Satisfactory — fácil de jogar, impossível de largar

Satisfactory é um jogo diferente. Não tem vilões, não tem microtransações, não tem pacotes de embelezamento e roupinhas, não tem timer forçando decisões, não tem “vitória”, não tem uma forma única de jogar e não tenta te matar o tempo todo. Em termos de docilidade parece Hello Kitty Island Adventure, mas, meninos e meninas, que jogo maravilhoso!

• Sucesso na Epic Store, Satisfactory também vende bastante no Steam
• Factorio ficará mais caro e a culpa é da... inflação!?

Uma Cubatão pra chamar de sua... (Crédito: Reprodução/Coffee Stain Studios/Coffee Stain Publishing)

A Trama

Que trama? Satisfactory foi concebido primeiro como um mecanismo de jogo. Lançado em 2019 em Early Access pelo estúdio sueco Coffee Stain Studios, conhecidos pelo bizarro Goat Simulator, o jogo atingirá seu release 1.0 em 10 de setembro de 2024. Ele vem sendo desenvolvido com calma, com o estúdio mantendo uma excelente relação com uma imensa e entusiasmada comunidade de jogadores e desenvolvedores de mods. Sim, Satisfactory é totalmente mod-friendly.

O que não existe ainda oficialmente é a trama, não importa. Você fica ocupado demais para se preocupar com trama. É como alugar na locadora O Convento das Colegiais Karatekas Assassinas Ninfomaníacas III. Você fica tão focado no Karatê, que esquece a falta de um roteiro mais caprichado.

Em uma linha: em Satisfactory você é um pioneiro. Pousa em um planeta com algumas ferramentas futuristas, e tem que explorar (nos dois sentidos) o planeta atrás de recursos, e enviá-los para um elevador espacial, onde serão usados... de alguma forma.

Parece Farmville, eu sei, mas aguarde e confie.

O Mundo

O planeta que você explora em Satisfactory se chama MASSAGE-2(A-B)b. O mapa acessível é uma área de 47,1 km², com diversos biomas, de desertos a pântanos, com cavernas, lagos, penhascos e montanhas. Há diversas criaturas habitando o local, algumas amigáveis, outras irritadas, outras, como as -para alegria de Jon Peters- aranhas gigantes, são assustadoras e difíceis de matar.

Essa é uma aranha das pequenas. Por sorte não consegui achar uma das gigantes (Crédito: Reprodução/Coffee Stain Studios/Coffee Stain Publishing)

No geral as criaturas perigosas não se aproximarão da sua base, não há nenhum Zerg Rush pra se preocupar. Seu maior inimigo é sua capacidade de desorganização.

Espalhados pelo mapa há dezenas de jazidas de materiais como carvão, ferro, bauxita, calcário, urânio, cobre, etc. Também há depósitos isolados desses materiais, todos podem ser minerados manualmente, com mineradores portáteis e mais tarde com minas automáticas.

Jazida de carvão sendo devidamente explorar por uma Mineradora Mk3 (Crédito: Reprodução/Coffee Stain Studios/Coffee Stain Publishing)

Sua base tem capacidade de processar o minério em lingotes, e os lingotes em componentes como barras de ferro, parafusos, chapas metálicas.

Esses componentes são usados para construir componentes mais complexos. Parafusos e chapas de ferro viram chapas reforçadas. Carvão e minério de ferro viram lingotes de aço, e por aí vai.

O visual de Satisfactory é lindo! (Crédito: Reprodução/Coffee Stain Studios/Coffee Stain Publishing)

Rapidamente você ganha acesso a máquinas para automatizar essa produção; puxe uma esteira da mineradora para um construtor e ele automaticamente produzirá lingotes, mas há um porém: Essas máquinas precisam de energia.

Você pode construir um biorreator, um equipamento que produz 30kw de energia, queimando folhas ou madeira que você recolhe pelo cenário. Mais adiante você aprenderá a usar um construtor e transformar folhas e madeira em biomassa, um combustível mais eficiente.

Estratégia

Em inglês, strategy. No grego, Strategos, em Satisfactory, por que não pensei antes nisso? Explorar o ambiente é essencial antes de sair construindo suas unidades. Às vezes é melhor construir fábricas distantes do que trazer os insumos brutos. Em outros casos, faz mais sentido concentrar a produção em locais diferentes.

