Meio Bit » Arquivo » Demais assuntos » Yes, Tentáculos! (for the science!)

Yes, Tentáculos! (for the science!)

13 anos atrás

Nas histórias do Homem-Aranha muitas vezes os tentáculos do Dr Octopus são mostrados como tendo vontade própria. Não é claro se é um efeito do subconsciente do atormentado cientista de cabelo-de-cuia ou se é a Inteligência Artificial dos próprios tentáculos, que evoluiu. O ponto é que sem-querer os roteiristas acertaram. Há boas evidências que os tentáculos de um polvo são bem mais que simples membros.

Não estão falando de reflexos involuntários, o comportamento estudado é bem mais complexo e sutil. Com 500 milhões de neurônios os tentáculos são mais complexos que o cérebro da maioria dos seres marinhos e comentaristas do YouTube.  Eles não só respondem a comandos do cérebro do polvo (o invertebrado mais inteligente) como tomam decisões próprias.

Em um dos experimentos um polvo é colocado em um aquário novo com comida. Enquanto parte dos tentáculos busca refúgio para se proteger do um ambiente estranho, os tentáculos mais próximos do alimento tentam alcançá-lo. É como se uma parte mais primitiva desconsiderasse o perigo, priorizando a comida.

Sem cair para a baixaria, é o mesmo resultado de quando o sujeito “pensa com o bilau”, um instinto reprodutivo básico se sobrepõe a um conjunto de convenções sociais. Ele dá em cima da cunhada, o barraco está armado por causa da barraca armada e no final a justificativa: “eu não estava pensando”.

Com o polvo é a mesma coisa, só que o bilau realmente tem neurônios e vontade própria.

Um polvo aprendendo a abrir uma garrafa. Apenas isso.

Os pesquisadores estão entusiasmados com essa possibilidade, é um tipo de inteligência alienígena para humanos e vertebrados em geral. Todo nosso processamento é concentrado no cérebro, toda a estrutura neurológica externa ou é sensorial ou autônoma no nível mais baixo. Membros com vontade própria constituem casos raros, como a Síndrome da Mão Alheia, mas mesmo esses são distúrbios do cérebro, a mão, assim como para Luke Skywalker é apenas um acessório.

Os polvos seriam criaturas com um cérebro principal e oito acessórios, uma espécie de inteligência coletiva como descrita tantas vezes na Ficção Científica. É uma percepção tão estranha que nem atores de teatro amador, acostumados a ser uma árvore conseguem imaginar.

Segundo a app Timetree (já resenha aqui) o último ancestral comum entre polvos e humanos viveu 981.2 milhões de anos atrás. Somos muito mais próximos de um Paulistinha (o peixe), com ancestral comum 454.9 milhões de anos no passado.

R: Evolução

Apesar do que diz o senso comum, Evolução NÃO valoriza especialmente inteligência,  mas adaptabilidade ao meio. Se você vai resolver isso com um polegar opositor ou um casco impenetrável, não importa. No caso dos polvos a Evolução trouxe algo novo: redundância e processamento distribuído. Separando a inteligência em vários pontos ele se torna menos suscetível a danos E pode exercer mais tarefas complexas, sem aumentar o tamanho do cérebro principal, já frágil e desprotegido demais.

Imagine um descendente distante dos polvos, com uma inteligência equivalente a um humano. Será uma espécie fascinante, nove personalidades em uma só. A esquizofrenia desses seres seria uma doença descrita como “síndrome de personalidade única”, eles considerariam alienígena e estranho um cérebro existindo sem contestação.

Indo além dá pra imaginar como seria a tomada de decisões. O cérebro principal controlaria? Tudo seria na base da votação? Os cérebros se especializariam, como nossos hemisférios, tendo cérebros totalmente racionais, cérebros emocionais, cérebros impulsivos e instintivos?

O mais assustador é que essas especulações não são só ficção científica. Há um caso onde isso acontece, aqui e agora. Falo das gêmeas siamesas Tatiana e Krista Hogan. Contrariando as probabilidades elas sobreviveram à gestação e ao parto, nascendo profundamente unidas pelo cérebro.

Na maioria dos casos semelhantes há integração de tecido vascular mas o tecido nervoso embora cresça junto está isolado. No caso delas os cérebros compartilham conexão.

Como resultado elas compartilham informação sensorial, já foi testemunhado uma esticar a mão para pegar um objeto fora de seu campo de visão, mas visto pela outra. Mais fascinante ainda: Elas aparentemente compartilham pensamentos. De vez em quando estão em silêncio quando uma dá um tapa na outra dizendo “pare com isso”.

Os cientistas acompanhando o caso estão fazendo de tudo para que as meninas tenham uma vida longa, pois é a primeira oportunidade de estudar esse tipo de fenômeno. Até então união e leitura de mentes estava limitada ao Elo Mental Vulcano e paranormais charlatões (perdão pela redundância).

Fonte: Harvard Gazette

Leia mais sobre: , , .

relacionados


Comentários