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Anbernic RG556: quase perfeito. Quase

Anbernic RG556 é um poderoso console portátil com boa relação custo/benefício, mas front-end limitado e analógicos ruins prejudicam experiência

11/07/2024 às 13:00

O RG556 é um dos mais recentes consoles portáteis fabricados pela companhia chinesa Anbernic, uma das várias que investe no público retrogamer, ao oferecer gadgets voltados à emulação com designs inspirados em produtos do passado.

Este modelo, lançado em fevereiro de 2024 e claramente baseado em portáteis passados da Sony, é um dos mais poderosos de seu portfólio, ficando parelho com smartphones intermediários premium, não por acaso, é um dos poucos do mercado que roda Android.

Anbernic RG556 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Anbernic RG556 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Afinal, o Anbernic RG556 é um portátil digno de atenção? Eu o testei por duas semanas e conto o que achei dele a seguir.

Nota de transparência

Fundado em 2004, o Meio Bit publica análises opinativas com o intuito de ajudar os leitores a tomarem sua própria decisão de compra, seja de um gadget, um game, ou um serviço/software/app. Nós sempre fomos francos em nossas opiniões, e destacamos pontos positivos e negativos dos produtos de igual maneira, não importando a origem dos mesmos, como forma de manter a integridade e transparência do site.

Ninguém externo à redação do Meio Bit teve acesso a este texto de forma antecipada, bem como não houve nenhum tipo de interferência, pagamento, ou direcionamento da Anbernic, ou de terceiros, em relação ao seu conteúdo.

O Anbernic RG556 foi adquirido pelo Meio Bit no varejo.

Design e conectividade

A Anbernic possui uma linha de portáteis que paga tributo a dispositivos principalmente da Nintendo, como os vários modelos do Game Boy, além de alguns originais. O RG556 é uma das exceções, sendo inspirado no PSP e principalmente no PS Vita, trazendo um design horizontal e dois controles analógicos, mas dispostos como nos controles Xbox, que muitos defendem como a posição das alavancas mais ergonômica.

Aliás, ergonomia é a palavra aqui. O corpo do portátil, feito em plástico, possui grips iguais aos de um joystick, para garantir uma pegada firme na hora de jogar. Por outro lado, ele é um ímã de marcas de dedo, especialmente visíveis na versão de cor preta.

Anbernic RG556 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Anbernic RG556 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

O RG556 não é muito diferente de outros dispositivos baseados no Android. Na parte superior, temos o botão Liga/Desliga, os de Volume, e uma saída de ar diretamente acima do sistema de refrigeração, composto de um heat pipe e uma ventoinha. Na parte inferior, há a porta P2 para fones de ouvido, uma USB-C para carregamento e dados, e a entrada para cartões microSD, com suporte a modelos de até 2 TB.

Com 22 cm de comprimento, 9 cm de altura e pesando 330 g, este gadget não é de bolso como os demais que seguem o form factor do Game Boy clássico, mas ainda é relativamente portátil; para quem pretende andar com ele por aí, a Anbernic vende uma bolsa dedicada, e alguém na empresa deve ser muito fã da Gucci.

Anbernic RG556 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Anbernic RG556 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Quando comparado ao PS Vita, o RG556 é ligeiramente maior, graças aos controles mais espaçados e os grips, mas ainda não chega a ser um portátil desengonçado.

Tela e som

A tela é definitivamente o ponto alto deste portátil. A Anbernic optou por um display AMOLED de alta qualidade, com 5,48 polegadas e resolução Full HD, entregando 402 ppi. Esta é uma taxa de densidade de pixels alta até entre smartphones hoje em dia, que optam por telas mais alongadas (18:9, 20:9, etc.), que derrubam a marca de pixels por polegada.

A tela do RG556 tem um brilho forte, e graças ao Android, você pode ajustar o equilíbrio de cores como achar melhor. Como todo aparelho rodando o robozinho do Google, o touch é completamente funcional, assim você pode usar quase qualquer aplicativo disponível na Play Store, game ou não, exceto os de câmera, que ele não possui.

