhecido estúdio alemão Just2D Interactive, a princípio Drova - Forsaken Kin pode não passar a real dimensão da sua complexidade e os gráficos pixelados certamente tem um papel importante nisso. Porém, não se deixe enganar, esse é um jogo com muitas camadas e que te castigará durante boa parte do tempo.

Funcionando como um RPG de ação em um mundo aberto, o jogo fala sobre uma vila que está sofrendo com a falta de comida e a propagação de doenças, até que certo dia algumas pessoas encontram um cristal. Segundo os sábios, aquele misterioso objeto serviria como uma entrada para o paraíso, um lugar chamado Drova.

Desesperados, os druidas decidem realizar um ritual para abrir um portal e sem a autorização deles, você os segue até o coração da floresta. Porém, o plano não sai como o esperado e após um massacre cometido por espíritos malignos, somos transportados para outro mundo. Lá, não demora para descobrirmos se tratar de Drova e que o lugar está muito longe de ser o paraíso que buscávamos.

Crédito: Divulgação/Just2D Interactive

Drova - Forsaken Kin não esconde sua inspiração em diversos jogos, séries como Gothic a Dark Souls, mas tem também fica sua base na mitologia celta. Desta forma, o estúdio conseguiu criar um mundo repleto de detalhes e bastante interessante, com seus monstros, construções e ricos personagens.

Contudo, o mérito por este feito deve ser dado principalmente a uma sábia decisão dos desenvolvedores: produzir tudo manualmente. Em uma época em que tantos estúdios recorrem a conteúdos gerados proceduralmente, é muito bom poder ver um título feito como antigamente, com a atenção aos detalhes ficando sob a responsabilidade de pessoas e não de algoritmos.

Assim, muitas das conversas que temos com os NPCs se mostram bem mais interessantes que em boa parte dos jogos de grande porte atuais, com o mesmo valendo para as missões secundárias. Na verdade, essas tarefas paralelas me divertiram muito mais do que o próprio objetivo de estarmos naquele que deveria ser o prometido paraíso.

Outro ponto que me conquistou logo de cara no jogo foi a maneira como ele nos trata. Ao contrário de muitas produções modernas, nele não estaremos em uma visita guiada em uma espécie de parque de diversões. Drova - Forsaken Kin até nos dará dicas importantes para sobrevivermos em seu mundo, mas elas serão quase sempre sutis, cabendo ao jogador prestar muita atenção nos diálogos e aprender com os seus erros.

Crédito: Divulgação/Just2D Interactive

No entanto, esse sistema não está livre de críticas. Embora o jogo conte com um diário onde poderemos consultar o que precisamos fazer, nem todas as informações importantes serão anotadas nele e por isso será comum ficarmos perdidos entre tantas demandas. Talvez o objetivo dos criadores tenha sido replicar algo comum em RPGs mais antigos, até mesmo nos “forçando” a jogar com o auxílio de um caderninho, mas no fim das contas, isso acabou se mostrando um empecilho que alguns poderão considerar desnecessário.

Além disso, tentar encontrar a direção que devemos seguir não será o único desafio que enfrentaremos, principalmente nas primeiras horas, quando somos praticamente inofensivos. Mesmo os mais simples inimigos poderão nos aniquilar em poucos segundos e por isso o nosso objetivo será tentar nos mantermos vivos, evoluir o mais rápido possível e reunir equipamentos que nos deem alguma chance.

Em Drova - Forsaken Kin, o simples ato de aprender novas habilidades não se dará de maneira quase automática como em outros jogos, quando apenas precisamos escolher uma entre várias. Aqui teremos que procurar um mestre para que ele nos permita evoluir, sendo que pessoas diferentes garantirão recursos diferentes.

Ou seja, se você quiser se tornar mais forte, de nada adiantará conversar com um mestre especializado em magia, assim como um dedicado às espadas não poderá nos especializar em lanças ou machados. Isso pode ser visto como uma barreira, pois nos obriga a visitar outras vilas caso a que estivermos não conte com alguém do nosso interesse. Porém, prefiro ver essa característica como uma escolha de design, uma que pode tornar o progresso mais lento, mas contribui para a imersão.

Crédito: Divulgação/Just2D Interactive

No início eu também tive problemas para entender seu sistema de batalhas, que se baseia muito na barra de estamina e por isso devemos variar entre ataques, esquivas e defesas. Além disso, existe uma barra de poder que será preenchida conforme acertamos os inimigos e quando ela alcançar um determinado ponto, poderemos executar ações definidas previamente. Juntos, esses sistemas trazem alguma estratégia para os combates que são dinâmicos e, não custa ressaltar, bastante desafiadores, já que a menor desatenção poderá resultar numa rápida derrota.

Contudo, reconheço que essa íngreme curva de dificuldade (e progresso) também acaba funcionando como um problema para o jogo. Para aproveitá-lo da melhor maneira, será fundamental ter paciência, resiliência e dedicar um bom tempo à evolução do personagem, realizando a maior quantidade possível de missões para assim progredir (lentamente) na história.

Algo que também desagradará uma parcela dos jogadores brasileiros é a falta de localização para o nosso idioma. Mesmo entendendo a dificuldade para um estúdio pequeno traduzir um jogo com tanto texto, é inegável que isso o tornaria muito mais acessível ao nosso público, o que me faz desejar que algum dia uma atualização o deixe em português.

Drova - Forsaken Kin

Crédito: Divulgação/Just2D Interactive

Mas se esse não for um problema para você, encarar Drova - Forsaken Kin poderá ser entrar em uma experiência fantástica, com sua bela pixelart transbordando detalhes e deixando claro se tratar de um jogo que recebeu muito carinho por parte dos seus criadores.

Embora seja um jogo difícil de recomendar para qualquer pessoa, devido à maneira “crua” como ele aproveita muitas das suas mecânicas, Drova - Forsaken Kin me surpreendeu justamente por não se dobrar às convenções atuais. Encará-lo é como fazer uma viagem à década de 90, com a impressão de estarmos jogando algo feito artesanalmente e nos passando uma sensação que a “industrialização” dos games há muito deixou para trás.

Para mim, se um título consegue me fazer continuar pensando nele mesmo quando estou longe do console ou PC, nenhum dos seus defeitos serão suficientes para me fazer deixar de elogiá-lo. Por isso, mesmo não sendo perfeita, essa criação da Just2D Interactive merece ser jogada, seja pelas boas ideias implementas, pela sua fascinante ambientação sombria ou por gritar que os videogames ainda podem entregar aquele sentimento de serem feitos por duas ou três pessoas na garagem de uma casa.

Leia mais sobre: , .

relacionados


Comentários