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Android: Google dificulta (de novo) sideloading de apps

Google deixa de gerar APKs completos do Android, para dificultar a instalação de apps e games por fora da Play Store

07/08/2024 às 10:00

Fato: o Google nunca gostou que o sideloading, o ato de instalar manualmente apps e games no Android através dos arquivos APK, fosse um recurso de uso aberto. No entendimento da gigante tech, a ferramenta deveria ter seu uso restrito a desenvolvedores, mas como ela sempre foi uma função padrão, nunca a fechou também.

Isso não quer dizer que esforços não tenham sido feitos para dificultar a prática, ou para desestimular os usuários finais a baixarem APKs pela internet, basta lembrar de quando fez de Fortnite um bode expiatório.

Google Play Store no Android (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Google Play Store no Android (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Claro que há a preocupação genuína com a segurança, mas o motivo maior é grana: apps instalados por fora não revertem os 30% de comissão (15%, em caso de assinaturas com mais de um ano) a Mountain View.

Alguns fabricantes parceiros (OEMs), como a Samsung, usam recursos próprios para barrar a instalação de apps por fontes externas, não se sabe se com uma forcinha do Google, ou sem (provavelmente com), mas agora o próprio Android vai complicar as coisas para quem extrai os apps de suas fontes para redistribuir, ao depreciar intencionalmente o APK em prol do padrão AAB.

Android: sai APK, entra AAB

O AAB, de Android App Bundle, é um formato criado em 2018 para lidar com um problema antigo, a limitação de espaço em dispositivos mais modestos. O APK, o formato legado, por padrão reúne os binários para todos os tipos de dispositivos Android com os quais o app ou game é compatível, assim, ele traz em um só arquivo suporte a inúmeros formatos e resoluções de tela, quantidades de RAM diferentes, arquiteturas variadas, etc.

Tudo isso ocupa um espaço considerável, dependendo da aplicação um APK pode pesar centenas de MBs, ou até passar de 1 GB, games principalmente. Por isso muitas desenvolvedoras apelaram para downloads incrementais pós-instalação, e o arquivo original é bem mais leve, na maioria das vezes.

Assim, o APK gera um problema: seu smartphone ou tablet Android só irá usar uma parte desses binários, os compatíveis com sua configuração de hardware e software, enquanto os demais, que são efetivamente inúteis, ocuparão espaço de armazenamento do mesmo jeito. Mesmo hoje, muitos gadgets Android saem de fábrica com um espaço de apenas 64 GB, o que é muito pouco, dado o tamanho médio dos apps e games.

O AAB, por sua vez, é um contêiner dinâmico. Ao selecionar um aplicativo na Play Store, seu Android baixará apenas os binários que precisa, e ignorar o resto. Na época, o Google disse que a economia de espaço poderia chegar a 60%, dependendo de cada caso. Assim, ele se tornou o formato padrão para a submissão de novos apps, a partir de janeiro de 2021.

O Google estabeleceu o AAB como um formato proprietário, para funcionar apenas com a Play Store. Desenvolvedores poderão continuar distribuindo apps por fora se assim quiserem, assim como não fechou a opção de sideloading no sistema móvel; ao mesmo tempo, plataformas que extraem os arquivos de um dispositivo para distribuí-los de forma alternativa continuaram a fazê-lo, pois o Android convertia os AABs em APKs.

Pelo menos era assim até agora, mas o Google mudou de ideia quanto a isso.

Segundo Artem Russakovskii, fundador do APKMirror, um dos principais distribuidores de apps por fora da Play Store, o Google teria interrompido a geração de APKs "gordos", os que reúnem todos os binários existentes de um app ou game, e apenas os com os de cada dispositivo estariam agora disponíveis para extração.

A medida estaria afetando "muitos apps" e de forma repentina, sem que a companhia avisasse os desenvolvedores. Para quem só instala apps e games disponíveis na Play Store, nada muda, mas àqueles que buscam fontes alternativas, por diversos motivos, as coisas se complicam um pouco de agora em diante:

Primeiro, os APKs "magros", extraídos de dispositivos específicos, só serão compatíveis com outros iguais, o que cria uma camada de complicação extra para redistribuidores. Estes teriam que baixar todos os contêineres existentes de um único app ou game, e fundi-los usando ferramentas externas, para a criação de um APK "gordo" universal.

Segundo, na possibilidade de passarem a distribuir estes APKs menores diretamente, sites como o APKMirror terão que hospedar várias versões de um mesmo app ou game do Android, separados por dispositivo.

Do lado do usuário há também uma nova complicação, o sideloading padrão não é compatível com APKs "magros", só os "gordos". Estes teriam que recorrer a ferramentas de instalação, como o Android Debug Bridge (ADB), a plataforma de desenvolvimento oficial do Android, ou outras como APKMirror Installer.

Quem distribui diretamente APKs "gordos" por fora da Play Store, como a Epic Games, não serão afetados, mas há quem diga que o Google estaria ensaiando para depreciar completamente o formato APK em prol do AAB, não mais suportando a compatibilidade dele com o Android (inclusive para a atualização de apps antigos da Play Store, lançados antes de 2021), o que acabaria de vez com o sideloading.

Vale lembrar que o Google e Apple estão sendo questionados na justiça da União Europeia (UE) por dificultarem a prática, e cobrarem taxas pela distribuição externa de apps e games; se a gigante das buscas trancar o recurso para a instalação alternativa de apps, da mesma forma que a maçã faz desde sempre, é certo que haverão consequências.

Fonte: 9to5Google

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