O único revés, quando comparado a smartphones, é o fato de que a tela do RG556 possui uma taxa de atualização limitada a 60 Hz, mas como seu foco é emulação, com games do Android em segundo plano, isso nem de longe é um problema.

Anbernic RG556 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Anbernic RG556 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Já o som foi vítima de uma decisão de design esdrúxula, a fabricante posicionou a saída dos alto-falantes na parte inferior dos grips (sim, aquelas duas frestas fininhas), arriscando serem tampados pelas mãos do usuário. Uma opção mais lógica seria posicioná-los voltados para a frente, ou mesmo na parte superior, ou inferior do gadget.

De resto, o som tem uma qualidade decente, mas nada espetacular, e como de costume, um bom fone de ouvido entregará uma experiência sonora bem melhor.

Controles

Sendo o RG556 um console portátil, é importante falar dos controles. O gadget da Anbernic traz dois analógicos e dois gatilhos, RT e LT, todos com Hall Effect, que usam ímãs para detectar os inputs do jogador, evitando assim o desgaste e o tão temido drifting. Porém, a fabricante chinesa optou por alavancas bem ruinzinhas.

No meu caso, o controle esquerdo teve problemas para detectar movimentos para cima durante uma sessão de Genshin Impact, o que foi ajustado após uma configuração fina. Acredito que isso tenha sido um erro no setup de fábrica do keymapper, porém, não são raros os relatos na internet de que ambos analógicos falham em detectar uma série de inputs, o que pode ser verificado pelo app nativo de checagem.

Passando o susto inicial, minha experiência com os analógicos foi regular, mas reconheço que o componente presente aqui seja um caso de loteria: você arrisca ser "premiado" com joysticks bichados, e se isso acontecer, não resta outra alternativa a não ser trocá-los você mesmo, sendo obrigado a desmontar e remontar o portátil.

Anbernic RG556 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Anbernic RG556 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Os gatilhos RT e LT, por sua vez, funcionam muito bem e não apresentaram problemas. O Hall Effect, além de evitar contato entre componentes, oferece uma boa resistência no clique, perfeito para jogos que exigem precisão. Curiosamente, eles vêm desligados por padrão, o que o Android customizado entende como "Nintendo mode", e ao ligá-lo no menu, ele muda para "Xbox mode".

A parte bizarra, você precisa deixar os botões no "Xbox mode" para ativá-los em emuladores de consoles da Nintendo, como os do Gamecube, do contrário eles não funcionarão, o mesmo valendo em apps de streaming e games do Android.

Anbernic RG556 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Anbernic RG556 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Por fim, os botões ABXY, dispostos no design da Nintendo, os Select e Start, e os Voltar e Function (o com o logo da Anbernic; mais sobre esse a seguir), e os RB e LB funcionam normalmente, com a relação correta de resistência; só achei o D-Pad um pouco liso demais, mas nada que comprometa a jogatina.

Desempenho e autonomia

O Anbernic RG556 é equipado com um SoC Unisoc T820, um octa-core de 6 nanômetros com 4 núcleos Cortex-A76, sendo um de alta performance (2,7 GHz) e três intermediários (2,3 GHz), além de 4 Cortex-A55 para tarefas mais simples (2,1 GHz); temos também 8 GB de memória RAM, e 128 GB de espaço interno.

Focando onde interessa, esse conjunto, aliado à GPU Mali-G57 MP4 de 850 MHz, dá conta de diversos games mais pesados do Android, como Asphalt 9: Legends nas configurações medianas, e Genshin Impact nos gráficos médios, mas com um framerate limitado a 30 fps; force além disso, e as coisas ficarão um pouco comprometidas.

De novo, o foco deste portátil é a emulação, logo, faz sentido ele não ser o supra-sumo para rodar games nativos no máximo, mas ainda assim, ele não faz feio. Há também o kit de resfriamento, acionado através do menu do Android, que é um tanto barulhento, mas dificilmente será empregado enquanto o jogador se diverte com emuladores; seu uso é indicado enquanto roda títulos do Android, ou apps de streaming.

Anbernic RG556 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Anbernic RG556 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Falando especificamente de emuladores, o RG556 consegue rodar qualquer game até a geração do PSOne, Dreamcast e Nintendo DS sem mexer muito nas configurações nativas, e títulos do PS2, Gamecube, 3DS e PSP com alguns refinamentos. Ele executa alguns jogos do PS Vita, mas a emulação deste sistema em específico ainda não está perfeita.