Sua estratégica vai mudar, de acordo com a complexidade dos produtos exigidos pelo Elevador Espacial, mas independente dele, Satisfactory no momento é dividido em 8 camadas, cada uma liberando novos equipamentos e recursos, como esteiras mais rápidas, hover packs e rifles, essencial para matar aranhas gigantes -brrrr-.

Meus primeiros geradores a carvão, tudo nas coxas, zero organização (Crédito: Reprodução/Coffee Stain Studios/Coffee Stain Publishing)

Quando você ganha acesso a geradores à carvão, tem um belo ganho em sua reserva energética, mas precisa achar jazidas de carvão próximas a água. E aí precisa equilibrar a produção de água com o consumo dos geradores e a produção de carvão.

Energia

Em algum momento - e isso é certeza - você vai consumir mais energia do que produz, e sua rede vai cair. Se construir um banco de baterias, será a corrida desesperada para sair desligando equipamentos até conseguir religar a força. É muito divertido e aterrorizante, recomendo.

Uns 15 geradores queimando suquinho de dinossauro! (Crédito: Reprodução/Coffee Stain Studios/Coffee Stain Publishing)

Claro, poluir o planeta com fumaça de geradores a carvão é divertido e faz a Greta chorar, mas quando você ganha acesso a petróleo tudo fica bem mais divertido, dá para encher o horizonte com geradores e refinarias, produzir energia de sobra e todos aqueles derivados de petróleo que o Just Stop Oil parece achar que não precisamos, como borracha sintética, plástico, combustível...

Not great, not terrible (Crédito: Reprodução/Coffee Stain Studios/Coffee Stain Publishing)

Depois do petróleo o próximo salto energético é quando você monta uma usina nuclear, mas não vamos nos precipitar.

Transporte

Óbvio que você não vai construir esteiras trazendo matéria-prima dá casa do caiaio até sua base (mentira, vai sim), nem ficar trazendo tudo manualmente. Satisfactory te dá a opção de construir tratores, caminhões, trens e drones, e automatizar tudo.

Estação de trem, descarga de sílica e ácido sulfúrico (Crédito: Reprodução/Coffee Stain Studios/Coffee Stain Publishing)

Com uma estação de carga e descarga, você pode produzir calcário em uma mina, encher um trator e levar até uma fábrica distante. E é facílimo automatizar isso. Só precisa se preocupar em manter uma fonte de combustível para o veículo não ficar sem energia no meio do caminho.

Drones são mais complexos, mas em compensação são os veículos mais rápidos, voando a mais de 200km/h.  Eu tenho uma fábrica de barras de urânio MUITO longe, um único drone as transporta para a fábrica de combustível nuclear, e de lá outro leva até minhas quatro usinas nucleares. Mesmo esse setup modesto mantém as quatro alimentadas, com sobra.

Um drone levando alguma coisa para algum lugar (Crédito: Reprodução/Coffee Stain Studios/Coffee Stain Publishing)

Também temos hipertubos, uma estrutura de transporte individual que liga pontos distantes bem rápido. São visualmente lindos, e uma ótima opção nas primeiras fases.

Ê trem bão!

Trens em Satisfactory são essenciais quando você tem que levar muita coisa, muito longe. São usados para interligar unidades industriais, sua malha ferroviária pode ser uma simples linha em vai-e-vem, ou uma complexa interconexão entre dezenas de trilhos, estações e unidades de processamento, com direito a sinalização, passagens de nível, etc. Seu grau de insanidade determinará a complexidade.

Trem de carga (Crédito: Reprodução/Coffee Stain Studios/Coffee Stain Publishing)

O trem em si pode ser uma única locomotiva, várias, e até dezenas de vagões de carga, lembrando que a inclinação do terreno, o peso do trem e a quantidade de locomotivas limitam a cota máxima que cada trem agüenta.

Cada estação pode ter vários terminais de carga e descarga, para cargas líquidas ou sólidas. Uma mesma estação pode descarregar e carregar materiais ao mesmo tempo.

Lidando com Dejetos

Nem toda produção em Satisfactory é limpa. Petróleo produz resíduos, que podem ser reciclados em operações mais complexas. Caso você produza mais resíduos do que consegue reciclar, sua produção vai parar, o que não é bom.

