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Okami: uma obra de arte (que poderia ter sido melhor)

Ao relembrar a criação de Okami, Hideki Kamiya diz que desenvolvimento deixou a desejar e afirma que o jogo poderia ter sido muito melhor

11 semanas atrás

Sempre que o assunto é a disseminação cultural proporcionada pelos videogames, um dos primeiros títulos que me vem à cabeça é o Okami. Inspirado no folclore japonês, aquela criação do Clover Studio nos colocava na pele de Amaterasu, a deusa shinto do sol, e se tornou um dos meus jogos preferidos do PlayStation 2. Porém, mesmo com toda a qualidade que nos foi entregue, o seu diretor acredita que a obra ficou aquém do que deveria.

Okami HD

Crédito: Divulgação/Clover Studio/Capcom

A declaração dura e um tanto surpreendente foi feita por Hideki Kamiya durante uma conversa com Ikumi Nakamura, artista que trabalhou no desenvolvimento do Okami e com o diretor na Tango Gameworks. Atualmente no estúdio Unseen, ela mantém um canal no YouTube onde convida outros profissionais da área para falarem sobre a indústria e com Kamiya, boa parte da conversa foi sobre o jogo em que controlamos a deusa em forma de lobo.

Segundo o diretor, quando o desenvolvimento do Okami começou ele estava impressionado com o remake do Resident Evil para o GameCube e o seu nível de realismo. A ideia então passou a ser usar aquele estilo em um jogo com temática mais leve que um de terror, mas conseguir um bom desempenho no atual console da Sony seria um problema.

Então, quando o designer de personagens Kenichiro Yoshimura desenhou a protagonista usando um pincel, o estilo conquistou a equipe e uma mudança de rumo foi implementada. Aquilo inclusive influenciou a própria jogabilidade, com o pincel mágico se tornando a principal ferramenta do título.

Okami HD

Crédito: Divulgação/Clover Studio/Capcom

Contudo, por mais que o jogo tenha sido aclamado pela crítica, Kamiya lamentou a falta de tempo para entregar uma história maior e um produto mais bem-acabado. “O Okami deveria ter sido o título carro-chefe do Clover Studio,” afirmou. “Por isso queríamos criar um time dos sonhos. Era para ter sido um time dos sonhos com todos os melhores funcionários de cada seção. Esse era o plano, mas no fim, não todos, mas como uma equipe, francamente acho que foi fraco.”

Tal comentário surgiu após Nakamura lembrar uma festa realizada perto do fim do desenvolvimento, quando o diretor disse para os presentes que aquela “equipe era a pior!”. Mesmo hoje achando que não deveria ter dito aquilo, ele reafirmou a opinião.

“Aquele não era um time dos sonhos,” declarou. “Havia um contraste muito drástico nele. Certamente havia pessoas sem as quais não existiria Okami. Aqueles membros brilharam intensamente. Alguns deles realmente brilharam mais forte que aqueles com quem trabalhei anteriormente. Não estou dizendo isso como bajulação, mas você [Nakamura] certamente brilhou. Naoki Katakai e Keniichirou Yoshimura, Sawaki Takeyasu, Mari Shimazaki, Hiroshi Yamaguchi... Eu realmente sou grato, mas olhando como um todo, não foi um time dos sonhos.”

Crédito: Divulgação/Clover Studio/Capcom

Para Kamiya, o problema estava na falta de paixão que alguns membros da equipe tinham pelo projeto, ao contrário do que ele viu enquanto criava o Viewtiful Joe ou o Devil May Cry, onde o nível de dedicação era uniformemente alto. “Todos os usuários que jogaram e gostaram do Okami, tenho certeza que pensam que ele foi feito por uma ótima equipe, mas esse não foi o caso,” garantiu.

O game designer ainda jogou uma dúvida sobre a qualidade do jogo, dizendo que “se o entusiasmo tivesse sido um pouco maior, o Okami teria sido ainda melhor.” Ele então revelou ficar dividido sobre quem diz que o jogo é maravilhoso e reforçou que poderiam ter feito mais.

Mas independentemente de em qual lado você se coloca nesse debate, Hideki Kamiya disse que comercialmente aquele projeto foi um fiasco. Inicialmente foram enviadas apenas 90 mil cópias às lojas e segundo ele, se o título tivesse sido bem-sucedido, o Clover Studio ainda poderia estar por aí. Porém, a realidade é que a desenvolvedora fechou as portas em março de 2007, apenas 11 meses após o lançamento do Okami.

Se um melhor desempenho daquele jogo poderia ter salvado o estúdio, provavelmente nunca saberemos, mas o fato é que a saída de Shinji Mikami, Hideki Kamiya e Atsushi Inaba influenciou diretamente no fim da empresa. O trio preferiu seguir seu próprio caminho longe da desenvolvedora que pertencia à Capcom, primeiro fundando a Seeds Inc e depois se juntando à ODD, o que deu origem à PlatinumGames.

Crédito: Divulgação/Clover Studio/Capcom

Quanto ao Okami, o seu desempenho comercial realmente passou longe de poder ser considerado um sucesso. Nos Estados Unidos a versão para PlayStation 2 vendeu 200 mil cópias no primeiro ano, já aquela para Wii, lançada em 2008, vendeu 280 mil cópias. Assim, com menos de 600 mil cópias vendidas até março de 2009, no ano seguinte ele entrou para o Livro dos Recordes como o vencedor de melhor jogo do ano que menos sucesso fez comercialmente.

Mesmo assim, em 2012 a criação de Kamiya recebeu uma remasterização e com ela as vendas aumentaram consideravelmente. Segundo um relatório divulgado pela Capcom em meados de 2023, a franquia havia alcançado a marca de 4 milhões de cópias e hoje o Okami HD pode ser aproveitado no PC, PlayStation 3, PlayStation 4 e 5, Xbox One e Series S\X, e Nintendo Switch.

Perto de outros gigantes da Capcom, esses números podem parecer modestos e apesar das críticas feitas pelo seu criador, sempre recordarei dos momentos fantásticos que vivi ao lado da deusa Amaterasu.

Fonte: Eurogamer

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