Ele também suporta emulação do Switch (principalmente indie games; ele apresenta quedas de performance com títulos mais pesados), mas o usuário terá que mexer sob o capô, já que a Anbernic removeu o suporte nativo ao Yuzu, após os recentes desdobramentos.

Anbernic RG556 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Anbernic RG556 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Outro ponto positivo do RG556, é seu total suporte, graças ao Android, a apps de streaming de jogos como Xbox Game Pass, Nvidia GeForce Now, Steam Link e outros, além do homebrew Moonlight, que vem pré-instalado, e funciona com qualquer jogo que você tenha no seu PC. Todos os apps detectam os controles dedicados de pronto (lembre-se de ligar os gatilhos antes), e a fluidez depende apenas de sua conexão à rede.

Aliás, por se tratar de um dispositivo dedicado a jogos, o RG556 conta apenas com conectividade via Wi-Fi 5 e Bluetooth 5.0, além de não ter câmeras, o que limita a experiência em alguns games que as usam. Em contrapartida, ele suporta espelhamento de tela via porta USB-C, desde que um adaptador para HDMI ou DisplayPort compatível seja usado, sendo que alguns disponíveis no mercado não funcionam.

Sobre a autonomia, o gadget é equipado com uma bateria de 5.500 mAh, que suporta até 8 horas de jogos mais simples, segundo o fabricante; em meus testes, eu o tirei da tomada às 13:00 e rodei 3 horas de emuladores mais simples, uma hora de games por streaming, e uma hora de games do Android, sendo Genshin Impact, Azur Lane, e Ashpalt 9: Legends, 20 minutos cada. Por volta das 18:00, a bateria estava por volta de 18%, uma marca decente.

Como nem tudo é perfeito, a bateria não suporta Quick Charge, e é compatível com uma fonte de 10 W (5 V/2 A), não incluída. Assim, o RG556 levou por volta de três horas para injetar uma carga completa, de 0 a 100%.

Software e extras

O software embarcado é talvez o grande calcanhar de Aquiles do RG556, pois o front-end padrão para os emuladores, acionado através do botão Function, é bem simplório e pouco intuitivo. Não obstante, a quase totalidade dos emuladores pré-instalados são versões Premium (pagas) disponíveis na Play Store, ou seja, APKs instalados via sideloading, alguns desatualizados e com brechas de segurança conhecidas.

Eu optei por uma solução radical, arranquei todos os emuladores, desabilitei o front-end oficial, e remapeei o botão Function para funcionar com a versão Android do EmulationStation Desktop Edition, disponível via campanha de financiamento coletivo; você pode pagar apenas uma vez, e continuará recebendo as atualizações do app via e-mail.

A retaguarda ficou por conta do RetroArch, mais alguns emuladores stand alone, mas tudo demanda configuração manual.

Anbernic RG556 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Anbernic RG556 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

O resultado ficou além da experiência original, mas quem não quiser ter trabalho, ou não tem conhecimento, pode transferir sua biblioteca de games para o RG556 e sair jogando, sem problema algum.

Outro ponto que me incomodou foi o keymapper nativo, mas não seu funcionamento em si. Ele é ativado através do menu do Android, para habilitar o uso dos botões e analógicos com games do Android que não possuem suporte nativo a controles de imediato. Ele vem com um perfil pré-configurado para alguns gêneros de e títulos específicos, como Genshin Impact, mas também pode ser ajustado do zero.

Porém, o keymapper só funciona se o sistema operacional estiver usando o inglês como idioma. Inicialmente, eu ajustei o RG556 para o português, e me surpreendi com o recurso se recusando a ativar, dando crash toda vez; foi preciso voltar ao inglês para usá-lo.

Anbernic RG556 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Anbernic RG556 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Segundo relatos de usuários, este é um bug já conhecido pela comunidade E pela Anbernic, que não o corrigiu até hoje, e muito provavelmente não irá fazê-lo.