Boa parte da diversão em Satisfactory é equilibrar a produção de derivados do material reciclado, para que nenhum ponto da cadeia produtiva sofra por escassez.

Como dá pra percebeu, meu depósito de lixo nuclear foi feito nas coxas, na maior má-vontade (Crédito: Reprodução/Coffee Stain Studios/Coffee Stain Publishing)

As usinas nucleares são um grande problema nesse caso. Elas produzem uma quantidade irreal de lixo nuclear. No mundo real uma usina nuclear trabalhando por 60 anos produzirá um total de 1.800 toneladas de lixo radioativo, equivalente a 64 containers. E 90% desse material é reciclável.

Em Satisfactory são barris e barris, e radiação - pasmem - faz mal. Reciclar o lixo nuclear em plutônio e usar como combustível é algo disponível só muito mais tarde no jogo, então a melhor solução é fazer como na vida real: Construí um depósito imenso de lixo nuclear em um lugar distante, e automatizei um trem para ir guardando tudo lá. Depois penso nisso.

Explosivos e Fundações

Depois que você libera petróleo e carvão, consegue criar pólvora, e eventualmente Nobelisk, um explosivo bem interessante. Ele é muito útil para remover árvores, pedra, arbustos e animais indesejáveis, abrindo espaço para novas unidades fabris.

Algumas passagens estão fechadas por paredes de pedra, detonáveis também.

Tudo fica melhor com uma base de concreto (Crédito: Reprodução/Coffee Stain Studios/Coffee Stain Publishing)

Com o terreno mais plano, dá para criar fundações de concreto, o que torna muito mais fácil posicionar e alinhar suas unidades. Logo você sonhará em concretar o planeta inteiro!

Depois pensará melhor e perceberá que dá para construir na vertical também. Suas fábricas ganharão vários andares.

Pesquisa e HDs em Satisfactory

Há toda uma árvore de pesquisa e upgrades específica em Satisfactory, onde você usa materiais e componentes para acessar mais recursos, como munição melhor para seu rifle, e mais espaços em seu inventário. Todos são razoáveis, nada é impossivelmente difícil e complexo de obter, e nenhum é impeditivo para o prosseguimento do jogo.

Um pod com um HD (Crédito: Reprodução/Coffee Stain Studios/Coffee Stain Publishing)

Espalhados pelo mapa há dezenas de pods acidentados, lançados por expedições anteriores. Eles contêm hard drives que são usados para pesquisar “receitas alternativas”, formas diferentes de produzir componentes. Isso é bem útil. Por exemplo: Um dos subprodutos da produção de alumínio é água. É impossível automatizar eliminação de água, e seus tanques de descarte logo ficam cheios.

Uma receita alternativa chamada Concreto Molhado usa água e calcário para criar concreto, que pode ser descartado na Awesome Sink.

Exemplo de receitas alternativas (Crédito: Reprodução/Coffee Stain Studios/Coffee Stain Publishing)

Os pods podem ser abertos diretamente, ou exigir recursos como cabos, energia, etc. Mas você quer saber que diabos é uma Awesome Sink, acertei?

É um equipamento especial que recebe materiais e componentes e os processa em tickets para uso na lojinha do jogo.

Crédito: Flux/Editoria de Arte

Calma, Cocada. Eu explico: A lojinha do Satisfactory é 100% autocontida, ela usa os tickets que você gera durante o jogo, não vendem ticket de fora, e ela vende produtos não-essenciais, como tomadas de energia de parede, texturas alternativas como concreto e asfalto, caneca de café, etc.

Faz sentido uma caneca de café? Não, mas... e daí? (Crédito: Reprodução/Coffee Stain Studios/Coffee Stain Publishing)

Com os produtos da lojinha você cria fábricas esteticamente mais bonitas, mais eficientes, mas dá para viver sem ela, e de qualquer jeito é só deixar a Awesome Sink trabalhando, ela gera tickets mesmo sem você jogar nada nela.

Dá para morrer em Satisfactory?

Duas palavras: aranhas gigantes. Outros bichos também são perigosos. Você pode cair de penhascos, se explodir sem-querer, chegar perto demais das Pedras de Peido (umas estruturas que emitem gás venenoso) ou de locais com urânio.

