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Aconcagua: o jogo que a Sony esqueceu, mas os fãs não

Mais de duas décadas após o lançamento do Aconcagua, um tradutor lançou uma localização para o interessante adventure exclusivo para o primeiro PlayStation

2 anos atrás

A Sony sempre se orgulhou dos jogos exclusivos lançados para os seus consoles, usando-os como um dos principais diferenciais em relação à concorrência. Porém, isso não impediu que um título ficasse esquecido no passado, sem que ele tivesse um relançamento, uma continuação ou mesmo uma localização para o ocidente. Felizmente, um fã estava disposto a salvar aquele jogo, que talvez você conheça como Aconcagua.

Aconcagua

Crédito: Divulgação/Hilltop

Desenvolvido pela Sony Computer Entertainment e lançado para o primeiro PlayStation no ano 2000, Aconcagua pode ser descrito como um adventure de sobrevivência com uma premissa bastante interessante. Nele conheceremos um país chamado Meruza, inspirado na província de Mendoza, na Argentina, e que se encontra sob um duro controle ditatorial. Insatisfeito com a situação, o povo se organiza para derrubar o governo, dando início a diversos conflitos.

Com o dia independência se aproximando, o jornalista japonês Kato está indo para a região cobrir o evento e no mesmo avião se encontra Pachamama, uma ativista filha do primeiro presidente de Meruza e que defende a separação. Controlando todos os passos da manifestante, terroristas enxergam uma boa oportunidade na viagem para acabar com a líder do movimento e após eles detonarem uma bomba, a aeronave cai na montanha que dá nome ao jogo.

Ao se recuperarem do desastre e se darem conta do ocorrido, Kato e Pachamama descobrem que apenas cinco pessoas sobreviveram e começam a se organizar para buscar ajuda, tentando encontrar uma maneira segura de fugir daquele inferno. Com uma jogabilidade que se aproximava do estilo point and click, o grupo ainda terá que lidar com os terroristas que os estão perseguindo, resolver quebra-cabeças disfarçados de problemas e utilizar os itens que resistiram a queda.

Crédito: Divulgação/Hilltop

Porém, mesmo com essa proposta bastante diferente de outros jogos, da inclusão de cerca de 80 minutos de cenas não-interativas e dos múltiplos finais que poderiam ser alcançados conforme as nossas decisões, Aconcagua nunca se tornou um sucesso comercial. O jogo até chegou a receber uma nota 29/40 na revista Famitsu, mas com o PlayStation 2 estando prestes a chegar às lojas, a Sony desistiu de trazer o jogo para o ocidente, mesmo com ele já contando com dublagens em inglês.

Eis que 22 anos após o lançamento, quando ninguém lembrava mais daquele jogo, um sujeito que tem feito seu nome traduzindo jogos do PlayStation surge como uma localização para o Aconcagua. Sendo também o responsável pela tradução do Racing Lagoon, o canadense Hilltop classificou a nova façanha como “uma montanha-russa de obscuros obstáculos técnicos e soluções inteligentes.”

Por se tratar de um trabalho realizado por um fã, é preciso aplicar o patch de tradução em uma ISO do jogo. Os interessados poderão encontrar os arquivos na página do tradutor no Patreon, onde ele pede contribuições para continuar “trazendo” outros títulos para o público ocidental.

Iniciativas como essas servem para nos mostrar como ainda existem vários títulos escondidos devido à falta de localização. Confesso que nunca tinha ouvido falar no Aconcagua e mesmo com o jogo mostrando sinais da idade, chamou minha atenção o cuidado com as cenas não-interativas e o bom sincronismo labial dos personagens, algo que ainda hoje é difícil de ser aplicado.

Outro bom exemplo de como a biblioteca japonesa do PlayStation conta algumas pérolas esquecidas é o Mizzurna Falls. Graças a dedicação de pessoas que se dispuseram a localizá-lo para inglês, só recentemente pude conhecer esse título que a Human Entertainment lançou lá em 1998.

Considerado um dos primeiros jogos de mundo aberto, nele iremos à fictícia cidade de Mizzurna Falls, no Colorado, onde teremos que investigar o misterioso desaparecimento de uma colega da escola. Nos dando apenas sete dias para concluir a tarefa, no jogo teremos que conversar com moradores e devido ao tempo limitado, será não conseguiremos vivenciar todos os eventos da cidade em apenas uma partida.

Mesmo com uma jogabilidade um tanto travada — no melhor estilo Resident Evil — ou gráficos que evidenciam as limitações do console, ele impressionava por contar com um sistema climático dinâmico e personagens com rotinas diárias. O protagonista ainda podia usar um celular para falar com outras pessoas ou ligar para estabelecimentos e até mesmo o Fusca que ele dirigia precisava ser abastecido.

Infelizmente, nada disso foi suficiente para garantir um lançamento ocidental do Mizzurna Falls e uma localização só começou a ganhar vida em 2017, quando uma tradutora profissional conhecida como Resident Evie lançou o roteiro do jogo em inglês. Dois anos depois foi a vez de vermos o lançamento de um patch incompleto e a situação só melhoraria em 2021, quando outro tradutor decidiu terminar o trabalho e assim disponibilizou uma versão melhor da tradução.

“A Evie lançou o seu roteiro traduzido na esperança de que outro grupo de hackers pudesse um dia usá-lo para desenvolver um patch que funcionasse,” diz um arquivo distribuído com a tradução. “Esse projeto faz exatamente isso, usando o roteiro da Evie como base. Nikita, um desenvolvedor mobile profissional e Cirosan, um tradutor profissional e editor de localização, colaboraram ao longo de vários meses para finalmente desenvolverem um patch de tradução que funcione para o Mizzurna Falls.”

No caso deste projeto, além de implementar a tradução, as pessoas envolvidas ainda tiveram que desenvolver um sistema de compreensão de dados para garantir que o enorme roteiro coubesse em apenas um disco, como no original em japonês. Tudo isso apenas pelo prazer de levar o jogo a um público maior, um trabalho digno de todos os elogios e que mais uma vez salvou um jogo do quase total esquecimento.

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