Conclusão

O Anbernic RG556 é talvez o mais próximo do que um sucessor oficial do PS Vita deveria ser, em termos de design. Seu hardware o torna similar a um smartphone intermediário premium, onde o que mais se assemelha a ele hoje, inclusive no preço, é o Samsung Galaxy A54. A vantagem, você não precisa comprar um controle adicional, embora alguns vejam botões nativos como componentes propensos a quebrarem com o tempo.

Por outro lado, usá-lo exatamente como ele sai da caixa, com o front-end padrão e apps de emulação pré-instalados, é uma experiência abaixo do ideal, que pode (deve) ser refinada graças à flexibilidade do Android, e os analógicos são bem fraquinhos, impelindo quem tem mais conhecimento a trocá-los por componentes melhores. O problema, nem todo mundo se sentirá disposto a abrir o gadget.

Nisso chegamos ao preço, e aqui as coisas se complicam ainda mais. Por ser um produto enviado da China, como os demais portáteis da empresa, o consumidor fica sujeito a todos os impostos de importação decorrentes, no que a quantia final pode chegar a até R$ 1,8 mil, caso o valor declarado seja equivalente ao real (nunca é, você provavelmente não vai pagar tanto assim, mas seguro morreu de velho).

A Anbernic chegou a oferecer um plano em que pagava antecipadamente os impostos, mas desistiu, graças à Receita Federal complicando as coisas: no entendimento do fisco, quem deve fazê-lo é o consumidor, não o vendedor, e taxou uma segunda vez todos os envios da empresa ao Brasil, fosse o RG556 ou outros portáteis.

Quem optou por pagar teve o valor reembolsado pela fabricante, mas os que se negaram e pediram revisão foram obrigados a esperar muito, até a liberação dos pacotes; assim, para reduzir a confusão e acelerar o processo de envio, de agora em diante valerá a máxima caveat emptor.

Anbernic RG556 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Anbernic RG556 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Para muitos, faz mais sentido investir em um smartphone ou tablet intermediário, voltado apenas para jogar, pareado a um controle externo, do que adquirir um produto tudo-em-um, mas há uma parte do público atraída pela onda de portáteis chineses, que querem algo mais poderoso e com uma tela maior, quando comparado ao R36S, o best-seller do momento, este uma versão alternativa e mais barata de outro portátil da Anbernic, o RG353VS.

Na minha opinião, o RG556 é um bom produto voltado exclusivamente para o consumidor gamer, que só precisa de alguns ajustes de software, e analógicos bons de verdade, para ser considerado uma compra obrigatória.

Anbernic RG556 — Ficha técnica

  • Processador: Unisoc T820 (6 nm), octa-core com 1 núcleo Cortex-A76 de 2,7 GHz, 3 Cortex-A76 de 2,3 GHz, e 4 Cortex-A55 de 2,1 GHz;
  • GPU: Mali-G57 MP4 (850 MHz);
  • Memória RAM: 8 GB LPDDR4X;
  • Armazenamento interno: 128 GB;
  • Armazenamento externo: expansível via cartão microSD de até 2 TB (bandeja dedicada);
  • Tela: AMOLED de 5,48 polegadas;
  • Resolução: 1.920 x 1.080 pixels (~402 ppi);
  • Taxa de atualização: 60 Hz;
  • Controles: Controles analógicos e gatilhos R2/L2 com Hall Effect;
  • Conectividade: Wi-Fi 5, Bluetooth 5.0, suporte a monitor externo via USB-C;
  • Bateria: 5.500 mAh;
  • Portas: USB 2.0 Type-C e P2 para fone de ouvido;
  • Sistema operacional: Android 13;
  • Dimensões: 22,3 x 9 x 1,5 cm;
  • Peso: 330 g;
  • Cor: Preto ou Azul Transparente.

Pontos fortes:

  • Bela tela AMOLED;
  • Ótimo desempenho no que interessa, games;
  • Design ergonômico e confortável;
  • Android garante flexibilidade.

Pontos fracos:

  • Analógicos são bem ruinzinhos;
  • Keymapper nativo só funciona com sistema em inglês;
  • Front-end de fábrica bem limitado;
  • Carregamento da bateria podia ser mais rápido.

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