Recomendo que produza o quanto antes máscaras de gás e o traje anti-radiação, bem com os filtros de iodo. Também é bom assim que der construir o pára-quedas e o jetpack.

Não bom (Crédito: Reprodução/Coffee Stain Studios/Coffee Stain Publishing)

Felizmente morrer não é o fim do mundo. Você volta para a sua base, sem nenhum material do seu inventário, mas não se preocupe. No melhor estilo Tarkov, no local da sua morte aparece uma caixa com todos os seus itens, é só ir buscar.

Assim como no Universo Marvel (exceto o tio Ben), morte em Satisfactory é mais um incômodo do que algo permanente.

E a rejogabilidade?

Digamos assim; depois que sua primeira linha automatizada estiver pronta, você vai pegar implicância. Vai achar que dá para organizar melhor. Vai aprender a dividir as linhas de suprimentos. Quando perceber, vai ter destruído tudo e remontado de forma mais eficiente e esteticamente agradável.

Aí ficará insatisfeito de novo, GOTO 10

De primeira você não faz nada tao bonito e organizado assim (Crédito: Reprodução/Coffee Stain Studios/Coffee Stain Publishing)

Satisfactory é uma eterna luta entre ampliar suas fábricas, e remodelá-las, testando novos planos e designs, e como não há punição nos insumos ao destruir um elemento, há um incentivo para testar novas idéias.

Tenho uma mina de cobre que já reconstruí umas três vezes, até achar a melhor combinação entre fundições e construtores de chapas e fios. Minha mega-fábrica de baterias foi totalmente demolida duas vezes.

Dentro dessa fábrica é um brinco, acredite! (Crédito: Reprodução/Coffee Stain Studios/Coffee Stain Publishing)

É possível se divertir muito odiando algo que você levou horas para construir, acredite!

Sua busca por eficiência é só sua, o jogo não vai te punir se suas fábricas funcionarem meia-boca, mas você naturalmente vai querer extrair o máximo delas, ainda mais quando resolver expandir pra valer.

Upgrades e Power-Ups

Ironicamente o segredo para tornar suas fábricas mais rápidas é... uma lesma.

Espalhadas pelo planeta há centenas de lesmas alienígenas que são processadas em Power Shards, unidades que acopladas a um maquinário, aumentam a produção para até 250% do original. São essenciais para economizar espaço e recursos, duas unidades a 250% equivalem a cinco unidades originais.

Uma lesma púrpura rende 5 power shards! (Crédito: Reprodução/Coffee Stain Studios/Coffee Stain Publishing)

Também há upgrades diretos, como mineradoras, Mk1, Mk2 e Mk3, e esteiras, esteiras mais rápidas transportam mais material, canos Mk2 comportam vazão de 600m³/minuto, o dobro dos Mk1.

Um erro que muita gente comete é não fazer upgrade dessas unidades, depois que as mais avançadas ficam disponíveis.

Multiplayer

Satisfactory pode ser jogado individualmente ou em um servidor multiplayer, com quatro jogadores oficialmente e até 128 possíveis, em teoria. É full coop, sem PvP, mas nada impede que você roube a mina de um amigo se ele não estiver olhando.

Satisfactory vem aí

A versão 1.0 trará a história completa, mudanças no mapa e em diversas unidades, os bioreactores passarão a aceitar combustível via esteiras, o que é uma grande mudança, por exemplo. As receitas alternativas serão revistas. A lista de mudanças é imensa, o que significa que os jogos atuais de muita gente deixarão de funcionar. YAY, reconstrução!

A fauna é linda nesse jogo! (Crédito: Reprodução/Coffee Stain Studios/Coffee Stain Publishing)

Onde comprar

Satisfactory está disponível no Steam.

Galeria da Insanidade

O povo perdeu a noção completamente, há gente com mais de 7.000 horas de Satisfactory, construindo prédios impossíveis e fábricas gigantescas, como este aqui:

E, claro, não dá para falar de Satisfactory sem mencionar Josh, o sociopata do canal Let’s Game it Out, que cria pura insanidade a 30fps

PS: Como eu sei que tem gente que vai dar chilique por causa disso, só pra avisar, sua personagem no Satisfactory é mulher. 😉

DSCLP (Crédito: Reprodução/Coffee Stain Studios/Coffee Stain Publishing)