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Hamlet e um documentário feito no Grand Theft Auto Online

Todo produzido no GTA Online, Grand Theft Hamlet mostra as dificuldades de dois atores ao tentar encenar a peça de Shakespeare no violento jogo

11/10/2024 às 9:05

A pandemia de COVID-19 teve um impacto imenso na vida profissional de muitas pessoas e entre elas estavam Mark Oosterveen e Sam Crane. Desempregados, os atores decidiram levar sua arte para um jogo online conhecido pela violência e assim nasceu um fantástico experimento: Grand Theft Hamlet.

Grand Theft Hamlet

Crédito: Divulgação/Sam Crane/Mark Oosterveen

Tudo começou em janeiro de 2021, quando o Reino Unido passava pela terceira onda de isolamento social e consequentemente, todos os teatros estavam fechados. Sem poderem atuar, Crane e Oosterveen passavam boa parte de seus tempos no mundo virtual oferecido pelo Grand Theft Auto Online, fazendo tudo o que a maioria dos jogadores faz por lá, ou seja, cometendo os mais variados crimes.

Durante uma daquelas sessões de jogatina, a dupla encontrou um anfiteatro localizado em Vinewood e com a criatividade transbordando, pensaram em encenar a peça Hamlet, de William Shakespeare, naquele lugar. Pois não demoraria para perceberem que aquela ideia era muito mais maluca (e difícil de ser executada) do que poderiam imaginar.

Como explicado no site do projeto, esse é um jogo apoiado na destruição, onde o apreço por uma produção teatral passa muito longe das intenções das pessoas que estão “vivendo” em suas ruas. Por outro lado, “o teatro não era um negócio perigoso e turbulento na época de Shakespeare, e Hamlet, uma peça sobre vingança, não seria a escolha perfeita para este lugar?”, questionam.

Grand Theft Hamlet

Pinny Grylls, como Rustless Zither (Crédito: Divulgação/Sam Crane/Mark Oosterveen)

Pois a tentativa de produzir a obra naquele mundo virtual foi além. Todo filmado dentro do jogo, os criadores do Grand Theft Hamlet consideram sua existência necessária, sob a justificativa de que cada vez mais estamos levando nossas vidas para essas porções online dos jogos. Eles filosofaram:

“O documentário pergunta o que é esse espaço? Como podemos usá-lo agora e o que mais é possível dentro dele? Podemos transportar essa antiga história para dentro de uma nova? E ela ainda fará sentido? O potencial cinematográfico de Los Santos é imediatamente aparente, com sua paisagem urbana brilhante e alucinantemente detalhada, e o interior ao redor, a renderização de luz com ray-tracing, o sistema climático em constante mudança e design de som intrincado.”

Os autores citaram até mesmo a câmera presente no telefone que temos à nossa disposição no jogo, já que ela nos permite criar visuais cinematográficos e explorar “a emoção e o lirismo que coexistem com o caos e a violência deste país desconhecido.”

Assim, o documentário registrou os esforços de Sam Crane, no jogo conhecido como Rustic Mascara e sua esposa, Pinny “Rustless Zither” Grylls, para montar a peça, interpretar os papéis e agradar o eventual público, tudo enquanto tiros, brigas e explosões pipocam por todos os lados.

Sam Crane, como Rustic Mascara (Crédito: Divulgação/Sam Crane/Mark Oosterveen)

O resultado foi o reconhecimento após uma exibição no festival South by Southwest (SXSW), onde o Grand Theft Hamlet faturou o prêmio de melhor documentário. Aquilo provavelmente deve ter convencido as pessoas envolvidas na produção que a ousadia valeu a pena, mas a obra ainda tinha voos mais altos para alçar.

Segundo o site The Hollywood Reporter, a Mubi garantiu os direitos para distribuir o documentário nos Estados Unidos, o que significa que, se tudo der certo, em 2025 o Grand Theft Hamlet será exibido em alguns cinemas do país. Além disso, o acordo dá à empresa o direito de incluir a produção em sua rede de streaming em todo o mundo, o que inclui o Brasil.

Até lá, a próxima oportunidade que o público terá de assistir essa interessante (e inusitada) criação, será durante BFI London Film Festival, que acontece em 15 de outubro.

Essa não é a primeira vez que pessoas tentam organizar uma peça de teatro em um jogo online. Há alguns anos a The Theatre Company foi criada com o objetivo de levar um pouco de entretenimento e cultura àqueles que se dedicavam ao Fallout 76 e o grupo logo chamou a atenção da imprensa.

Esse tipo de iniciativa serve para mostrar como os jogos online podem servir para reunir as pessoas e, mesmo com suas limitações, serem aproveitados para passarmos o tempo não somente matando uns aos outros. Sabe aquelas(justas) reclamações sobre os ambientes tóxicos criados em jogos assim? Não é apenas deles que as partidas online vivem.

No caso do Grand Theft Hamlet, o documentário serve como um bom estudo de caso sobre esses mundos virtuais, mas também nos faz pensar em um período muito complicado que o mundo passou e principalmente, como muitas pessoas encontrarem nos videogames uma válvula de escape importantíssima.

Quando a pandemia se alastrou pelo mundo, muitos tiveram certeza de que um evento tão impactante daria origem a inúmeros documentários. Porém, acredito que ninguém imaginava que uma obra assim seria criada usando um jogo, ainda mais misturando Shakespeare, GTA e as agruras do isolamento social.

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